domingo, 14 de abril de 2019

Ricardo Noblat: Te perdoo por te trair

- Blog do Noblat / Veja

Te perdoo porque choras quando eu choro de rir (Chico Buarque)

Deve haver algum método, e também algum objetivo a ser alcançado, na desordem provocada dentro do governo pelo presidente Jair Bolsonaro a cada semana, e ultimamente a quase cada dia. É impossível que não haja.

A mais recente desordem, quando um telefonema dele obrigou o presidente da Petrobras a suspender o reajuste já anunciado no preço do diesel, surpreendeu o ministro Paulo Guedes, da Economia, em visita aos Estados Unidos.

Deu ensejo então a uma curiosa situação onde não é um presidente da República que sai em socorro de um ministro que derrapou numa casca de banana, mas o ministro que sai em socorro do presidente. Foi o que aconteceu quando Guedes disse ontem:

“Acho que o presidente tem muitas virtudes, fez muita coisa acertada e ele já disse que não conhece muito economia. Então se ele, eventualmente, fizer alguma coisa que não seja muito razoável, tenho certeza que conseguimos consertar”.

Espantoso! Em que país um ministro da Economia chama em público uma decisão presidencial de “não muito razoável” e é mantido no cargo? Ou afirma que o presidente “não conhece muito do assunto” em que resolveu se meter?
E que acrescenta ainda como se fosse uma espécie de avalista do presidente que se ele fizer alguma coisa não razoável, tem certeza que dará para consertar? Onde será possível que uma coisa dessas fique por isso mesmo?

Ora, aqui, desde que Bolsonaro se elegeu enganando o mercado com a história de que Guedes seria o seu Posto Ipiranga. Título igual não deu ao ministro Sérgio Moro, da Justiça, mas ficou parecendo que sim. Já atropelou Moro antes, e agora Guedes.

Acreditou quem quis que Bolsonaro, um estatizante de carteirinha, vestiria a fantasia de liberal uma vez que se elegesse. O importante era derrotar o PT. E embora houvesse muitos candidatos, o capitão seria de longe o mais fácil de ser cavalgado.

Pode faltar cultura, preparo e sofisticação ao presidente, mas uma toupeira ele não é. Bolsonaro joga a favor dele e dos filhos. No que dará tudo isso, nem ele sabe. Se não se der certo irá para casa com várias aposentarias e benefícios concedidos a um ex-presidente.

De bom tamanho para quem já admitiu que sua eleição foi um milagre.

Vexame!

As agruras do capitão
O presidente Jair Bolsonaro provocou a ira de Israel por ter dito a líderes evangélicos na última quinta-feira que os crimes do Holocausto são perdoáveis.

“Podemos perdoar. Mas não podemos esquecer”, disse Bolsonaro. Para em seguida acrescentar uma de suas frases preferidas: “Aqueles que esquecem seu passado estão condenados a não ter futuro”.

Só tem houve um probleminha: para Israel, o Holocausto que provocou a morte de 6 milhões de judeus na 2ª Guerra Mundial não pode ser perdoado nem esquecido jamais.

Então Bolsonaro, que antes de se eleger fez questão de ser batizado nas águas do rio Jordão, foi criticado pelos presidentes Reuven Rivlin, de Israel, e Yad Vashem, do Memorial do Holocausto.

Ao visitar Israel, Bolsonaro deu uma passadinha no Memorial do Holocausto, em Telavive, onde está escrito que o nazismo foi de direita. Bolsonaro saiu de lá dizendo que o nazismo foi de esquerda.

Por duas vezes nos últimos três dias, o Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque, manifestou-se sobre a homenagem que a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos prestará a Bolsonaro.

Está marcada para 14 de maio, nas dependências do próprio museu. Mas a direção do museu diz que o local foi alugado antes que a Câmara revelasse o nome do homenageado.

Agora que se sabe, o Museu está sob a pressão dos seus contribuintes e visitantes assíduos para que negue o local. O próprio prefeito da cidade, do Partido Democrata, é contra a homenagem ali.

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