domingo, 2 de março de 2025

O piloto vacila – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Se é verdade que no Brasil o ano político e econômico só começa depois do carnaval, é preciso ver se é para apertar os cintos, especialmente depois que Zelenski foi humilhado na Casa Branca; Gleisi Hoffmann foi para a articulação política do governo Lula, mesmo após avaliações negativas de aliados do presidente Lula; e que a cotação do dólar saltou aqui para os R$ 5,91.

Após a Quarta-Feira de Cinzas três coisas vão acontecer no Brasil na área econômica. Na sexta-feira, dia 7, sai o PIB de 2024; quarta-feira, dia 12, o IPCA de fevereiro; e, por esses dias, o governo promete decisões para tentar reduzir a inflação que contribui para o derretimento da aprovação da administração Lula.

O avanço do PIB deverá ficar em torno dos 3,4%. É faca de dois gumes. O lado bom é o de que um crescimento forte indica importante avanço da renda e contribui para a redução da dívida bruta em relação ao tamanho da economia. O lado negativo é o de que, em boa parte, esse crescimento está sendo obtido por meio de doping na economia, com aumento das despesas públicas – que puxam artificialmente pelo consumo sem que o setor produtivo dê conta do recado (aumento do hiato do produto). O resultado é a excessiva demanda e inflação.

A evolução do IPCA de fevereiro (inflação) deverá subir, após o avanço do IPCA-15 (prévia) de 1,25%, condição que deverá puxar a inflação em 12 meses para mais perto dos 5%. Mas a questão mais importante dessa febre não está na crueza dos números. Está na percepção do consumidor, especialmente o das classes médias, de que a alta o está empobrecendo. Daí o impacto sobre os índices de popularidade do governo Lula, que vão desabando.

O governo parece perdido no diagnóstico e no procedimento. Começou por culpar o consumidor por não ser capaz de substituir o produto mais caro pelo sucedâneo mais barato. Ou entende que a inflação é o resultado da especulação praticada pelos “atravessadores” e de exportações excessivas. Daí por que fala em convocar para conversas atacadistas e administradores de supermercados. Também ameaça taxar exportações ou reduzir a zero o imposto de importação de alguns produtos, especialmente os de óleos vegetais.

Se for por aí, o governo terá que enfrentar problemas com o agronegócio, sem garantia de que atacará a inflação, que tem outras causas, especialmente a gastança federal.

Sobra a atuação do Banco Central, que não terá outra opção senão puxar pelos juros e segurar a esticada do dólar. A atividade econômica está em desaceleração, também em consequência da conjuntura geopolítica e da retração externa, situação que está longe de configurar uma recessão.

A questão central não está na frieza dos números, mas na percepção de que o governo está perdendo o pé na condução da economia. Nesse ponto, o efeito mais contundente tende a resvalar para a área política, que é por onde o brasileiro poderá ter de apertar o cinto para enfrentar turbulências. A conferir.

 

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