O Federal Reserve vai continuar trilhando o "caminho do meio", com ajustes comedidos e graduais da taxa de juros enquanto isso for possível, disse ontem Jerome Powell, após reunião do Comitê de Política Monetaria que decidiu aumentar em mais 0,25 ponto percentual os "fed funds", para a faixa de 1,5% a 1,75%. A elevação era dada como certa, mas os investidores aguardavam um sinal sobre a possibilidade de uma aceleração dos reajustes futuros, no primeiro encontro com Powell no comando do Fed - e ele ratificou que isso não ocorrerá, por enquanto. Das projeções feitas pelos 15 membros que votam, 8 indicaram que 2018 terá mais duas altas da taxa, e 7 prognosticaram mais três.
As projeções dos integrantes da reunião mostram que pode estar mais perto o momento em que pressões inflacionárias levarão o índice para a meta de 2% do banco. A expectativa de crescimento para o PIB subiu 0,2 pontos, para 2,7%, em 2018 ante 2,5% da projeção anterior, e mais 0,3 pontos, para 2,4%, em 2019. A mudança mais significativa ocorreu na taxa de desemprego, que recuou para 3,8% este ano (era 3,9%) e para 3,6% em 2019, quase um ponto percentual abaixo dos 4,5% considerados como de longo prazo. Com isso, o núcleo do índice de gastos pessoais de consumo (PCE), preferido pelo Fed, encerrará o ano quase na meta, em 1,9%, e em 2% no ano que vem.
Há certeza de que com o crescimento previsto, os juros terão de subir mais. A maioria do Fed aposta em 2,25% para 2017, como a maioria do mercado. Mas o ciclo de alta esperado, se o Fed estiver certo em suas projeções, deve se encerrar com uma taxa mais 0,3 ponto percentual mais alta que na projeção anterior, em 3,4% em 2020, meio ponto percentual acima daquela considerada a normal de longo prazo. Com isso, para o ano que vem devem ocorrer mais três altas, uma a mais do que aconteceria se o esperado em dezembro não se modificasse, e uma a mais em 2020 também.
Com um pacote fiscal de boa magnitude (US$ 1,5 trilhão em 10 anos), mais gastos fiscais autorizados (US$ 300 bilhões em dois anos) e aperto inédito no mercado de trabalho, a inflação terá de apontar para cima, mas a expectativa atual de Powell não é a de que isso ocorra nem rápida nem abruptamente. "A relação entre a inflação e o desemprego não é tão estreita quanto se pensava", disse para, mais tarde, reconhecer que isso é "surpreendente". No entanto, o Fed está prevendo "significativos aumentos na demanda nos próximos três anos".
O impacto do pacote fiscal e de gastos ainda não se materializou e isso determinou a manutenção do ritmo de ajuste nos juros. Membros do Fed, como Lael Brainard, antes da reunião, apresentaram estimativas mais altas. Para Brainard, a redução dos impostos acrescentaria mais 0,5% ao PIB neste e no próximo ano, enquanto que gastos adicionais aprovados no acordo orçamentário no Congresso empurrariam o PIB mais 0,4 ponto à frente no mesmo período. A mediana dos participantes, porém, ficou bem abaixo disso. Ou seja, as estimativas divergem e a safra de indicadores atuais não apontou nada que indique que a economia vai se acelerar tanto nos próximos meses.
Todos os fatores para isso, no entanto, estão dados. Segundo Powell, o endividamento das famílias foi contido e o mesmo pode ser dito para a situação das empresas não financeiras. No caso dos ativos financeiros, ele vê alguma pressão sobre ações, com valorização acima da que deveriam considerada a média de longo prazo, mas que a mesma coisa não acontece no mercado imobiliário, "que é chave", afirmou. A conclusão: há "moderada vulnerabilidade nos ativos" e baixa vulnerabilidade no grau de comprometimento financeiro de empresas e consumidores.
Até certo ponto, a baixa progressão dos salários faz sentido, segundo ele, porque a produtividade caiu desde a crise de 2008 e a inflação se mantém baixa - as duas mais importantes determinantes dos reajustes. Os salários podem sofrer um empurrão com o pacote fiscal e de gastos. Sobre as consequências do expansionismo fiscal, Powell considerou que são "incertas" e "podem demorar muito a aparecer". Enquanto não ocorrerem, o Fed será bastante cauteloso. Powell foi econômico nas palavras em sua estreia, deu o recado esperado da moderação, mas avisou: "As projeções podem mudar".
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