Há pouco tempo, um deputado do partido
conservador União Brasil, que tem três ministros no atual governo, esnobou o
presidente da República, recusando um ministério, o das Comunicações, e isso
logo após ter se comprometido em assumi-lo. Decisão mais simbólica do que essa,
impossível. Como se dizia antigamente, ele chutou o pau da barraca e foi cuidar
da vida. Sintoma de que alguma coisa não vai bem, para dizer o mínimo.
O Campo Democrático precisa se unir em torno
de um projeto de nação. Ainda há tempo. E, sobretudo, este campo não deve ceder
à visão um tanto quanto rasa de que, sem Lula da Silva, mergulharemos nas
trevas. Ao contrário: estaremos palmilhando o caminho das trevas se
continuarmos nessa toada, nesse descalabro administrativo e nessa falta de
rumos. Não é verdade que a alternativa ao lulismo seja a extrema direita ou o
golpismo. Não é oito ou oitenta. O Brasil é maior do que isso. O país tem
instituições funcionando. E as Forças Armadas simplesmente não estão dispostas
a nenhuma aventura mais. Provaram isso quando se recusaram a aderir à baderna
do dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
Tudo indica que Jair Bolsonaro não será
candidato. No momento, não creio que a extrema direita tenha condições de
lançar outro nome eleitoralmente viável. Também não há certeza se Lula da
Silva sairá candidato. Muita água vai rolar ainda por debaixo da ponte. O
mais provável, contudo, é que, na ausência de um Campo Democrático
forte, talvez desponte na cena político-eleitoral um conservadorismo
democrático (sim, existe), como opção tanto ao bolsonarismo quanto ao petismo.
Difícil citar nomes, vai depender dos vaivéns da política, mas espaço político
há.
Seja como for, o momento pede a união de
todos os democratas em torno de um projeto de nação. Isso já aconteceu em 1955
(JK-Jango, Plano de Metas), em 1961 (na Campanha da legalidade, garantindo a
posse de Jango Goulart, que propôs as chamadas Reformas de Base), em 1984-5
(com a Frente formada em torno de Tancredo Neves) e em 1992-1994 (com a posse
de Itamar e a apresentação do seu Plano Real).
Aqueles que se identificam com esses períodos da vida brasileira precisam começar a agir. Há espaço para novas alianças e novos nomes no Campo Democrático.
*Ivan Alves Filho, historiador.
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