Valor Econômico
Economia com pente-fino em benefícios sociais deve ficar abaixo do que governo esperava
Deverá ficar aquém do esperado o pente-fino
em benefícios sociais, com o qual se pretendia economizar R$ 25,9 bilhões neste
ano. O governo cortou em 65% a estimativa de redução em despesas no Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), de R$ 7,2 bilhões para R$ 2,5 bilhões. Também
está abaixo do esperado a cessação de Benefícios de Prestação Continuada (BPC)
pagos irregularmente.
Os dados foram divulgados na semana passada, quando foi enviado ao Congresso Nacional o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026. Demonstra a dificuldade do governo em reduzir despesas, mesmo quando se trata de cortar despesas indevidas.
Um dos anexos do PLDO, o de metas fiscais,
justifica a frustração com o INSS. Explica que a implementação do Atestmed, que
permite a concessão de benefícios por incapacidade temporária a partir de
análise documental, atrasou. Com isso, foi adiada também parte da economia que
se pretendia obter ao pagar mais rapidamente aos que têm direito ao benefício,
evitando o acúmulo de parcelas atrasadas.
No mesmo documento, o Ministério da
Previdência alega que, para atingir os objetivos da revisão, seriam necessários
“investimentos em solução sistêmica e tecnológica fornecida pela Dataprev ” e
“ampliação da capacidade operacional do INSS mediante o aumento do quadro de
pessoal”, o que não ocorreu “conforme inicialmente previsto”.
O uso do Atestmed proporcionará R$ 2,4
bilhões em economia este ano, ante R$ 6,2 bilhões previstos anteriormente. Com
combate a fraudes, o ministério espera economizar R$ 100 milhões (eram R$ 900
milhões). Com cobrança de benefícios pagos irregularmente, zero (eram R$ 150
milhões).
Na conta dos R$ 25,9 bilhões do pente-fino,
havia economia de R$ 6,4 bilhões com o BPC. No entanto, o PLDO 2026 fala em R$
2,7 bilhões.
Questionado, o Ministério do Planejamento
explica que a cifra maior se refere a um conjunto mais amplo de iniciativas
para redução de despesas do programa. O valor menor diz respeito apenas à
revisão bienal, na qual será analisado se o beneficiário se enquadra nos
critérios do programa. Por exemplo, a renda familiar per capita não pode ser
maior do que um quarto de salário mínimo.
No ano passado, informa a pasta,
acreditava-se que seria possível parar de forma definitiva o pagamento de
19,65% dos benefícios do BPC. “Entretanto, as ações de revisão cadastral e de
superação da renda resultaram em um percentual menor de cessação do que os
anteriormente previstos”, diz. “Com isso, o percentual médio de benefícios
cessados apresentado pelo órgão foi alterado para 9,48%.”
Apesar dos resultados até agora modestos, a
revisão de gastos é apontada pelo governo como uma das ferramentas cujo uso
deve ser intensificado para alcançar as metas fiscais ambiciosas propostas no
PLDO 2026: superávits de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026, de 0,5%
do PIB em 2027, de 1% do PIB em 2028 e de 1,25% do PIB em 2029. A outra aposta
é elevar as receitas sem recorrer a aumento de impostos, e sim cobrando com
mais efetividade o que é devido pelos contribuintes.
É pouco, diante do que está colocado no
horizonte. Os números do PLDO dão carne e osso ao que disse em março a ministra
do Planejamento, Simone Tebet: sem medidas adicionais, será impossível ao
próximo presidente governar com o atual arcabouço fiscal.
O que determina a inviabilidade é a conta de
precatórios a serem pagos pela União. Hoje, parte dela fica fora das regras
fiscais. Isso, porém, só vale até o fim de 2026.
A partir de 2027, se os precatórios forem
integralmente contados como despesa primária, o quadro é de paralisia da
máquina pública. Não haverá dinheiro para cumprir os gastos mínimos que a
Constituição estabelece para as áreas de saúde e educação. A insuficiência é
calculada em R$ 10,9 bilhões. O quadro se agrava nos anos seguintes.
Olhando mais à frente, em 2029 faltarão R$
52,8 bilhões para pagar a conta de emendas parlamentares ao Orçamento,
projetada em R$ 61,7 bilhões.
São situações insustentáveis, mostram os
números. Integrantes da equipe econômica não descartam a alternativa de pedir
ao Supremo Tribunal Federal (STF) mais tempo antes de incluir totalmente os
precatórios nas regras fiscais.
Alternativas técnicas foram discutidas no
final de 2023. Na época, a Fazenda propôs separar a despesa de precatórios em
duas: uma parte principal, que passaria a ser contada como despesa primária, e
a parte financeira, que por sua natureza ficaria fora das regras fiscais. A
ideia não teve apoio do Planejamento, que defendia contabilizar toda a conta no
resultado primário, mas fora do limite de despesas do arcabouço. Do
ex-secretário do Tesouro Jeferson Bittencourt veio ainda outra sugestão:
ajustar o limite de despesa do arcabouço para acomodar os precatórios sem levar
o orçamento ao colapso.
Outra forma de dar fôlego ao Orçamento seria reduzir o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias. Esse foi o debate do fim do ano passado que, como se viu, produziu medidas aquém do necessário. Como mostramos nesse espaço, a equipe econômica não vê, no momento, condições políticas para retomar essas discussões.
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