O Estado de S. Paulo
O Brasil desperdiça a oportunidade de aproveitar a trégua dada pelo Fed aos mercados globais
O tão temido início da redução de estímulos
monetários nos Estados Unidos, adotados desde o começo da pandemia de covid
pelo Federal Reserve (Fed), acabou dando um novo impulso às bolsas de valores
americanas e de outros países desenvolvidos, em vez de ser gatilho de uma fuga
generalizada pelos investidores globais para a segurança do dólar e de outros
ativos considerados um porto seguro em tempos turbulentos.
Com a recuperação da economia americana, as
pressões sobre a inflação dos EUA estão cada vez maiores, forçando o Fed a
diminuir os estímulos e anunciar na sua reunião de política monetária, na
semana passada, o chamado “tapering”, ou a redução no volume de compras de
títulos do Tesouro e de papéis lastreados em hipotecas imobiliárias, no valor
de US$ 15 bilhões por mês.
O nervosismo acerca do anúncio era acontecer uma repetição do episódio conhecido como “taper tantrum”, quando o Fed abalou os mercados globais em 2013 ao sinalizar abruptamente que iria encerrar as compras de ativos para reduzir a liquidez na economia americana na época.
Mas, ao anunciar, na semana passada, o
início do tapering, o Fed adotou um tom bem mais suave em relação a esse
processo, deixando claro que será paciente em relação
ao próximo passo da política monetária
esperado pelos investidores, o da alta de juros.
O temor é de que, ao contrário da redução
na compra de ativos, uma primeira alta de juros afugentará os investidores de
bolsas, de moedas de países emergentes e de outros ativos de risco com uma
redução forte na liquidez internacional.
Desta vez, o risco de um taper tantrum à la
2013 é baixo. Lá atrás, a comunicação do Fed foi confusa. Agora, o Fed tem sido
cuidadoso em telegrafar sua decisão e não alimentar apostas mais agressivas
para a primeira alta de juros, atualmente para junho de 2022. Com isso, os
investidores olharam para as bolsas de países desenvolvidos como os ativos de
riscos com melhores perspectivas de ganhos.
Nos EUA, o índice S&P 500 avançou 1,5%
nos primeiros quatro pregões que se seguiram à decisão do Fed. O Nasdaq subiu
2,1%. Na bolsa de Paris, o índice CAC 40 ganhou 1,7% no período. Já o Ibovespa
perdeu 0,3% em meio à piora na percepção do risco fiscal.
Ou seja, o Brasil está desperdiçando a
oportunidade de aproveitar a trégua dada pelo Fed aos mercados globais. Mas, se
– pressionado pela inflação – o Fed acelerar o ritmo de redução de compras de
ativos nas próximas reuniões, antecipando, por tabela, a alta de juros, o
chilique pode ser grande.
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