A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula tratam em perfeita
dobradinha da eleição presidencial de 2014, a partir de agora. Para o segundo
turno das eleições municipais, a estratégia posta é conhecida e em execução:
será a mesma da primeira etapa. Dilma se empenhará em São Paulo, porque é um
posto estratégico para o PT e ela própria. E, como no primeiro turno foi a Belo
Horizonte, também estratégica, por vontade e escolha, tendo ali um adversário
da disputa sucessória, no segundo vai a Salvador e a Manaus, pelo critério
nacional: são cidades onde o PT não disputará com partidos aliados e terá como
adversários o PSDB e o DEM, oposicionistas federais.
Longe ficará a presidente de localidades onde os aliados se chocam, como
ficou, no primeiro turno, da disputa em Porto Alegre. Fugiu de Recife, de onde
se afastou também o ex-presidente Lula, como revelam só agora alguns petistas
tirando do ex-presidente responsabilidade naquela confusão. Lá, como no extremo
Sul, Dilma e Lula ainda não teriam entendido o que houve com o PT que perdeu a
chance de ficar com os candidatos vitoriosos para imporem nomes que sequer
desejavam entrar na disputa. Adão Villaverde, em Porto Alegre, poderia ter sido
vice de José Fortunati (PDT), ex-petista ainda querídíssimo no partido, mas
Tarso Genro, o governador, empurrou-o à disputa solitária. Maurício Rands
poderia ter sido candidato em Recife, com apoio de Eduardo Campos, mas o PT não
quis e impôs Humberto Costa. Colocou como vice dele o nome mais popular do
partido na cidade, ex-prefeito, e achou que ia dar um passeio.
Nas hostes de Dilma nada se atribui, no cômputo dessas dificuldades para o
PT, ao voluntarismo do ex-presidente Lula. Estão juntos e os acertos mais
substantivos com a imensa base de apoio da presidente ocorreram antes da
primeira votação.
Três Ms e um P na embolada da reeleição
Assim, o segundo turno vai repetir o modelo e ela não se sente pressionada a
premiar aliados que se integrem às candidaturas petistas porque os acordos
políticos foram todos feitos antes do primeiro turno. Por exemplo, foi dado um
ministério para o bispo Marcelo Crivella, aliado de Russomano, e um posto de
comando para um indicado de Paulo Maluf, todos na empreitada da conquista da
Prefeitura de São Paulo. O PMDB manteve a candidatura de Gabriel Chalita que,
agora, seguirá com o candidato Fernando Haddad, do PT. Sem ganhar ministério no
governo Dilma.
A negociação com o PMDB também ocorreu antes do primeiro turno. Dilma já deu
seu apoio, e portanto a adesão de sua ampla aliança, ao domínio do partido em
um dos Poderes da República, o Legislativo, onde vai presidir as duas casas do
Congresso. Retirou obstáculos à eleição de Renan Calheiros para a presidência
do Senado e avisou ao PT, que estava resistente, principalmente ao atual
presidente Marco Maia, que apoiará o cumprimento do acordo para eleger Henrique
Eduardo Alves presidente da Câmara. Portanto, tudo amarrado antecipadamente com
o presidente de honra do partido, o vice-presidente Michel Temer. Se Dilma
entregar algo mais ao PMDB será uma surpresa, inclusive para seus mais
próximos.
Dilma irá a palanques, programas de TV e comícios contando que os aliados se
juntarão ao partido no segundo turno sem exigências adicionais. Até porque,
entre conselheiros da presidente, as condições de realização das disputas
municipais, nesta fase, são mais políticas e menos pragmáticas.
A avaliação que faz o Planalto, e não poderia ser diferente em se tratando
de integrantes do governo, é que Dilma foi bem no seu primeiro teste eleitoral.
Cumpriu à risca o que determinou previamente, a decisão de não trombar com os
partidos da base, e pesou a mão em São Paulo e Belo Horizonte, pelo
convencimento de que eram eleições estratégicas.
Agora, é tratar da nova meta, o ano de 2014. A eleição municipal, para o
governo, desfez o que aliados de Dilma estão chamando de falso dilema: o
conflito entre o PT de Lula e o PT de Dilma, um trabalhando para um lado e
outro para o outro. Na análise que apresentam, eles pensam o mesmo e agem em
conjunto. Funcionou bem nas eleições municipais e o modelo será agora
permanente para o próximo objetivo: manter o poder federal do PT, na
Presidência da República, e conquistar governos estaduais.
Nesse caminho da reeleição, em 2014, tem o ano de 2013, em que a candidata
Dilma Rousseff e seus mais próximos conselheiros políticos reputam fundamental
principalmente para a definição dos adversários dentro do mesmo campo político.
Cenário em que se distingue a expectativa em torno de uma definição de suas
relações e as relações do ex-presidente Lula com o governador de Pernambuco,
Eduardo Campos (PSB).
Não se considera necessária uma definição agora do governador, nem para
barganhar espaço de poder nem para ter melhor posição na aliança. Ele apoia a
presidente Dilma, continua integrando o governo e o próprio Lula já disse, a
mais de um petista exaltado de seu staff, que passadas as eleições tudo se
restabelecerá com Eduardo Campos.
O que se imagina é, se Dilma estiver bem em 2013, com seus 70% de
popularidade, e o Brasil impermeável à crise internacional, que Eduardo Campos
pode simplesmente decidir permanecer do tamanho que está e seguir rumo a 2018.
Se a presidente se enfraquecer, Campos tanto pode querer mexer na chapa,
tomando a vice do PMDB, ou ganhar musculatura maior lançando-se candidato.
Porém, candidato do lulismo. Não se admite, nem como hipótese, a saída de
Eduardo Campos desse espectro.
Outra equação que se desenrolará também em 2013 é a definição da candidatura
do PT ao governo de São Paulo. O partido vai mostrar se continuará fazendo da
disputa interna sua destruição ou se Lula terá força para determinar. Estão na
disputa os três EMES - Marinho, Marta e Mercadante - o primeiro reeleito prefeito
com o suor do ex-presidente Lula e os dois outros ministros de Dilma em postos
avançados, ideais para uma campanha eleitoral. Até aqui, tudo igual. Há quem
ainda coloque um P entre eles, o também ministro Padilha. Se o partido
sobreviver a essa ameaça de torrencial tempestade, Dilma poderá seguir em
segurança para 2014.
Fonte: Valor Econômico
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