sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Dominância política - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A deterioração das contas públicas e a esticada dos juros levou alguns comentaristas a denunciar o risco de dominância fiscal, situação em que o avanço do rombo fica tão inevitável que tira capacidade da política monetária (política de juros) exercida pelo Banco Central de combater a inflação.

É cedo para apostar nesse enrosco. O que se pode dizer é que a desarrumação da economia tende a produzir o que poderá ser chamado de dominância política – quando as opções eleitorais do governo e dos maiorais do Congresso acabam por prevalecer sobre as decisões de política econômica.

Neste 2025, não haverá eleições, mas o climão eleitoral, de olho na sucessão presidencial, na dos governadores e na de renovação do Senado, em 2026, acabará por permear toda a atividade política.

A reforma trabalhista do período Temer já deu o que tinha de dar. E a reforma tributária, que não foi lá uma Brastemp, mas a que saiu, ainda vai demorar alguns anos para começar a produzir os efeitos positivos, especialmente em simplificação do sistema tributário. Ou seja, por essas vias ligadas à modernização da economia, não há muito com o que contar ao longo de 2025.

O passado próximo nos induz a temer que o jogo eleitoral acabe por ampliar os desequilíbrios da economia. Foi assim em 2010, em 2014 e em 2022.

Como já avaliado em colunas anteriores, para atender a seus objetivos eleitorais, o presidente Lula terá de optar por um entre dois caminhos: ou tratará de dar força para a responsabilidade fiscal e para os cuidados com a solidez dos fundamentos da economia, para que a percepção do eleitor não aponte para o pior; ou preferirá despejar ainda mais despesas sociais, distribuir renúncias tributárias e uma profusão de créditos subsidiados, na tentativa de assegurar a boa vontade do eleitor para o próximo pleito.

Difícil saber para que lado olhará Margarida. O que se pode dizer é que, tanto para o presidente Lula como para as forças à esquerda do espectro partidário que o apoiam, falta convicção de que seja necessário um ajuste sério. É gente que prefere empurrar as soluções dos problemas com a barriga ou entregar pacotinhos para tentar sossegar os rendeiros e a turma da Faria Lima, como o que acaba de ser aprovado.

A partir daí, aumentam as incertezas sobre a estabilização da dívida pública, sobre o comportamento da inflação, sobre a trajetória do câmbio e dos juros, cronograma de investimentos... e por aí vai.

Se for confirmada a piora das condições financeiras, aumentará o custo do refinanciamento da dívida e, outra vez, as despesas tenderão a ultrapassar a arrecadação de impostos.

Parece improvável que o presidente Lula concorde com essa avaliação, embora seus ministros da área econômica o venham advertindo para esses riscos. Isso sugere que será preciso que a situação piore antes de que comece a melhorar.

 

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