Folha de S. Paulo
Parceria segue invicta, enquanto a seleção e o país continuam a tomar de lavada
A notícia é que a CBF e a Nike
devem lançar uma camisa
vermelha para a seleção. A cor divide mesas de bar, famílias e timelines desde
que virou sinônimo de comunismo, feminismo, gayzismo e outras palavras que a
histeria aprendeu a gritar sem entender o que significa. Claro que causou
alvoroço. Os patriotas do amarelo se sentem traídos. Os progressistas da
Santa Cecília acham revolucionário. A CBF faz o que sabe: capitaliza.
O novo uniforme não é um gesto político, é uma planilha de Excel com costura. Não é homenagem aos povos indígenas ou qualquer outro banho de marketing com cara de conscientização social. Tampouco um manifesto contra o sequestro da identidade de um povo. A tonalidade é nova, o truque é velho: lança-se a polêmica, finge-se ousadia, alimenta-se a polarização —e assiste-se à mágica do engajamento virar lucro. De preferência, em três vezes sem juros.
Enquanto discutimos se na escala Pantone o
vermelho é marxista-leninista, esquecemos da verdadeira aberração: a própria
CBF. Uma entidade opaca, elitista, afundada em corrupção, comandada por
cartolas que tratam o futebol como
sua mina de ouro privada e o torcedor como um Pix ambulante. Pouco importa a
cor da camisa —eles querem que você compre. De preferência, todas.
A confederação não tem problema em rasgar o
próprio estatuto que define as regras para sua comunicação visual. Tem problema
com transparência, com ética, com a ideia de que futebol é um patrimônio
cultural dos brasileiros e não mercadoria premium para benefício de poucos. A
camisa poderia ser lilás com bolinhas douradas; sem sair dessa estrutura
viciada, continuará sendo oportunismo costurado com linha de cinismo.
A polêmica não está na cor, mas no
oportunismo. A CBF vende neutralidade estilizada enquanto se esconde atrás dos
nossos símbolos e manipula nossas paixões. Discutimos a paleta cromática como
se dela dependesse o futuro da democracia. E nesse jogo sujo a parceria CBF e
Nike segue invicta, enquanto a seleção e o país continuam a tomar de lavada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário