Folha de S. Paulo
Desfeitas de presidente americano ao Canadá
revertem desvantagem do Partido Liberal, que conquista seu quarto mandato
Donald Trump queria
transformar o Canadá no
51° estado americano, mas o
que conseguiu foi dar sobrevida ao Partido Liberal (PLC) daquele país,
que, até a chegada do agente laranja ao poder, parecia fadado a uma derrota
eleitoral histórica.
Nas pesquisas de janeiro deste ano, os conservadores abriam mais de 20 pontos percentuais de vantagem sobre os liberais. É verdade que muito da impopularidade se devia ao desgaste pessoal do então premiê Justin Trudeau, que sofria da fadiga de material de quase dez anos no poder.
Trudeau foi substituído por Mark
Carney, mas isso não parecia suficiente para tirar o PLC da rota de
desastre. Trump se encarregou de mudar o quadro. As ações e declarações do
presidente americano mexeram de tal forma com as cabeças dos canadenses que o
PLC conseguiu reverter sua desvantagem e triunfar nas eleições parlamentares
desta segunda (29). Tudo o que Carney teve de fazer foi posar de anti-Trump e
deixar que os votos chegassem.
No momento em que escrevo ainda não estava
claro se os liberais conseguiram maioria para governar sozinhos ou se
precisariam formar uma coalizão com partidos menores, como é o mais frequente
por lá.
Como tempero extra, o líder conservador, Pierre
Poilievre, que em alguns momentos foi descrito como o "Trump
canadense", não conseguiu se reeleger para o Parlamento, perdendo a
cadeira que ocupava havia 20 anos.
Um pouco mais ao sul, nos EUA, a rejeição a
Trump não é tão avassaladora, mas está crescendo. As pesquisas que marcam os
cem dias no poder mostram uma nítida
erosão da popularidade do presidente —e isso antes de a inflação das
tarifas impactar com força sobre os preços ao consumidor.
Só que os EUA, diferentemente do Canadá, são
uma República presidencialista. E uma na qual o impeachment é quase uma
impossibilidade política. Sem o botão de pânico propiciado pelo
parlamentarismo, os americanos terão de arcar por quatro anos com as consequências
de sua escolha eleitoral. Ruim para o mundo, mas ainda pior para os EUA.
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