domingo, 23 de outubro de 2022

Hélio Schwartsman - Como o mundo enriqueceu

Folha de S. Paulo

Dois séculos atrás, 94% dos terráqueos viviam com menos de US$ 2 por dia

Você, leitor, trocaria de lugar com um nobre inglês do ano 1200? É verdade que, se o fizesse, teria vários servos à sua disposição e teria acesso aos benefícios políticos de ser um membro do estamento superior. Mas teria de viver num castelo muito pouco confortável, veria vários de seus filhos morrerem na infância e teria uma grande chance de sucumbir por doenças hoje facilmente tratáveis. A diarreia matou dois reis ingleses; a varíola, outros dois. E o mundo era bem mais pobre também.

Dois séculos atrás, 94% dos terráqueos viviam com menos de US$ 2 por dia (dólares de 2016). Em 2015, menos de 10% da população mundial vivia com menos de US$ 1,90 por dia. Dez por cento de 8 bilhões é muita gente, e US$ 1,90 por dia está longe de ser o resgate de um rei, mas parece inegável que houve progresso.

A pobreza absoluta, que já foi o estado geral do planeta, é cada vez menos comum. Como o mundo enriqueceu? É a essa pergunta que Mark Koyama e Jared Rubin tentam responder em "How the World Became Rich". O que distingue esse livro de títulos semelhantes é que os autores não se limitam a promover sua teoria favorita, mas recorrem a um punhado delas e tentam articulá-las umas com as outras.

Assim, vamos encontrar explicações calcadas na geografia, nas instituições, na demografia, na cultura e no colonialismo. Separadas, todas elas exibem buracos, mas, juntas, dão uma ideia bem aproximada de como diferentes nações se tornaram muito mais ricas nos últimos séculos.

É bom insistir que não existem receitas infalíveis. Muitas vezes, o que funciona num contexto se torna desestabilizante em outro. A partir do século 16, as partes do Novo Mundo que mais foram agraciadas pela geografia se tornaram as colônias mais exploradas e, assim, acabaram ficando com instituições piores, pelo que até hoje pagam um preço. Basicamente, estamos melhorando, mas ainda há muito a fazer.

  

Um comentário:

Mais um amador disse...

Ótimo texto. Comecei " Por que as nações fracassam ", de Daron Acemoglu e tenho uma boa expectativa em relação ao livro. Outro que vai na direção apontada pelo colunista é o " Novo Iluminismo ", de Steven Pinker.