segunda-feira, 25 de março de 2019

Ricardo Noblat: Quanto pior, melhor para o capitão

- Blog do Noblat / Veja

Ameaça à democracia

Ao Congresso, uma vez que queira se comportar com responsabilidade, cabe pôr suas impressões digitais na reforma da Previdência e aprová-la em tempo razoável. Porque para o presidente Jair Bolsonaro, tanto faz como tanto fez.

Bolsonaro votou contra todas as propostas de reforma da Previdência nos seus sete mandatos de deputado. Para isso até alinhou-se com o PT. Terceirizou a área econômica de um eventual governo só para obter o apoio do mercado.

Uma vez que se elegeu, pouco se lhe dá se a reforma for aprovada ou não. Cumpriu o ritual de ir ao Congresso apresentá-la. Vez por outra repete que sem ela o país quebrará. Mas ao mesmo tempo a torpedeia sempre que pode.

Se ela passar, Bolsonaro dirá que se deveu ao seu empenho e ao do ministro Paulo Guedes. Do contrário, culpará o Congresso pelo que possa acontecer ao país mais tarde. Jamais confessará que aposta no pior. É nisso, de fato, no que aposta.

Os que analisam o governo Bolsonaro cedem à tentação de normalizá-lo, de o observarem como a maioria dos governos que o país já teve – particularidades à parte. Mas ele não é e não quer ser um governo como qualquer outro.

Embora tenha ficado quase 30 anos na Câmara, Bolsonaro nada aprendeu ali, nada quis aprender, e por isso jamais se destacou entre seus pares – salvo como um tosco parlamentar, estridente e monotemático, em defesa das piores causas.

Ele foi a primeira pessoa a surpreender-se com a descoberta de suas chances de se eleger presidente – a segunda foi sua mulher. Isso ocorreu depois da facada em Juiz de Fora. À falta de equipe e de um plano de voo, montou o pior governo das últimas décadas.

Sem compromisso com coisa alguma, apreciador de ralas e confusas ideias, todos os seus passos até aqui têm sido na direção do enfraquecimento da democracia. Direto ao ponto: Bolsonaro sonha com o estabelecimento de um regime autoritário sob seu comando.

Daí seu desprezo pelos partidos, seu pouco caso com a Justiça cada vez mais acossada por seus devotos nas redes sociais, e seu ódio à imprensa independente. Se não houver a ruptura institucional tão desejada por ele, seguirá em frente aos trancos e barrancos.

Se sua situação no cargo tornar-se insustentável, será capaz de jogar tudo para o alto e ir gozar a vida confortável de ex-presidente. Era seu plano original: ajudar os filhos a se reelegerem e desfrutar da companhia de dona Michele e da filha mais nova. Aí deu no que deu.

A resistência de Rodrigo Maia

Bolsonaro, o fabricante de crises

Desde o início da semana passada quando Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tornou-se o alvo preferencial de Bolsonaro e dos seus acólitos, Maia e o ministro Paulo Guedes, da Economia, trocam mensagens diárias pelo WhatsApp.

Guedes está horrorizado com o cerco a Maia, mas sabe que tem pouco a fazer pela sorte dele. Bolsonaro não o escuta em matéria de articulação política. Também não dá muita bola para o que ouve do ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil.

Não passa de lenda essa história de que a ala militar do governo controla Bolsonaro. Os generais o aconselham, bancam os moderados, mas Bolsonaro os contraria com frequência. O respeito à hierarquia os impede de ir além.

O sucesso da resistência de Maia aos acintes de Bolsonaro depende unicamente do apoio que obtiver dos líderes dos partidos na Câmara e fora dela.

ABIN de olho em políticos

No radar
A agência Brasileira de Inteligência (Abin) está atenta aos passos de cabeças coroadas do Congresso. Uma delas, por sinal, já foi avisada por um amigo e começou a tomar cuidado com o que fala e escreve.

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