Lauro Lisboa Garcia
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /CADERNO 2
Ela foi próxima de Milton Nascimento, Beth Carvalho, Fagner, Chico Buarque...
O auge da popularidade de Mercedes Sosa no Brasil foi nas décadas de 1970 e 1980, quando se tornou amiga de medalhões da MPB, que chamaram a atenção para a sua importância e para a beleza contundente de seu canto. Amiga de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Fagner, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Elis Regina e Beth Carvalho, Mercedes fez duetos em shows e gravações com vários deles. Numa de suas últimas vindas a São Paulo, em 2007, dividiu o palco com Maria Rita. Registrou em discos também canções de Vitor Ramil, Djavan, Marcos Valle e Kleiton Ramil.
Milton é o brasileiro mais presente no repertório da cantora, que também fez duetos históricos com ele em Volver a los 17 (Violeta Parra) e Sueño con Serpientes (do cubano Silvio Rodriguez). Em 1985, os dois dividiram o palco com o argentino León Gieco num grande show em Buenos Aires, que virou disco: Corazón Americano. Procurado pelo Estado, Milton, segundo sua empresária, não quis dar declarações por estar muito abalado com a morte da amiga.
Outros encontros marcantes de Mercedes com brasileiros foram com Beth Carvalho, em Solo le Pido a Diós (León Gieco) e com Fagner em Años (Pablo Milanés). Um compacto com O Cio da Terra (Chico Buarque/Milton Nascimento) e San Vicente (Milton/Fernando Brant) é outro registro que merece destaque.
"Éramos bastante amigas desde que vi um show dela no Scala, no Rio. Depois convidei-a para gravar em 1986. Foi uma gravação muito feliz, muito bonita", lembra Beth Carvalho. Depois ela me convidou para fazer um espetáculo no Luna Park, em Buenos Aires, chamado Sin Fronteras, em 1988. Ela estabeleceu que era uma reunião das rainhas de cada lugar. Do Brasil fui eu, do México tinha Amparo Ochoa, da Venezuela foi uma outra. Foi muito lindo, eu encerrava o show com ela", lembra Beth.
Em 1980, Mercedes gravou o álbum Ao Vivo no Brasil e em 1982 teve um outro disco montado só para o mercado brasileiro, Gente Humilde, puxado pela faixa-título de Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Garoto. O álbum também incluía Viola Enluarada (Marcos/Paulo Sérgio Valle) e o dueto com Fagner em Años. Em 1986. ela fez uma participação no programa Chico & Caetano, da Rede Globo, cantando Volver a los 17 com os anfitriões mais Milton Nascimento e Gal Costa. O encontro saiu em CD numa coletânea brasileira.
Recentemente, Vitor Ramil, de quem Mercedes gravou Semeadura, a tinha convidado para participar de seu novo álbum, mas ela já estava doente. O produtor Ricardo Frugoli tinha um projeto de gravar um novo álbum de Mercedes no Brasil ainda este ano. "Seriam 14 canções, sete com cantores brasileiros consagrados e sete canções com cantores brasileiros de várias gerações com enorme talento e menor visibilidade", conta Frugoli.
Mercedes também estaria no projeto que Beth Carvalho vem alimentando há anos, que se chama Beth Carvalho Canta as Músicas Revolucionárias Latino-Americanas. "Ela topou na hora quando falei desse projeto. Iria cantar com ela, com Silvio Rodríguez, cada um representante de cada lugar desse tipo de música, revolucionária, que acho linda. Queria fazer uma coisa grandiosa, gravar em Cuba. Mas eu vou fazer, pena que não vou ter mais a Mercedes."
Repercussão
"É a maior, maravilhosa, tem uma voz que me emociona demais. É tudo o que eu acho que uma cantora tem de ser. Tem de ter ideologia, musicalidade, bom gosto. E ela foi bailarina clássica, tinha uma leveza, apesar de estar gorda. E era muito carinhosa. A última vez que estive com ela foi no Teatro Municipal no Rio, já não estava muito bem de saúde. Estou muito triste. Acho que o mundo inteiro perdeu uma grande intérprete, uma grande representante da latinidade. Uma grande cantora e uma grande mulher."
BETH CARVALHO, CANTORA
"Perdi uma amiga, uma pessoa muito próxima e muito generosa. Todos nós perdemos uma mulher guerreira, de voz linda, que colocou sua grande arte a serviço das causas mais importantes. Foi uma grande amiga. Sua voz era única na América Latina e por isso acabou se transformando em uma grande bandeira do continente."
