Lauro Lisboa Garcia
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / CADERNO 2
Seus maiores sucessos foram canções libertárias da década de 1970, que viraram verdadeiros hinos latino-americanos
Mercedes Sosa notabilizou-se, sobretudo na década de 1970, pelas atitudes humanistas, condizentes com o conteúdo social e político das canções libertárias, ora ternas, ora indignadas, que interpretava, como La Carta (Violeta Parra), Cuando Tenga a la Tierra (Daniel Toro/Ariel Petrocelli), Canción para mi América (Daniel Viglietti), Canción con Todos (A.Tejada Gómez/C.Isella), Si se Calla el Cantor (Horácio Guarany) e Plegaria a un Labrador (Victor Jara).
O evento que revelou sua estupenda voz em escala nacional na Argentina foi a participação no Festival Nacional de Folklore de Cosquín, de 1965. No mesmo ano, Mercedes lançou o álbum Canciones con Fundamento, de título tão sugestivo quanto o de seus sucessores, Yo no Canto por Cantar e Hermano, Para Cantarle a mi Gente e Traigo un Pueblo em Mi Voz.
Em mais de 40 álbuns, compactos e participações em discos alheios, ela gravou os mais importantes compositores argentinos, como Ariel Ramirez, Atahualpa Yupanqui, Horacio Guarany, César Isella, María Elena Walsh, León Gieco, Víctor Heredia e Gustavo Leguizamón. Dedicou quatro discos inteiros a Ramirez em parceria com o poeta Félix Luna (Mujeres Argentinas, Cantata Sudamericana, Mujeres Argentinas, Navidad con Mercedes Sosa e Misa Criolla) e outro a Yupanqui.
A autora de Gracias a la Vida e Volver a los 17 também foi contemplada por ela com o antológico álbum Homenage a Violeta Parra (1971). A gravação de Alfonsina y el Mar (Ramirez/Luna) é um dos momentos mais sublimes de toda sua discografia, assim como Violín de Becho (Alfredo Zitarrosa), Como la Cigarra, Cantor de Ofício...
Um de seus melhores discos é o de 1976, que originalmente leva apenas seu nome, mas ficou também conhecido como La Mamancy (título da primeira faixa, assinada por Isella e Tejada Gómez) ou En Dirección del Viento. Com a voz tão impecável quanto o repertório e os arranjos, Mercedes registrou belíssimas canções dos compositores e poetas chilenos Victor Jara (Cuando Voy al Trabajo) e Pablo Neruda (Poema 15), dos argentinos Hamlet Lima Quintana e Tacúm Lazarte (Los Pueblos de Gesto Antiguo), María Elena Walsh (Las Estatuas) e Miguel A. Morelli (Cantor de Oficio), o cubano Ignacio Villa, o "Bola de Nieve" (Drume Negrita), entre outros.
Outro álbum marcante é Serenata para la Tierra de Uno, de 1979, que tem O Cio da Terra (Chico Buarque/Milton Nascimento) e Como la Cigarra (Walsh). "Tantas veces me mataron/ Tantas veces me morí/ Sin embargo estoy aquí resucitando./ Gracias doy a la desgracia/ Y a la mano con puñal,/ Porque me mató tan mal,/ Y seguí cantando./ Cantando al sol, como la cigarra,/ Después de un año bajo la tierra,/ Igual que sobreviviente/ Que vuelve de la guerra", diz a letra desta canção que sintetiza sua personalidade e tornou-se sua assinatura, sua identidade. Não foi à toa que causou grande emoção ao cantá-la no show que marcou a volta do exílio em 1982, lançado em álbum duplo naquele ano.
Mesmo sem a mesma repercussão dos tempos das canções de protesto, Mercedes não parou de cantar, fazendo shows e lançando regularmente bons CDs nos anos 1990. Em 1997 ficou seriamente doente, mas mesmo sofrendo de diabetese andando com dificuldade recusou-se a se aposentar. Em 2000 lançou um dos melhores trabalhos dos últimos anos, a obra-prima Misa Criolla/Navidad Nuestra, de Ariel Ramirez e Félix Luna, gravado em 1999.
Pouco tempo depois, aos 67 anos, em entrevista para a biografia de Braceli, definiu-se como "uma mulher que trata de aprender a viver e que estuda para aprender a cantar melhor". Uma lição e tanto para certas novatas brasileiras sem personalidade, que mal saem da casca e já se acham as tais.
Em 2005, lançou o bom CD Corazón Libre, pela gravadora alemã Deutche Grammophon. A maioria de seus principais álbuns da áurea década de 1970 nunca saiu em CD, nem mesmo na Argentina. Seu último trabalho discográfico foi Cantora, lançado em dois volumes neste 2009, com vários convidados, entre eles Caetano Veloso, o uruguaio Jorge Drexler, vários conterrâneos de velhos tempos e da cena atual - Victor Heredía, Charly Garcia, Fito Páez, Pedro Aznar, Vicentico, Gustavo Santaolalla - e o espanhol Juan Manuel Serrat e até Shakira e Daniela Mercury, entre outros. Mesmo sem o vigor e a exuberância do passado, a grande voz não se perdeu.
Discografia Selecionada
Canciones con Fundamento (1965)
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / CADERNO 2
Seus maiores sucessos foram canções libertárias da década de 1970, que viraram verdadeiros hinos latino-americanos
Mercedes Sosa notabilizou-se, sobretudo na década de 1970, pelas atitudes humanistas, condizentes com o conteúdo social e político das canções libertárias, ora ternas, ora indignadas, que interpretava, como La Carta (Violeta Parra), Cuando Tenga a la Tierra (Daniel Toro/Ariel Petrocelli), Canción para mi América (Daniel Viglietti), Canción con Todos (A.Tejada Gómez/C.Isella), Si se Calla el Cantor (Horácio Guarany) e Plegaria a un Labrador (Victor Jara).
