sábado, 10 de dezembro de 2022

João Gabriel de Lima* - A democracia contra os extremistas

O Estado de S. Paulo

Cabe a cada país nomear seus bois, agarrá-los pelos chifres e submetê-los aos rigores da Justiça

A polícia alemã desbaratou, na quarta-feira, dia 7, uma organização que planejava um atentado contra o Parlamento do país. Foram presos 25 integrantes do Reichsburger, um grupo que armazenava armas e treinava militantes com o intuito de realizar atos terroristas. Investigam-se ainda 27 suspeitos de manter laços com a quadrilha ou apoiá-la financeiramente. Seu líder é o autodenominado príncipe Henrique XIII, descendente de nobres e renegado pela própria família.

“Foi entre os constitucionalistas alemães de 1945 que surgiu a distinção entre extremistas e radicais. Radicais são os que querem mudanças drásticas, mas dentro da Constituição. Extremistas são os que atuam de forma violenta contra a democracia”, diz o cientista político italiano Riccardo Marchi, estudioso do assunto, no minipodcast da semana. Segundo ele, a Alemanha tem um histórico de identificação e detenção de extremistas, talvez pela marca do passado nazista.

A ação da Justiça alemã evocou a invasão do Capitólio e a imagem do militante Jacob Anthony Chansley, apelidado de “xamã” – inesquecível em sua pintura facial com as cores da bandeira americana e um par de chifres pregados na testa. Por causa dele, os vândalos americanos ficaram conhecidos nas redes sociais como “os chifrudos do Capitólio”. A polícia dos Estados Unidos já efetuou mais de 700 prisões entre os fanáticos trumpistas.

Com indumentária bizarra ou delírios de nobreza, extremistas dão bons memes. O assunto, no entanto, é sério e é estudado na academia, que identifica padrões nos diferentes grupos. Um ponto em comum é acreditar em teorias conspiratórias, como as que veem em tudo um suposto “perigo vermelho” – como se a União Soviética não tivesse se dissolvido há mais de 30 anos. Outra é o aliciamento de integrantes do Exército e de forças policiais. “Na Alemanha, os militares são monitorados por causa disso, e algumas brigadas chegam a ser desativadas pela proximidade com extremistas”, diz Marchi.

A pluralidade de ideias, à esquerda e à direita, é saudável e desejável nas democracias. As exceções, como diz Marchi, são os que advogam a destruição da própria democracia. A invasão do Capitólio deixou cinco mortos e vários feridos. Felizmente os alemães agiram antes que houvesse vítimas.

As democracias vêm aprendendo, aos poucos, a identificar e punir seus extremistas. Cabe a cada país nomear seus bois, agarrá-los pelos chifres e – respeitado o devido processo legal – submetê-los aos rigores da Justiça. Alemães e americanos vêm fazendo isso, pelo bem de suas democracias. Dão um exemplo ao mundo. 

*Escritor, professor da Faap e doutorando em ciência política na Universidade de Lisboa

2 comentários:

Anônimo disse...

Ave, Xandão!
Ave, Dino!
Não demora, e a gente chega lá!
Bolsonaros na Papuda!

ADEMAR AMANCIO disse...

Paulo Freire também diferenciava os 'radicais' dos 'sectários',com prejuízo aos segundos,claro.