RAIMUNDO FAGNER, COMPOSITOR E CANTOR
"Foi uma grande honra poder compartilhar o palco com Mercedes por ocasião de uma turnê que fizemos ao lado de Milton Nascimento por diversos países. Era uma intérprete de enorme talento, de muito bom gosto na escolha de repertório. Pessoalmente, era uma mulher de muito valor, de origem pobre e que conseguiu triunfar na vida. Estou muito triste, é uma grande amiga que se vai."
WAGNER TISO, COMPOSITOR
"Foi a voz dos que não tinham voz na época da ditadura (1976-1983) e levou a angústia pelos direitos humanos na Argentina a todo o mundo."
VÍCTOR HEREDIA, COMPOSITOR
"Minha primeira milonga, Semeadura, compus inspirado nela e ela a gravou anos depois. Mais recentemente ela me pediu uma versão de Não é Céu. As duas representam duas pontas dos meus interesses musicais. O fato de ela se interessar justamente por essas canções foi muito significativo para mim. Passei uma semana na casa dela em Buenos Aires. Foi um privilégio ter podido conviver um pouco com essa artista que amo tanto."
VITOR RAMIL, COMPOSITOR
"Mercedes tem uma força incomparável, e, enquanto é dolorido entender sua eventual partida, é fácil aceitar a mesma devido a tudo o que ela fez em sua história. Sua arte é testemunho dessa mulher forte. Que fará falta, sim. Que nos deixa essa tristeza pairando no ar, sim. Mas que tanto fez, que tanto nos deixou, que merece seu descanso. Agora, é com a gente."
MARIA RITA, CANTORA
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /CADERNO 2
Ela foi próxima de Milton Nascimento, Beth Carvalho, Fagner, Chico Buarque...
O auge da popularidade de Mercedes Sosa no Brasil foi nas décadas de 1970 e 1980, quando se tornou amiga de medalhões da MPB, que chamaram a atenção para a sua importância e para a beleza contundente de seu canto. Amiga de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Fagner, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Elis Regina e Beth Carvalho, Mercedes fez duetos em shows e gravações com vários deles. Numa de suas últimas vindas a São Paulo, em 2007, dividiu o palco com Maria Rita. Registrou em discos também canções de Vitor Ramil, Djavan, Marcos Valle e Kleiton Ramil.
Milton é o brasileiro mais presente no repertório da cantora, que também fez duetos históricos com ele em Volver a los 17 (Violeta Parra) e Sueño con Serpientes (do cubano Silvio Rodriguez). Em 1985, os dois dividiram o palco com o argentino León Gieco num grande show em Buenos Aires, que virou disco: Corazón Americano. Procurado pelo Estado, Milton, segundo sua empresária, não quis dar declarações por estar muito abalado com a morte da amiga.
Outros encontros marcantes de Mercedes com brasileiros foram com Beth Carvalho, em Solo le Pido a Diós (León Gieco) e com Fagner em Años (Pablo Milanés). Um compacto com O Cio da Terra (Chico Buarque/Milton Nascimento) e San Vicente (Milton/Fernando Brant) é outro registro que merece destaque.
"Éramos bastante amigas desde que vi um show dela no Scala, no Rio. Depois convidei-a para gravar em 1986. Foi uma gravação muito feliz, muito bonita", lembra Beth Carvalho. Depois ela me convidou para fazer um espetáculo no Luna Park, em Buenos Aires, chamado Sin Fronteras, em 1988. Ela estabeleceu que era uma reunião das rainhas de cada lugar. Do Brasil fui eu, do México tinha Amparo Ochoa, da Venezuela foi uma outra. Foi muito lindo, eu encerrava o show com ela", lembra Beth.
Em 1980, Mercedes gravou o álbum Ao Vivo no Brasil e em 1982 teve um outro disco montado só para o mercado brasileiro, Gente Humilde, puxado pela faixa-título de Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Garoto. O álbum também incluía Viola Enluarada (Marcos/Paulo Sérgio Valle) e o dueto com Fagner em Años. Em 1986. ela fez uma participação no programa Chico & Caetano, da Rede Globo, cantando Volver a los 17 com os anfitriões mais Milton Nascimento e Gal Costa. O encontro saiu em CD numa coletânea brasileira.
Recentemente, Vitor Ramil, de quem Mercedes gravou Semeadura, a tinha convidado para participar de seu novo álbum, mas ela já estava doente. O produtor Ricardo Frugoli tinha um projeto de gravar um novo álbum de Mercedes no Brasil ainda este ano. "Seriam 14 canções, sete com cantores brasileiros consagrados e sete canções com cantores brasileiros de várias gerações com enorme talento e menor visibilidade", conta Frugoli.
