Folha de S. Paulo
Dois séculos atrás, 94% dos terráqueos
viviam com menos de US$ 2 por dia
Você, leitor, trocaria de lugar com um
nobre inglês do ano 1200? É verdade que, se o fizesse, teria vários servos à
sua disposição e teria acesso aos benefícios políticos de ser um membro do
estamento superior. Mas teria de viver num castelo muito pouco confortável,
veria vários de seus filhos morrerem na infância e teria uma grande chance de
sucumbir por doenças hoje facilmente tratáveis. A diarreia matou dois reis ingleses;
a varíola, outros dois. E o mundo era bem mais pobre também.
Dois séculos atrás, 94% dos terráqueos viviam com menos de US$ 2 por dia (dólares de 2016). Em 2015, menos de 10% da população mundial vivia com menos de US$ 1,90 por dia. Dez por cento de 8 bilhões é muita gente, e US$ 1,90 por dia está longe de ser o resgate de um rei, mas parece inegável que houve progresso.
A pobreza absoluta, que já foi o estado
geral do planeta, é cada vez menos comum. Como o mundo enriqueceu? É a essa
pergunta que Mark Koyama e Jared Rubin tentam responder em "How the World
Became Rich". O que distingue esse livro de títulos semelhantes é que os
autores não se limitam a promover sua teoria favorita, mas recorrem a um
punhado delas e tentam articulá-las umas com as outras.
Assim, vamos encontrar explicações calcadas
na geografia, nas instituições, na demografia, na cultura e no colonialismo.
Separadas, todas elas exibem buracos, mas, juntas, dão uma ideia bem aproximada
de como diferentes nações se tornaram muito mais ricas nos últimos séculos.
É bom insistir que não existem receitas
infalíveis. Muitas vezes, o que funciona num contexto se torna desestabilizante
em outro. A partir do século 16, as partes do Novo Mundo que mais foram
agraciadas pela geografia se tornaram as colônias mais exploradas e, assim,
acabaram ficando com instituições piores, pelo que até hoje pagam um preço.
Basicamente, estamos melhorando, mas ainda há muito a fazer.
Um comentário:
Ótimo texto. Comecei " Por que as nações fracassam ", de Daron Acemoglu e tenho uma boa expectativa em relação ao livro. Outro que vai na direção apontada pelo colunista é o " Novo Iluminismo ", de Steven Pinker.
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