O Globo
Agora que teve o mandato cassado,
ex-procurador pode tentar outra carreira
Durou pouco a carreira parlamentar de Deltan
Dallagnol. O ex-procurador tomou posse como deputado em 1º de fevereiro.
Foi cassado na última terça-feira, em decisão unânime do Tribunal Superior
Eleitoral.
Os ministros entenderam que ele cometeu
fraude ao antecipar a saída do Ministério Público Federal para escapar da Lei
da Ficha Limpa.
Quando deixou o cargo de procurador, Dallagnol respondia a 15 procedimentos no Conselho Nacional do Ministério Público: nove reclamações disciplinares, uma sindicância, um pedido de providências e quatro recursos.
A renúncia impediu que as investigações
fossem adiante, o que vedaria o registro da candidatura. O ex-coordenador da
Lava-Jato disse que o TSE fez
“futurologia”, pois não era possível prever o desfecho dos casos. Faltou
lembrar que ele já havia sido condenado pelo mesmo CNMP em dois processos
administrativos disciplinares.
A incursão eleitoral não foi uma ideia
impensada. Dallagnol já discutia uma candidatura ao menos desde 2016, quando
pontificava como um desinteressado fiscal da lei. Em mensagem revelada pelo
Intercept Brasil, ele escreveu que seria “facilmente eleito” senador pelo
Paraná. Em outro diálogo, gabou-se de ter ouvido que a política estaria em seu
“destino”.
Enquanto fazia planos, o procurador usava o discurso anticorrupção para enriquecer. “Vamos
organizar congressos e eventos e lucrar, ok?”, disse para a mulher, em mais um
chat que explica muito sobre a República de Curitiba.
No recém-lançado “Operação impeachment”, o
cientista político Fernando Limongi faz um inventário das ações da Lava-Jato
para emparedar e inviabilizar o governo de Dilma Rousseff.
Depois de festejar o afastamento da
presidente, a força-tarefa amargou uma derrota quando a Câmara desfigurou as
chamadas Dez Medidas contra a Corrupção. Em tabelinha com o MPF, um dos filhos
de Jair
Bolsonaro recorreu ao Supremo para anular a votação.
“O fato de Eduardo
Bolsonaro ter sido o autor da ação que visou dar nova vida às Dez
Medidas é significativo. Mostra bem que os vínculos entre a Lava-Jato e a
direita radical são antigos e estreitos”, escreve Limongi.
Curiosamente, o Zero Três reapareceria ao
lado de Dallagnol na quarta-feira, quando o deputado cassado fez um
pronunciamento recheado de ataques ao TSE. O ato uniu a bancada bolsonarista em
desagravo ao ex-procurador.
Em 105 dias no Congresso, Dallagnol seguiu
à risca a cartilha da extrema direita. Difundiu teorias conspiratórias sobre o
8 de janeiro e foi acusado de calúnia ao insinuar que o ministro Flávio Dino
teria feito acordo com o narcotráfico para visitar uma favela.
Para assustar o eleitorado religioso, o
ex-procurador também propagou a mentira de que o PL das Fake News censuraria
versículos da Bíblia. Agências de checagem mostraram que a informação era
falsa, mas ele nunca se corrigiu.
Em entrevista à GloboNews após a cassação,
Dallagnol fez novos ataques ao TSE, disse ser vítima de um complô e atribuiu
sua entrada na política a uma “cosmovisão cristã”. “A partir da Parábola dos
Talentos, entendi que o que o melhor que poderia fazer com aquilo que Deus
colocou nas minhas mãos era servir o povo através do Parlamento”, afirmou.
Agora que perdeu o mandato, ele pode tentar
a carreira de pastor.
Um comentário:
Ele tem tudo para ser pastor mesmo,manjo bem.
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