Valor Econômico
É interessante para presidente inviabilizar o fantasma Ciro, amarrando o PDT ao seu governo
Demitir o ministro da Previdência
Social, Carlos Lupi, é uma operação de custo
político significativamente maior para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do
que foi exonerar o deputado Juscelino
Rezende Filho do Ministério das Comunicações. Em que pese
ter eclodido no ministério de Lupi o maior escândalo de corrupção neste
governo, com as denúncias de descontos fraudulentos nas aposentadorias de
segurados do INSS, o ministro tem densidade política.
Trata-se de um dos dois únicos presidentes de partido com assento na Esplanada dos Ministérios. No caso, o PDT, com 17 deputados federais e três senadores. O outro caso é o de Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, dirigente do pequeno PCdoB. A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, renunciou à presidência do PT para assumir seu cargo.
O PDT é o único dos
partidos de esquerda que tem um presidenciável para 2026 distante do Palácio do
Planalto, o ex-governador cearense Ciro Gomes, veterano de candidaturas
presidenciais.
Ciro teve um desempenho humilhante em 2022,
ficando com 3% e perdendo pela primeira vez em Sobral, seu reduto provinciano
no Ceará, mas engana-se quem o dê por morto. Na política, já dizia Churchill,
morre-se muitas vezes.
Incluído em pesquisas presidenciais, Ciro por
vezes consegue percentuais semelhantes ao que registrava em pesquisas e
eleições antes do vexame de três anos atrás. O Datafolha coletado de 1 a 3 de
abril colocou Ciro em seis dos sete cenários pesquisados. Em nenhum obteve
menos do que 11%.
Ele tira votos de Lula, ou ao menos é visto
pelo eleitor como alternativa ao presidente, conforme se pode deduzir do
cenário G, em que o candidato petista é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Nesta simulação Ciro pula do patamar entre 11% e 12% para 20%, o que o coloca
três pontos percentuais à frente do nome do PT, perdendo apenas para o
ex-presidente Jair Bolsonaro.
A moral da história é que é interessante para
Lula inviabilizar o fantasma Ciro, amarrando o PDT a seu governo e a uma
candidatura a reeleição em 2026. Foi essa lógica que proporcionou a Lupi um
ministério. A mesma lógica o mantém na Esplanada.
Ciro tem negado a intenção de disputar a
Presidência ou qualquer outro cargo eletivo em 2026, mas no mês passado foi a
estrela de um jantar em Brasília promovido pelo líder do PDT na Câmara, Mario
Heringer (MG). Em entrevista na semana passada à Rádio Itatiaia, Heringer disse
a quem se dispôs a ouvir que vê em Ciro “a esperança que nosso país precisa”.
O problema para uma chantagem do PDT
funcionar neste momento é a gravidade dos fatos em si. O escândalo de descontos
nas aposentadorias atinge o governo em várias camadas: reaviva o estigma de
corrupção, atinge um segmento da população dependente de transferências diretas
e sinaliza para a incúria administrativa, uma vez que as denúncias de fraudes
em convênios com entidades assistenciais são antigas.
O desgaste de manter Lupi no ministério pode
corroer a imagem do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que só
agora começava a estancar a queda livre do último verão. Lula não só não
poderia voltar a cair, mas precisava se recuperar para iniciar a corrida
eleitoral de 2026 no modo competitivo.
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