O Globo
A escolha de Gleisi Hofmann mostra que a reforma ministerial anunciada por Lula não tem o objetivo de ampliar sua base
A escolha de Gleisi Hoffmann para o
ministério das Relações Institucionais, que trata da relação política do
governo com o Congresso, mostra claramente que a reforma ministerial anunciada
por Lula não tem o objetivo de ampliar a base de apoio governista, nem de
tornar realidade o governo de frente ampla prometido na campanha presidencial.
Ao contrário, marca a confirmação de que o governo Lula 3 será mais do que
nunca um governo de petistas, mesmo assim de uma parte dos petistas, não de
todos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não está contemplado nessa turma, pois tem sido frequente alvo de críticas de Gleisi. A explicação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, para justificar a escolha parece bizarra. Diz ele que colocar a ex-presidente do PT no ministério é uma maneira de “proteger” Haddad, pois Gleisi não terá mais liberdade para criticar o ministro da Fazenda.
Me parece mais provável que a manobra seja no
sentido de enfraquecer Haddad para retirá-lo de cena, substituindo-o por um
ministro mais adepto do desenvolvimentismo, como, por exemplo, Aloizio
Mercadante, que dirige o BNDES. Mercadante, aliás, deveria ter sido o primeiro
ministro da Fazenda de Lula, em 2003, mas foi eleito senador com uma votação
expressiva, e disse a Lula, antecipando-se a uma decisão que parecia a todos,
inclusive a ele, natural, que não poderia aceitar um eventual convite por
sentir-se responsável diante dos eleitores pelos votos conseguidos, e gostaria
de exercer o mandato.
As más línguas contam que Lula teria
comentado ser um homem de sorte, pois pretendia colocar na Fazenda Antônio
Palocci. Que, aliás, foi fundamental para o êxito do primeiro mandato. Essa
segunda parte do governo Lula 3 parece destinada a repetir o ímpeto
desenvolvimentista do segundo mandato, que acabou sendo aparentemente exitoso,
com o presidente terminando seu mandato com cerca de 80% de aprovação, e a
eleição de Dilma Rousseff para sucedê-lo.
O desequilíbrio fiscal provocado pelos gastos
excessivos para eleger Dilma conseguiu um crescimento do PIB de 7,5%, o maior
desde 1986. No entanto, o governo Dilma teve dificuldade de equilibrar as
contas públicas enquanto tentava manter o crescimento, e terminou seu mandato
com um PIB de 0,1%, em meio a uma crise econômica que a obrigou a tentar fazer
um cavalo de pau na condução do governo, convidando o economista conservador
Joaquim Levy para o ministério da Fazenda em lugar de Guido Mantega.
Este substituíra Palocci e aplicou o que se
chamou de uma uma “nova matriz econômica”, com resultados desastrosos que
levaram à crise do impeachment de Dilma. A insistência de Lula em uma política
desenvolvimentista sem cuidar de suas bases estruturais pode indicar que ele
continua pensando em candidatar-se à reeleição.
“Fritar” o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, como aparenta fazer nos meses recentes, deixará mais claro ainda esse
desejo, pois o partido não tem ninguém para substituí-lo no papel de candidato
a Presidente. A reforma ministerial, por si só, será indicativo suficiente para
definir a rota de Lula. Se for uma mexida para acomodar seus parceiros do PT é
sinal de que o sonho da frente ampla não se conforma à sua realidade, e Lula
terá escolhido se valer apenas do antagonismo ao bolsonarismo, seja em pele de
quem ele se apresentar, para se eleger pela quarta vez.
Será, de certa maneira, o contrário daquele
que se apresentou como defensor da democracia buscando um governo de coalizão
nacional. Um candidato mais moderado dentro do bolsonarismo poderá ser mais
difícil de derrotar do que o próprio Bolsonaro, que está inelegível. Lula terá
sorte se Bolsonaro, obrigado a desistir pela Justiça, escolher ser representado
por um membro de sua família.
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