sábado, 20 de agosto de 2022

Adriana Fernandes - Negociações para depois das eleições

O Estado de S. Paulo

O presidente eleito em outubro vai precisar do ‘velho Congresso’ para fechar o Orçamento

Enquanto na frente das câmeras os presidenciáveis disparam promessas aos eleitores, é nos bastidores que os atores políticos e econômicos já se movimentam nas negociações sobre o que fazer no dia seguinte das eleições.

Candidato a deputado federal por Alagoas, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deixou a campanha de lado nos últimos dois dias para se posicionar nesse debate.

Em evento no BTG, na quinta, Lira foi no ponto ao dizer que Lula, se eleito, terá de conviver de forma “harmônica” com ele de outubro a fevereiro (quando os deputados eleitos escolhem o novo presidente da Casa). São dois meses até a posse do presidente da República.

É nessa reta final do ano que o presidente eleito, seja quem for, precisará de apoio político do “velho Congresso” para aprovar um Orçamento que permita ao novo governo tocar os primeiros meses e garantir condições para a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 no dia 1.º de janeiro.

No tom do “quem mandará sou eu”, Lira deu a senha ao defender o redesenho do teto de gastos via a desindexação e desvinculação de receitas do Orçamento, proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não avançou. Ele tem conversado sobre isso com Guedes.

Em outro evento, organizado ontem pelo grupo Esfera Brasil, Lira disse que “nenhuma economia forte do planeta tem teto de gastos”.

Lira, que ajudou a comandar uma artilharia que minou a credibilidade fiscal, tenta agora retomar o discurso da responsabilidade fiscal para ficar no comando das discussões que lhe ajudem a ser reeleito à presidência da Câmara, mesmo no caso de Lula eleito.

A depender do apoio que tiver para sua reeleição à presidência da Câmara, Lira pode ajudar ou atrapalhar muito o início do governo.

Essa articulação política do próximo governo ditará os rumos da taxa de câmbio nos primeiros meses de 2023 e, consequentemente, da inflação.

Se o cenário for de incerteza sobre o aumento de gastos para bancar o Auxílio Brasil e as diretrizes para a nova regra fiscal, a volatilidade da taxa de câmbio aumentará, tornando mais difícil o trabalho do Banco Central para domar a inflação.

A percepção de risco fiscal precisa sair logo do radar também para diminuir os juros de longo prazo, que estão altos demais. Muita empresa endividada precisa que as taxas caiam para se financiar em condições melhores e evitar a quebradeira.

O jogo de 2023 está sendo jogado antes mesmo do resultado das urnas. •

 

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