Liquidada a questão na Justiça,
resta a José Dirceu e José Genoino tentar equilibrar as coisas no campo
político.
O instrumento é o mesmo ao qual
eles vêm recorrendo há algum tempo: a confrontação de suas trajetórias de vida
com os votos condenatórios no Supremo Tribunal Federal, a fim de criar uma
atmosfera de cruel linchamento.
O PT inclusive prepara um
desagravo público a ser realizado após o fim do julgamento do mensalão, com a
finalidade de deixar consignado que político com "história" não pode
ser tratado como um molambo qualquer.
Faz sentido? Depende de como se
vê a cena. Se o princípio é o de que os fins justificam quaisquer meios, até
faz.
O partido continuará insistindo
na história dos "erros pontuais" cometidos em nome de um projeto em
prol da justiça social, jurando que não houve desejo deliberado de obter
vantagens pessoais indevidas.
O PT se vê de forma muito
diferente daquela com que enxerga a constelação de "vendidos" que
cooptou para formar maioria: nada fez de má-fé. Agiu por ideologia nas melhores
das boas intenções. Injusta, portanto, punição tão pesada.
Mas há outra maneira de olhar
que subtrai todo e qualquer cabimento da ideia de uma absolvição virtual dando
os mesmos pesos e medidas aos bons propósitos e aos atos nefastos.
Nem com muito esforço de boa
vontade é possível esperar que daí resulte algum equilíbrio.
Por um motivo muito claro e
simples: as "trajetórias de lutas", sejam quais forem elas, não podem
servir como salvo-conduto a más condutas escoradas na ilicitude.
Argumenta-se, para lamentar as
condenações, que José Dirceu e José Genoino são homens com
"história". Verdade incontestável, ninguém discute esse ponto. Neles,
aliás, reside a grande incoerência.
Políticos donos de substancioso
histórico têm a obrigação de se comportar melhor que os demais - os desprovidos
de semelhante bagagem. Pela lógica seria inerente a seres tão especiais a
sensibilidade para distinguir entre o que está dentro ou fora dos marcos da
legalidade.
Não uma qualidade, mas um dever
de militantes forjados na ideologia. De valdemares e companhia espera-se
qualquer coisa, mas do PT o País esperava maior apreço pelo ofício.
Condenados Dirceu e Genoino, o
PT pode até se sentir injustiçado. Mas não pode dizer que a cigana o enganou.
Sabia onde pisava quando optou por comprar facilidades.
Se o partido imaginou que a
cobrança da conta não era uma possibilidade, só lhe resta lamentar ter caído na
armadilha preparada pelo autoengano.
Fim do
caminho. Ao condenar José Dirceu por
maioria inequívoca, o Supremo encerrou uma carreira política que começou a se
desmilinguir no dia em que Roberto Jefferson olhou para as câmeras que
transmitiam ao vivo a sessão da CPI dos Correios e provocou o todo poderoso
ministro chefe da Casa Civil: "Sai daí, Zé".
Toda
diferença. O ministro
Celso de Mello, único remanescente da composição da Corte que julgou Fernando
Collor em 1994, tem dito que o Supremo não mudou o entendimento sobre o ato de
ofício que caracteriza, ou não, a responsabilidade criminal de autoridades
públicas.
Por isso mesmo não é demais
repetir: não há dois pesos, os casos é que são diferentes. Na época, o
Ministério Público não apontou qual o interesse dos empresários extorquidos por
Paulo César Farias, condenado por corrupção ativa, nos atos incluídos entre as atribuições
do presidente, absolvido da acusação de corrupção passiva.
Agora a Procuradoria-Geral da
República foi clara na denúncia: o governo Lula deu dinheiro aos partidos em
troca dos atos inerentes às atribuições dos parlamentares no Congresso.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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