quarta-feira, 28 de agosto de 2013

'Pôr meu filho como bode expiatório seria lamentável', diz pai de diplomata

Gilberto Saboia pede que Dilma faça "uma análise desapaixonada"

Maria Lima

BRASÍLIA - O embaixador aposentado Gilberto Vergne Saboia se diz aflito, mas orgulhoso, de ver o filho no olho do furacão após trazer o senador boliviano Roger Molina para o Brasil. Com uma longa carreira diplomática, inclusive como membro da Comissão de Direito Internacional da ONU, Gilberto Saboia defende como legítima e legal a ação do filho.

Ao comentar as declarações da presidente Dilma Rousseff, Gilberto Saboia disse que entende a reação de Dilma, mas pediu que ela aja de forma "desapaixonada" e entenda os limites entre ética e hierarquia. Ele está indo do Rio, onde mora, para Brasília, onde está o filho, para dar apoio e ajudar na defesa no processo administrativo aberto pelo Itamaraty.

- Pôr meu filho como bode expiatório seria lamentável! Entendo que a presidente está aborrecida, mas peço que faça uma análise desapaixonada de toda essa questão. Que entenda que nada do que foi feito, foi ou será dito tem como alvo seu governo. Eu e meu filho somos altamente disciplinados. Mas respeitar os limites entre a ética e a hierarquia é uma coisa fundamental - disse o embaixador aposentado.

Ele disse que, ao procrastinar uma solução, as autoridades bolivianas acabaram transformando a generosidade do asilo brasileiro em prisão domiciliar do desafeto de Evo Morales:

- Uma autoridade boliviana das grandes chegou a dizer que o senador podia apodrecer na cadeia. E o asilo na embaixada se transformou numa prisão, gerando uma situação de enorme desgaste físico para ele e todos que com ele conviviam.

Sobre o processo que o filho vai enfrentar, além das implicações políticas e da irritação da presidente, Gilberto Saboia pediu cuidado ao Itamaraty:

- Estou ao lado do meu filho. Nem ele nem eu queremos sair atacando. Temos carinho pelo Itamaraty, e o Brasil democrático é uma conquista. Não temos essa visão incendiária e catastrofista. Meu filho vai se defender, e eu vou defendê-lo também. O Itamaraty precisa tomar cuidado, em consonância com a longa tradição de respeito e defesa de seus funcionários.

Eduardo Saboia recebeu apoio de políticos e integrantes da carreira diplomática. "Há muita gente do seu lado", escreveu no título de extensa carta publicada ontem o ex-porta-voz do Itamaraty e da Presidência diplomata Pedro Luís Rodrigues.

"Não há como não reconhecer que era imoral e insustentável a situação do senador boliviano Roger Pinto Molina. Posteriormente à concessão do asilo, o governo boliviano brandiu uma série de acusações contra o asilado, aparentemente para tentar fazer o Brasil modificar sua decisão", diz Rodrigues, na carta.

A carta e as mensagens de diplomatas, colegas da UnB e parentes, que se multiplicam nos últimos dias, foram postadas na página pessoal de Saboia. Também foram criadas uma petição de apoio da ONG Avaaz e uma página de apoio no Facebook.

Familiares também postaram de mensagens de apoio e agradecimento a orações. O filho de Saboia, André, afirmou: "Pai, não se preocupa, todo mundo está te apoiando e de acordo com sua esplêndida e brava atitude. Deus sabe o que faz! Tudo vai dar certo, sem dúvida alguma. Um grande beijo e um forte abraço, te amo. pai!".

Fonte: O Globo

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