sábado, 14 de julho de 2012

O ajuste do diesel:: Celso Ming

O segundo reajuste dos preços do óleo diesel em apenas 21 dias pela Petrobrás indica que o governo Dilma entendeu que o crescimento econômico não pode depender tanto do consumo, como vinha acontecendo, e que tem de ser deslocado para o investimento. Em outras palavras, o estrangulamento da atividade econômica do Brasil não está no lado da demanda, que segue crescendo entre 5% e 6% ao ano, mas da oferta, que está estancada.

São inúmeras as manifestações de que a Petrobrás não está dando conta do seu enorme programa de produção e de investimentos, de nada menos que US$ 236,5 bilhões em quatro anos.

E uma das causas desse atraso vinha sendo a decisão da administração do PT de fazer política de preços à custa do caixa da Petrobrás. Os preços ao consumidor, tanto de diesel quanto de gasolina, não vinham sendo ajustados aos preços de mercado desde 2008. As principais consequências disso foram: (1) o estímulo descabido ao consumo, que obrigou a Petrobrás a importar tanto diesel como gasolina, para revendê-los no mercado interno a preços mais baixos do que os pagos ao fornecedor externo; e (2) a redução da capacidade de investimento da Petrobrás. É uma situação que, agora sob a administração da presidente Graça Foster, começa a ser revertida.

O reajuste anunciado na quinta-feira parece inaugurar uma política mais realista de preços. Falta explicar por que não veio antes. Não é verdade, conforme está na nota oficial, que a política de preços colocada em prática até agora fosse a do alinhamento aos níveis internacionais – embora "em uma perspectiva de médio e de longo prazos". Seja qual for o critério pelo qual se analise, não se pode considerar esse achatamento de cinco anos alinhamento nem a médio nem a longo prazos.

Esse primeiro reajuste do óleo diesel ao consumidor sugere que, pelo menos logo após as eleições, o governo Dilma autorize também a correção dos preços da gasolina. O governo zerou a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico(Cide) e, assim, tirou a capacidade de redução do impacto dos novos reajustes aos preços no varejo. De todo modo, esse passo ainda está longe de restabelecer a paridade às cotações internacionais. Os preços internos se mantêm fortemente defasados – em 20% no diesel e em 16% na gasolina, conforme cálculos do Credit Suisse.

A nova política terá algum impacto sobre os preços ao varejo. Nas próximas semanas, será inevitável que a alta do óleo diesel comece a ser repassada para os fretes e daí para os preços dos alimentos, para os transportes urbanos e para a condução escolar. Provavelmente, já na próxima Ata do Copom, a ser editada dia 19, o Banco Central já não estará mais registrando que entre seus pressupostos na formação da inflação está que os preços dos combustíveis não serão reajustados.

O redesenho da política de preços da Petrobrás tem importante implicação prática. Se a regra é realinhar cotações internas e externas, será inevitável também que a Petrobrás tenha de reajustá-las para baixo, caso se confirme um mergulho dos preços do petróleo no mercado internacional, como alguns analistas vêm preconizando diante do agravamento da crise internacional.

Caso isso se confirme, os recursos para cobrir seu enorme programa de investimentos não poderão vir dos preços ao consumidor. Terão de provir do enxugamento da empresa e de uma mais eficiente administração de custos.

Confira

O gráfico mostra a evolução do consumo de óleo diesel no Brasil. Cresceu 11,2% em 2010; 6,1% em 2011; e 7,1% até o fim de maio deste ano.

China. O avanço do PIB da China no segundo trimestre não decepcionou. Foi de 7,6% em termos anuais. O ritmo de crescimento do trimestre anterior foi de 8,1%. O mercado financeiro global entendeu que a meta do ano, de 7,5%, continua de pé. É um resultado excelente, levando-se em conta a paradeira que prostra os principais compradores de produtos industrializados chineses. A inflação está nos 2,2% ao ano.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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