domingo, 14 de abril de 2019

Grandes chances dadas pelo novo ciclo do petróleo: Editorial / O Globo

Projeções de produção e de investimentos são crescentes, e precisam ser aproveitadas

A recuperação do mercado mundial de petróleo renova o interesse das maiores empresas do setor pelo Brasil. Em recente audiência no Senado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mostrou entusiasmo: “O país está sendo visto como uma nova fronteira, como o que há de melhor do ponto de vista de exploração de petróleo para os próximos 20 ou 30 anos. É fato.”

O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, havia dito coisa semelhante aos senadores. Estimou para os próximos dez anos “investimentos de R$ 1,5 trilhão em petróleo, gás e biocombustíveis”.

É previsível que até 2027, informou, o país duplique as reservas de petróleo, para 24 bilhões de barris. A produção deve alcançar 2 milhões de barris/dia, com 17 novas plataformas. A expectativa, segundo Albuquerque, é que, até 2040, o Brasil responda por 23% de todo o aumento na produção mundial de petróleo. “Seremos um dos cinco maiores produtores e, até 2030, dobraremos a produção de gás, que irá de 112 para 220 milhões de metros cúbicos/dia”.

Governos têm a obrigação do otimismo, por necessidade de sobrevivência. No caso, porém, Brasília chega a contrastar com o otimismo de grandes empresas privadas do setor, que embalam mercados (alta de 27% nas ações da Petrobras no trimestre).

A British Petroleum, por exemplo, vê o Brasil da seguinte forma: “A produção de petróleo aumenta significativamente (70%), chegando a quase 5 milhões de barris/dia em 2040, o que representa 5% da produção global. A produção de gás mais do que duplica, atingindo 63 bilhões de metros cúbicos até 2040.” Significa mudança estrutural num ambiente de negócios duramente afetado pela virtual quebra da Petrobras, há cinco anos, por manipulação política, incompetência gerencial, e corrupção na empresa estatal sob os governos Lula e Dilma. Ponto de inflexão é o leilão de áreas previsto para 28 de outubro, com potencial de entrada de R$ 80 a R$ 100 bilhões nos cofres públicos.

O Brasil só compete com ele mesmo. O México enfrenta problemas, com a Pemex em crise, e a venezuelana PDVSA foi consumida pelo delírio chavista que levou o país ao abismo.

O Brasil tem chances de crescimento no pré-sal, com reflexos na cadeia produtiva e nas finanças estaduais. Só precisa avançar, rapidamente, nos leilões e na desregulamentação. O leilão de outubro ainda depende de coerência dentro governo, sobre questões ambientais, e de harmonia com o Congresso sobre lei específica.

Mas se o governo Jair Bolsonaro continuar concentrando energias na comédia de falsificações da História do Brasil, da Guerra Fria e da II Guerra Mundial, ou repetindo Lula e Dilma com interferências na Petrobras, o país corre o risco de perder essa oportunidade singular. E o fluxo de investimentos previsto pelo setor privado será, rapidamente, redirecionado a outras regiões, como a inexplorada fronteira marítima da vizinha Guiana.

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