É objetivo estratégico da oposição criar uma alternativa que supere o choque entre os extremos
No calendário gregoriano falta um ano e três meses para as urnas de outubro de 2022, quando serão escolhidos presidente, governadores, parlamentares federais e estaduais. Há um razoável caminho à frente, que passa pelas eleições municipais de novembro — a depender da saúde pública. Como a política é também movida por expectativas, observam-se movimentos no Congresso que já decorrem, tudo indica, da rearrumação de grupos voltados a projetos de alianças para tentar impedir a reeleição de Jair Bolsonaro, com o despejo da extrema direita do Planalto.
Na superfície do jogo parlamentar, existem fricções provocadas pela tentativa, até agora fracassada, de o governo Bolsonaro construir uma base parlamentar ampla com as legendas fisiológicas do centrão, formado por PP, PL, Solidariedade, PTB, entre outros. No grupo, conhecido por negociar apoios com governos — à esquerda ou à direita —, destaca-se o deputado Arthur Lira (PP-AL), considerado líder informal do Planalto na Câmara. A derrota de Bolsonaro na aprovação da PEC do Fundeb e, logo depois, o anúncio da saída de DEM e MDB do bloco, que poderia vir a ser a base parlamentar bolsonarista, mostram ao Planalto o tamanho da dificuldade de criar uma barreira contra pedidos de impeachment do presidente. Com a desconexão desses dois partidos, o número de votos do grupo cai de 221 para 158, aquém dos 172 necessários para barrar no plenário da Câmara processos de impedimento.
A melhor alternativa para o governo é eleger o substituto de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidir a Câmara e, assim, ficar dono da pauta. Não parece tão simples, se toda esta movimentação também estiver relacionada a articulações para viabilizar uma alternativa nova de fato, que aglutine a centro-direita e frações da centro-esquerda, para impedir a polarização entre esquerda e direita, objetivo estratégico do bolsonarismo. Como em 2018, quando Bolsonaro foi ao segundo turno contra Fernando Haddad, representante de um PT em frangalhos.
Os políticos em torno do centro terão de agir com a competência que não demonstraram em 2018. Para ocupar espaços nesse campo, é necessário um rosto já de algum conhecimento popular. Em qualquer lista que se faça hoje estão João Doria (PSDB), governador de São Paulo, Luciano Huck e Eduardo Leite, o jovem governador gaúcho do PSDB. A oposição precisa ter consciência de que há grandes dificuldades a superar.
A existência de um colchão que ampara Bolsonaro na faixa dos 25% do eleitorado é replicada no outro extremo, de lulistas e aparentados. Isso reforça a importância do caminho do meio. O presidente, porém, segundo algumas sondagens, não melhorou de posição apenas devido ao abono emergencial, mas, ao “fechar o gabinete do cercadinho”, falar menos e em tom menor, também estancou a queda entre os mais ricos. O desafio para a oposição é grande. Também dependerá dos caminhos de Bolsonaro: se voltará aos da radicalização ou persistirá nos do apaziguamento
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