O evento que revelou sua estupenda voz em escala nacional na Argentina foi a participação no Festival Nacional de Folklore de Cosquín, de 1965. No mesmo ano, Mercedes lançou o álbum Canciones con Fundamento, de título tão sugestivo quanto o de seus sucessores, Yo no Canto por Cantar e Hermano, Para Cantarle a mi Gente e Traigo un Pueblo em Mi Voz.
Em mais de 40 álbuns, compactos e participações em discos alheios, ela gravou os mais importantes compositores argentinos, como Ariel Ramirez, Atahualpa Yupanqui, Horacio Guarany, César Isella, María Elena Walsh, León Gieco, Víctor Heredia e Gustavo Leguizamón. Dedicou quatro discos inteiros a Ramirez em parceria com o poeta Félix Luna (Mujeres Argentinas, Cantata Sudamericana, Mujeres Argentinas, Navidad con Mercedes Sosa e Misa Criolla) e outro a Yupanqui.
A autora de Gracias a la Vida e Volver a los 17 também foi contemplada por ela com o antológico álbum Homenage a Violeta Parra (1971). A gravação de Alfonsina y el Mar (Ramirez/Luna) é um dos momentos mais sublimes de toda sua discografia, assim como Violín de Becho (Alfredo Zitarrosa), Como la Cigarra, Cantor de Ofício...
Um de seus melhores discos é o de 1976, que originalmente leva apenas seu nome, mas ficou também conhecido como La Mamancy (título da primeira faixa, assinada por Isella e Tejada Gómez) ou En Dirección del Viento. Com a voz tão impecável quanto o repertório e os arranjos, Mercedes registrou belíssimas canções dos compositores e poetas chilenos Victor Jara (Cuando Voy al Trabajo) e Pablo Neruda (Poema 15), dos argentinos Hamlet Lima Quintana e Tacúm Lazarte (Los Pueblos de Gesto Antiguo), María Elena Walsh (Las Estatuas) e Miguel A. Morelli (Cantor de Oficio), o cubano Ignacio Villa, o "Bola de Nieve" (Drume Negrita), entre outros.
Outro álbum marcante é Serenata para la Tierra de Uno, de 1979, que tem O Cio da Terra (Chico Buarque/Milton Nascimento) e Como la Cigarra (Walsh). "Tantas veces me mataron/ Tantas veces me morí/ Sin embargo estoy aquí resucitando./ Gracias doy a la desgracia/ Y a la mano con puñal,/ Porque me mató tan mal,/ Y seguí cantando./ Cantando al sol, como la cigarra,/ Después de un año bajo la tierra,/ Igual que sobreviviente/ Que vuelve de la guerra", diz a letra desta canção que sintetiza sua personalidade e tornou-se sua assinatura, sua identidade. Não foi à toa que causou grande emoção ao cantá-la no show que marcou a volta do exílio em 1982, lançado em álbum duplo naquele ano.
Mesmo sem a mesma repercussão dos tempos das canções de protesto, Mercedes não parou de cantar, fazendo shows e lançando regularmente bons CDs nos anos 1990. Em 1997 ficou seriamente doente, mas mesmo sofrendo de diabetese andando com dificuldade recusou-se a se aposentar. Em 2000 lançou um dos melhores trabalhos dos últimos anos, a obra-prima Misa Criolla/Navidad Nuestra, de Ariel Ramirez e Félix Luna, gravado em 1999.
Pouco tempo depois, aos 67 anos, em entrevista para a biografia de Braceli, definiu-se como "uma mulher que trata de aprender a viver e que estuda para aprender a cantar melhor". Uma lição e tanto para certas novatas brasileiras sem personalidade, que mal saem da casca e já se acham as tais.
Em 2005, lançou o bom CD Corazón Libre, pela gravadora alemã Deutche Grammophon. A maioria de seus principais álbuns da áurea década de 1970 nunca saiu em CD, nem mesmo na Argentina. Seu último trabalho discográfico foi Cantora, lançado em dois volumes neste 2009, com vários convidados, entre eles Caetano Veloso, o uruguaio Jorge Drexler, vários conterrâneos de velhos tempos e da cena atual - Victor Heredía, Charly Garcia, Fito Páez, Pedro Aznar, Vicentico, Gustavo Santaolalla - e o espanhol Juan Manuel Serrat e até Shakira e Daniela Mercury, entre outros. Mesmo sem o vigor e a exuberância do passado, a grande voz não se perdeu.
Discografia Selecionada
Canciones con Fundamento (1965)
Yo no Canto por Cantar (1966)
Hermano (1966)
Para Cantarle a Mi Gente (1967)
Con Sabor a Mercedes Sosa (1968)
Mujeres Argentinas (1969)
El Grito de la Tierra (1970)
Homenaje a Violeta Parra (1971)
Hasta la Victoria (1972)
Cantata Sudamericana (1972)
Traigo un Puebloen Mi Voz (1973)
A Que Florezca mi Pueblo (1975)
La Mamancy (1976)
Mercedes Sosa Interpreta a Atahualpa Yupanqui (1977)
Serenata para la Tierra de Uno (1979)
A Quien Doy (1980)
En Vivo en Argentina (1982)
Gente Humilde (1982)
Como un Pájaro Libre (1983)
En Vivo en Europa (1990)
Escondido en Mi País (1996)
Alta Fidelidad (1997)
Al Despertar (1998)
Misa Criolla (2000)
Acústico (2002)
Corazón Libre (2005)
Cantora, vols. 1 e 2 (2009)
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