O Globo
Dilma, Temer e Lula buscaram se aproximar de
pontífice; capitão preferiu tratá-lo como inimigo
No avião a caminho do Rio, Francisco brincou:
“O Papa é argentino, mas Deus é brasileiro”. Era julho de 2013, e o pontífice
fazia sua primeira viagem internacional no comando da Igreja.
Francisco dedicou atenção especial ao país
com a maior população católica do mundo. Os políticos brasileiros aproveitaram
para cortejá-lo — com raras exceções.
Presidente na época do último conclave, Dilma
Rousseff foi ao Vaticano para a missa inaugural do Papa. No dia seguinte, os
dois conversaram por cerca de meia hora. “Ele fala em portunhol igual à gente”,
comentou a petista, na saída da audiência. “É um Papa muito normal, viu?”,
surpreendeu-se.
Michel Temer esteve com Francisco duas vezes, ambas como vice-presidente. Na primeira, representou o governo ao fim do encontro de jovens no Rio. “Eu estava inspirado no meu discurso. Disse que o Papa era argentino, mas a partir daquele momento residia no coração dos brasileiros”, recorda.
Francisco não voltou ao Brasil após o
impeachment de Dilma. Temer tentou trazê-lo em 2017, mas o Papa recusou o
convite. Em carta, fez referência à crise que o país atravessava e disse que
não tinha “receita para resolver algo tão complexo”. Ontem o ex-presidente me
disse não se lembrar do episódio.
A relação de Lula com Francisco começou com
um ruído. O petista estava preso em Curitiba, e sua assessoria disse que ele
havia recebido um terço enviado pelo Papa. O Vaticano desmentiu a informação. O
objeto tinha sido abençoado pelo pontífice, mas não era um presente dele.
Depois disso, os dois construíram uma relação
amistosa em torno de interesses comuns, como o combate à fome. Em 2023,
Francisco disse que o presidente havia sido condenado sem provas. Ao saber de
sua morte, Lula decretou luto oficial de sete dias no país.
Dos últimos quatro presidentes, Jair
Bolsonaro foi o único a não se encontrar com Francisco. Chegou a criticá-lo
após o Papa defender a proteção da Amazônia. O pontífice enviou mensagem de
pêsames quando a mãe do capitão morreu, mas continuou a ser tratado como
inimigo.
Na noite de segunda, Bolsonaro foi instado a se manifestar sobre a morte de Francisco. “Eu lamento a morte, como lamento a morte de qualquer pessoa... qualquer pessoa não, né?”, respondeu, com um sorriso no rosto.
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