O Estado de S. Paulo
Se é verdade que no Brasil o ano político e
econômico só começa depois do carnaval, é preciso ver se é para apertar os
cintos, especialmente depois que Zelenski foi humilhado na Casa Branca; Gleisi
Hoffmann foi para a articulação política do governo Lula, mesmo após avaliações
negativas de aliados do presidente Lula; e que a cotação do dólar saltou aqui
para os R$ 5,91.
Após a Quarta-Feira de Cinzas três coisas vão acontecer no Brasil na área econômica. Na sexta-feira, dia 7, sai o PIB de 2024; quarta-feira, dia 12, o IPCA de fevereiro; e, por esses dias, o governo promete decisões para tentar reduzir a inflação que contribui para o derretimento da aprovação da administração Lula.
O avanço do PIB deverá ficar em torno dos
3,4%. É faca de dois gumes. O lado bom é o de que um crescimento forte indica
importante avanço da renda e contribui para a redução da dívida bruta em
relação ao tamanho da economia. O lado negativo é o de que, em boa parte, esse
crescimento está sendo obtido por meio de doping na economia, com aumento das
despesas públicas – que puxam artificialmente pelo consumo sem que o setor
produtivo dê conta do recado (aumento do hiato do produto). O resultado é a
excessiva demanda e inflação.
A evolução do IPCA de fevereiro (inflação)
deverá subir, após o avanço do IPCA-15 (prévia) de 1,25%, condição que deverá
puxar a inflação em 12 meses para mais perto dos 5%. Mas a questão mais
importante dessa febre não está na crueza dos números. Está na percepção do
consumidor, especialmente o das classes médias, de que a alta o está
empobrecendo. Daí o impacto sobre os índices de popularidade do governo Lula,
que vão desabando.
O governo parece perdido no diagnóstico e no
procedimento. Começou por culpar o consumidor por não ser capaz de substituir o
produto mais caro pelo sucedâneo mais barato. Ou entende que a inflação é o
resultado da especulação praticada pelos “atravessadores” e de exportações
excessivas. Daí por que fala em convocar para conversas atacadistas e
administradores de supermercados. Também ameaça taxar exportações ou reduzir a
zero o imposto de importação de alguns produtos, especialmente os de óleos
vegetais.
Se for por aí, o governo terá que enfrentar
problemas com o agronegócio, sem garantia de que atacará a inflação, que tem
outras causas, especialmente a gastança federal.
Sobra a atuação do Banco Central, que não
terá outra opção senão puxar pelos juros e segurar a esticada do dólar. A
atividade econômica está em desaceleração, também em consequência da conjuntura
geopolítica e da retração externa, situação que está longe de configurar uma
recessão.
A questão central não está na frieza dos
números, mas na percepção de que o governo está perdendo o pé na condução da
economia. Nesse ponto, o efeito mais contundente tende a resvalar para a área
política, que é por onde o brasileiro poderá ter de apertar o cinto para
enfrentar turbulências. A conferir.
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