O Globo
Partido é agrupamento de políticos com
objetivos pessoais a serviço de projeto empresarial de seus dirigentes
Se um partido sintetiza todos os vícios que
explicam a disfuncionalidade da política brasileira hoje, ele atende pelo tão
cínico quanto eloquente nome de União Brasil. Formado pela junção de siglas que
não tinham nada a ver uma com a outra — o PSL que havia crescido com a vinda de
Jair Bolsonaro e o DEM, por sua vez ex-PFL — com o único propósito de
concentrar fundos partidário e eleitoral, é um agrupamento de políticos com
objetivos pessoais específicos, a serviço de um projeto empresarial de seus
dirigentes.
Por isso mesmo, é sinal inequívoco da perda de capacidade de liderança de Lula levar um “não” de um deputado jovem e desconhecido de um estado fora do eixo de poder, convidado sem ter currículo algum para comandar um ministério antes relevante, mas nos últimos anos entregue ao fisiologismo sem disfarces. Qualquer leitor do GLOBO que for colocado diante de uma fileira de cinco fotografias de homens jovens de barba e terno com certeza terá dificuldade de apontar entre eles o deputado Pedro Lucas (MA), que atualmente exerce a função de líder do União.
Com exceção, talvez, dos jornalistas que
cobrem o dia a dia da Câmara, nem colunistas de política talvez passassem no
teste do “carômetro” para reconhecer o candidato a ministro que resolveu
esnobar um convite para ser ministro de Estado. Esta colunista teve de recorrer
ao Google.
Pedro Lucas Fernandes está em segundo mandato
e é, como muitos parlamentares, herdeiro de um clã político local. Antes de
chegar à Câmara, seu currículo só inclui ter sido vereador. Não tem experiência
profissional no setor de comunicações, estratégico para qualquer país no século
XXI. Ainda assim, foi confirmado com certa pompa pela recém-designada ministra
da articulação política, Gleisi Hoffmann, para o lugar do conterrâneo e
companheiro de partido Juscelino Filho, cuja passagem pela pasta se notabilizou
apenas pelos escândalos, e não por nenhuma realização que se possa louvar.
Ainda assim, Pedro Lucas fez os cálculos e
entendeu que, para sua reeleição, objetivo final e único de toda a atual safra
de representantes — uma das mais fracas do ponto de vista da formulação de que
se tem notícia desde a redemocratização —, era melhor não ser ministro!
A esnobada é um constrangimento inédito para
quem, nos primeiros mandatos, e mesmo nas vésperas da terceira posse, em 2023,
tinha de administrar uma fila de políticos disputando espaço no primeiro
escalão — mas que, diga-se, nunca se notabilizou pelo zelo em designar para
alguns desses postos os nomes mais credenciados para desenvolver políticas
públicas de interesse do país.
Os governos Lula 1 e 2 tinham, ao lado de
expoentes gabaritados que apresentaram bons resultados em pastas-chave,
companheiros do petista derrotados nas urnas em outras áreas. Agora, além dos
amigos resgatados, como Luiz Marinho, Lula abriu espaço para apaniguados de
pessoas com quem ele nunca teve nenhuma proximidade, como o presidente do
Senado, Davi Alcolumbre, que pendurou um monte de gente no governo sem que até
hoje tenham mostrado ao que vieram.
Pior: não só nomes como Waldez Góes têm um
portfólio de realizações mínimo, como sua permanência na Esplanada nunca, em
momento algum, assegurou a Lula o apoio do híbrido União (sic) Brasil. Esse é o
caso mais esdrúxulo, uma vez que é um partido enrolado em operações da Polícia
Federal em série, com direito a pré-candidato a presidente contra o mesmo Lula
que paga o salário dos ministros e as emendas dos parlamentares. A situação
anômala não é exclusividade dessa sigla, é o estado geral da representação partidária
brasileira.
O partido fica ali, com um pé na canoa do
petista (vai que ele recupera a popularidade e vira uma pule com chance na
eleição do ano que vem) e o outro na porta de saída, à espera de um barco com
mais tração para navegar em 2026. Um escárnio contra o qual um governo fraco
não pode fazer nada, nem se dar ao luxo de se rebelar e mandar todo mundo
embora.
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