O Estado de S. Paulo
Confronto entre empresas dos EUA e Moraes é parte da ingerência política de Trump no Brasil
Oque começou como embate entre duas empresas
americanas e o ministro Alexandre de Moraes evoluiu para um ataque do
Departamento de Estado à justiça e à democracia do Brasil e uniu os ministros
do Supremo e também o Judiciário com o Executivo, em nome da soberania e da
autodefesa nacional. Escalou, portanto, para um confronto político entre os
dois países.
Quando a nota americana saiu, acusando o Brasil de decisões “incompatíveis com valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão”, houve dois movimentos rápidos. O chanceler Mauro Vieira articulou uma nota do Itamaraty em resposta, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro divulgava nas redes um texto a favor da nota de Washington e contra a posição brasileira.
Vieira, que estava na reunião preparativa da
Cúpula dos Brics no Itamaraty, ligou para Moraes, reuniu assessores e já saiu
para o Planalto com a primeira minuta da nota de repúdio pronta para a
aprovação de Lula. Detalhe: a versão original era ainda mais dura, mas foi
amenizada no processo de divulgação.
Mesmo assim, a nota final, distribuída já à
noite e combinada com Moraes, foi tons acima da linguagem diplomática
protocolar, acusando o Departamento de Estado de “distorcer decisões do
Supremo”, destacando a liberdade de expressão como “direito consagrado” e lembrando
que o Brasil foi “alvo de uma orquestração antidemocrática baseada na
desinformação em massa, divulgada em mídias sociais”.
Já a reação de Bolsonaro, atacando as
instituições nacionais por “se virarem contra as liberdades e os desejos do
povo”, chamou a atenção por três pontos principais: por ter sido divulgado logo
depois, pelo inglês impecável, ironizado por um embaixador como
“Shakespeareano”, e pelo tom perigosamente antinacionalista – no sentido oposto
do seu marketing.
Tudo somado, a “guerra” atingiu o patamar
político, com Donald Trump usando uma de suas empresas para atacar o Supremo,
confrontar o governo brasileiro e tomar partido numa questão interna,
doméstica, do Brasil – o que agride princípios básicos do direito internacional
e da boa diplomacia, no ano do julgamento do golpe e anterior às eleições
gerais.
Pairando no ar, há Elon Musk, que já
enfrentou Moraes e perdeu, está no coração do governo Trump e tem domínio sobre
a nova bomba atômica: as redes sociais. Trump e Musk agem como imperadores da
maior potência, movidos pela ambição de dominar o planeta e impor suas crenças,
vontades e idiossincrasias pessoais. Há que distinguir os países e instituições
que estão nesse jogo daquelas que articulam a resistência. Como no nazismo.
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