sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dilma convida, mas Meirelles só fica com autonomia no BC

DEU EM O GLOBO

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi convidado a permanecer no cargo no governo Dilma, informa Miriam Leitão em sua coluna. A conversa está em andamento, mas Meirelles, que se encontra em Frankfurt em reunião sobre a crise mundial, já avisou que só permanecerá se a instituição que dirige tiver a mesma autonomia com que atuou nos oito anos de governo Lula. No início do próximo ano, o BC pode ser obrigado a subir juros para cumprir a meta de inflação, e isso será um teste para as promessas da presidente eleita, Dilma Rousseff, de defesa da estabilidade. A confirmação de Guido Mantega na Fazenda aumenta a incerteza em relação a esses compromissos. Há pressões para que Dilma mude a forma de atuação da equipe que vigorou até agora, e para que BC e Fazenda passem a atuar de forma conjunta – o que significaria o fim da autonomia. Nessa hipótese, Meirelles recusaria o convite. Já estão definidos pelo menos outros cinco nomes da equipe de Dilma, ainda com postos a decidir: Antonio Palocci e Paulo Bernardo, que ficariam no Planalto; José Eduardo Cardozo, que assumiria a Justiça; e Aloizio Mercadante e Gilberto Carvalho.

O núcleo duro de Dilma

Presidente eleita mantém Mantega e define cinco nomes do PT para o governo

Maria Lima, Gerson Camarotti e Martha Beck

Além da permanência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, acertada na viagem de volta da Coreia do Sul, a presidente eleita Dilma Rousseff já definiu que pelo menos outros cinco nomes do PT vão integrar a linha de frente de seu governo, com cargos de ministros. Em encontro de mais de duas horas ontem na Granja do Torto, Dilma e Mantega discutiram nomes para o segundo escalão da Fazenda. Na lista dos petistas já com cargos assegurados no novo governo estão o deputado Antonio Palocci (PT-SP), que vai ocupar função de destaque no Palácio do Planalto, e o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), que também irá para o Planalto. O deputado José Eduardo Cardozo (SP) será ministro da Justiça. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho serão ministros, mas sem pastas ainda definidas.

Esse núcleo duro do governo Dilma foi construído em sintonia com o presidente Lula, na semana passada, quando ainda estavam na Coreia do Sul, junto com Mantega, para a reunião de cúpula do G-20. E também esta semana em um encontro de mais de três horas no Palácio da Alvorada, do qual também participou Palocci. Embora nem todos os cargos estejam definidos, esses nomes já foram escolhidos.

Pela primeira vez, três semanas da eleição, Dilma disse a interlocutores que Palocci vai acompanhá-la no Planalto. Não há mais resistências ao nome dele, que chegou a ser visto no primeiro momento como uma possibilidade de "sombra" para a presidente eleita. Ainda não há definição do cargo de Palocci, mas pode ser o comando da Secretaria Geral da Presidência.

Palocci e Paulo Bernardo ficam no Planalto

Para fazer dobradinha com Palocci, Dilma puxará Paulo Bernardo. Para seu lugar no Planejamento, Dilma pode indicar Miriam Belchior, coordenadora do PAC. Mantendo o PAC no Planalto, como é hoje, Mercadante iria para o Planejamento. E Miriam não seria ministra. O senador pode ir também para os ministérios da Educação ou de Ciência e Tecnologia.

Já Gilberto Carvalho exercerá o papel de interlocutor com os movimentos sociais, hoje ocupado pelo secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, mas não necessariamente neste cargo. Sua permanência no Planalto foi uma das primeiras sugestões de Lula a Dilma, depois da defesa que fez de Guido Mantega.

Lula já tinha antecipado em Seul que Mantega ficaria, quando, em entrevista, cometeu o ato falho de dizer que o titular da Fazenda estaria na próxima reunião do G-20, que só vai ocorrer no próximo ano. Com Mantega no cargo, Dilma, na prática, terá o comando da Fazenda e influência direta nas escolhas dos principais cargos do ministério.

Após o longo encontro da Granja do Torto, o ministro da Fazenda manteve silêncio sobre o convite de Dilma. De volta ao ministério, se limitou a dizer a assessores que ela pediu uma avaliação sobre a economia em geral e sobre o comportamento das receitas e das despesas. Questionado sobre a transição de governo e sobre se o ministro da Fazenda Guido Mantega permaneceria na nova equipe, o ministro Paulo Bernardo disse que "não era ninguém para dar palpite", e que não tinha nenhuma expectativa de continuar no governo de Dilma.

- Eu acho que ela deveria renovar o máximo possível. Afinal, é um outro governo. Se têm ministros que acham que têm direito adquirido de permanecer, tudo bem. Mas então ela não vai poder escolher ninguém - disse o ministro, que completou dizendo que "ficaria contente" se recebesse um convite para ficar.

- O que não quer dizer que eu aceite.

Assessores do ministro, no entanto, consideram sua permanência como certa. Mantega, que não costuma fugir da imprensa, preferiu entrar no ministério pela garagem.

Na primeira grande reunião temática da transição, em que escolheu as políticas sociais como tema, Dilma reafirmou o compromisso de aumentar em mais de 1 milhão de famílias os beneficiários do Bolsa Família.

- Resolvemos começar o trabalho da transição pela erradicação da miséria, porque é nosso compromisso fundamental. O grande desafio é dar um salto em cima da herança bendita. A herança bendita tem sempre um grande peso e deve ser honrada - afirmou Dilma, segundo assessores, em discurso na reunião.

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