Mercedes também estaria no projeto que Beth Carvalho vem alimentando há anos, que se chama Beth Carvalho Canta as Músicas Revolucionárias Latino-Americanas. "Ela topou na hora quando falei desse projeto. Iria cantar com ela, com Silvio Rodríguez, cada um representante de cada lugar desse tipo de música, revolucionária, que acho linda. Queria fazer uma coisa grandiosa, gravar em Cuba. Mas eu vou fazer, pena que não vou ter mais a Mercedes."
Repercussão
"É a maior, maravilhosa, tem uma voz que me emociona demais. É tudo o que eu acho que uma cantora tem de ser. Tem de ter ideologia, musicalidade, bom gosto. E ela foi bailarina clássica, tinha uma leveza, apesar de estar gorda. E era muito carinhosa. A última vez que estive com ela foi no Teatro Municipal no Rio, já não estava muito bem de saúde. Estou muito triste. Acho que o mundo inteiro perdeu uma grande intérprete, uma grande representante da latinidade. Uma grande cantora e uma grande mulher."
BETH CARVALHO, CANTORA
"Perdi uma amiga, uma pessoa muito próxima e muito generosa. Todos nós perdemos uma mulher guerreira, de voz linda, que colocou sua grande arte a serviço das causas mais importantes. Foi uma grande amiga. Sua voz era única na América Latina e por isso acabou se transformando em uma grande bandeira do continente."
RAIMUNDO FAGNER, COMPOSITOR E CANTOR
"Foi uma grande honra poder compartilhar o palco com Mercedes por ocasião de uma turnê que fizemos ao lado de Milton Nascimento por diversos países. Era uma intérprete de enorme talento, de muito bom gosto na escolha de repertório. Pessoalmente, era uma mulher de muito valor, de origem pobre e que conseguiu triunfar na vida. Estou muito triste, é uma grande amiga que se vai."
WAGNER TISO, COMPOSITOR
"Foi a voz dos que não tinham voz na época da ditadura (1976-1983) e levou a angústia pelos direitos humanos na Argentina a todo o mundo."
VÍCTOR HEREDIA, COMPOSITOR
"Minha primeira milonga, Semeadura, compus inspirado nela e ela a gravou anos depois. Mais recentemente ela me pediu uma versão de Não é Céu. As duas representam duas pontas dos meus interesses musicais. O fato de ela se interessar justamente por essas canções foi muito significativo para mim. Passei uma semana na casa dela em Buenos Aires. Foi um privilégio ter podido conviver um pouco com essa artista que amo tanto."
VITOR RAMIL, COMPOSITOR
"Mercedes tem uma força incomparável, e, enquanto é dolorido entender sua eventual partida, é fácil aceitar a mesma devido a tudo o que ela fez em sua história. Sua arte é testemunho dessa mulher forte. Que fará falta, sim. Que nos deixa essa tristeza pairando no ar, sim. Mas que tanto fez, que tanto nos deixou, que merece seu descanso. Agora, é com a gente."
MARIA RITA, CANTORA
"Mercedes Sosa é a voz que embalou minha adolescência e que me disse o que era a América Latina, seus povos, seus cânticos, suas dores. Do texto de Bertolt Brecht que diz como ninguém - Hay hombres que luchan un día, y son buenos... - a uma infinidade de canções absolutamente necessárias que povoam meu imaginário, seu canto percorre com coragem as veias abertas da vida humana no que ela tem de singular e universal, e me ensinam como ser maior e mais inteira."
ANA LUIZA, CANTORA
ANA LUIZA, CANTORA
2 comentários:
Lauro, Eu amava esta mulher! Tive o prazer de conviver com ela intensamente durante os ultimos anos. Ela era a dona do "continente Latino Americano"...continente criado por ela...nos...filhos deste mesmo continente...choramos agora a ausencia da voz que nos protegia. Obrigado pelo carinho com mi Mammita! beijo Ricardo Frugoli
Lauro, Eu amava esta mulher! Tive o prazer de conviver com ela intensamente durante os ultimos anos. Ela era a dona do "continente Latino Americano"...continente criado por ela...nos...filhos deste mesmo continente...choramos agora a ausencia da voz que nos protegia. Obrigado pelo carinho com mi Mammita! beijo Ricardo Frugoli
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