DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Os dois partidos procuram imitar os sucessos uns dos outros; em discurso, ontem, Serra elogia a continuidade
José Serra está mais do que nunca assediado por seu partido e aliados, para quem o governador deveria lançar sua candidatura hoje mesmo, em mais outra homenagem ao centenário de Tancredo Neves. Sabe-se lá o que Serra dirá hoje em Minas, mas, na homenagem do Congresso a Tancredo, ontem, fez uma espécie de "discurso de união nacional".
Ou melhor, um discurso sobre como os governos pós-1985 tiveram um vetor, a redemocratização, a "Nova República". Experiências e aprendizados desse período teriam se sedimentado num contínuo de melhorias sociais e econômicas que parecem independer de governos específicos -pelo menos os governos não são nomeados. Houve um "processo", como FHC e tucanos sempre gostaram de dizer.
As resultantes mais positivas desses vetores democráticos são destacadas por Serra. Apesar da crítica oblíqua ao PT, Serra acaba por elogiar o desempenho do governo Lula.
Tal como Lula, na prática, rendeu homenagem a FHC ao adotar as linhas básicas da política econômica do governo FHC 2. As duas forças antagônicas e dominantes da política brasileira desde 1994, PSDB e PT, procuram se mimetizar.
Na definição de dicionário, mimetismo é uma adaptação por meio da qual um organismo passa a ter características que o confundem com um representante de outra espécie.
"O período de um quarto de século da Nova República (...) conseguiu derrubar a superinflação [FHC]. Resolveu o problema persistente da dívida externa [Lula], herdado, e até deu começo a uma retomada promissora do crescimento econômico e à expansão do acesso das camadas de rendimentos modestos ao crédito e ao consumo [Lula], inclusive de bens duráveis", disse Serra.
Alhures, Serra lembra a adesão do PT ao projeto de estabilidade fiscal, iniciado por FHC, e a reconciliação do partido de Lula com a Constituição de 1988. Os petistas se negaram a subscrever a Carta, defendendo-a, porém, quando o PSDB tentou reformá-la de modo "neoliberal". O próprio Serra disse um dia que considerava a Constituição populista e estatizante demais para seu gosto.
Como convém em cerimônias, Serra não dispara tiros de canhão no concerto. Passa, assim, uma visão algo açucarada da Nova República. A começar pelo emprego do termo "Nova República", desmoralizado já ao final do seu primeiro governo.
A gestão de José Sarney foi caótica e inepta, com a colaboração do PMDB, que então abrigava os futuros tucanos. Foi um governo de fisiologia grossa, que refundou as bases da oligarquia das regiões pobres por meio da doação de TVs. Foi o governo do estelionato do Plano Cruzado, mantido mesmo quando inviável para dar a vitória eleitoral ao PMDB. Foi governo de hiperinflação, moratória e coisas ainda piores.
A democracia nunca durou tanto no país como nos anos pós-1985. É verdade. Mas apenas em 2002 um presidente eleito passou a faixa a um sucessor. Tal coisa ocorrera pela última vez em 1960, de JK para Jânio Quadros. Melhor do que antes. Mas a mudança ainda é lenta. FHC começou a pacificar o país, pela "direita"; Lula o fez "pela esquerda". Não houve de fato ruptura. Serra parece gostar da ideia. Dilma também.
Os dois partidos procuram imitar os sucessos uns dos outros; em discurso, ontem, Serra elogia a continuidade
José Serra está mais do que nunca assediado por seu partido e aliados, para quem o governador deveria lançar sua candidatura hoje mesmo, em mais outra homenagem ao centenário de Tancredo Neves. Sabe-se lá o que Serra dirá hoje em Minas, mas, na homenagem do Congresso a Tancredo, ontem, fez uma espécie de "discurso de união nacional".
Ou melhor, um discurso sobre como os governos pós-1985 tiveram um vetor, a redemocratização, a "Nova República". Experiências e aprendizados desse período teriam se sedimentado num contínuo de melhorias sociais e econômicas que parecem independer de governos específicos -pelo menos os governos não são nomeados. Houve um "processo", como FHC e tucanos sempre gostaram de dizer.
As resultantes mais positivas desses vetores democráticos são destacadas por Serra. Apesar da crítica oblíqua ao PT, Serra acaba por elogiar o desempenho do governo Lula.
Tal como Lula, na prática, rendeu homenagem a FHC ao adotar as linhas básicas da política econômica do governo FHC 2. As duas forças antagônicas e dominantes da política brasileira desde 1994, PSDB e PT, procuram se mimetizar.
Na definição de dicionário, mimetismo é uma adaptação por meio da qual um organismo passa a ter características que o confundem com um representante de outra espécie.
"O período de um quarto de século da Nova República (...) conseguiu derrubar a superinflação [FHC]. Resolveu o problema persistente da dívida externa [Lula], herdado, e até deu começo a uma retomada promissora do crescimento econômico e à expansão do acesso das camadas de rendimentos modestos ao crédito e ao consumo [Lula], inclusive de bens duráveis", disse Serra.
Alhures, Serra lembra a adesão do PT ao projeto de estabilidade fiscal, iniciado por FHC, e a reconciliação do partido de Lula com a Constituição de 1988. Os petistas se negaram a subscrever a Carta, defendendo-a, porém, quando o PSDB tentou reformá-la de modo "neoliberal". O próprio Serra disse um dia que considerava a Constituição populista e estatizante demais para seu gosto.
Como convém em cerimônias, Serra não dispara tiros de canhão no concerto. Passa, assim, uma visão algo açucarada da Nova República. A começar pelo emprego do termo "Nova República", desmoralizado já ao final do seu primeiro governo.
A gestão de José Sarney foi caótica e inepta, com a colaboração do PMDB, que então abrigava os futuros tucanos. Foi um governo de fisiologia grossa, que refundou as bases da oligarquia das regiões pobres por meio da doação de TVs. Foi o governo do estelionato do Plano Cruzado, mantido mesmo quando inviável para dar a vitória eleitoral ao PMDB. Foi governo de hiperinflação, moratória e coisas ainda piores.
A democracia nunca durou tanto no país como nos anos pós-1985. É verdade. Mas apenas em 2002 um presidente eleito passou a faixa a um sucessor. Tal coisa ocorrera pela última vez em 1960, de JK para Jânio Quadros. Melhor do que antes. Mas a mudança ainda é lenta. FHC começou a pacificar o país, pela "direita"; Lula o fez "pela esquerda". Não houve de fato ruptura. Serra parece gostar da ideia. Dilma também.
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