terça-feira, 29 de abril de 2025

Demissão de Lupi tem custo político para Lula, e mantê-lo também - César Felício

Valor Econômico

É interessante para presidente inviabilizar o fantasma Ciro, amarrando o PDT ao seu governo

Demitir o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, é uma operação de custo político significativamente maior para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que foi exonerar o deputado Juscelino Rezende Filho do Ministério das Comunicações. Em que pese ter eclodido no ministério de Lupi o maior escândalo de corrupção neste governo, com as denúncias de descontos fraudulentos nas aposentadorias de segurados do INSS, o ministro tem densidade política.

Trata-se de um dos dois únicos presidentes de partido com assento na Esplanada dos Ministérios. No caso, o PDT, com 17 deputados federais e três senadores. O outro caso é o de Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, dirigente do pequeno PCdoB. A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, renunciou à presidência do PT para assumir seu cargo.

O PDT é o único dos partidos de esquerda que tem um presidenciável para 2026 distante do Palácio do Planalto, o ex-governador cearense Ciro Gomes, veterano de candidaturas presidenciais.

Ciro teve um desempenho humilhante em 2022, ficando com 3% e perdendo pela primeira vez em Sobral, seu reduto provinciano no Ceará, mas engana-se quem o dê por morto. Na política, já dizia Churchill, morre-se muitas vezes.

Incluído em pesquisas presidenciais, Ciro por vezes consegue percentuais semelhantes ao que registrava em pesquisas e eleições antes do vexame de três anos atrás. O Datafolha coletado de 1 a 3 de abril colocou Ciro em seis dos sete cenários pesquisados. Em nenhum obteve menos do que 11%.

Ele tira votos de Lula, ou ao menos é visto pelo eleitor como alternativa ao presidente, conforme se pode deduzir do cenário G, em que o candidato petista é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nesta simulação Ciro pula do patamar entre 11% e 12% para 20%, o que o coloca três pontos percentuais à frente do nome do PT, perdendo apenas para o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A moral da história é que é interessante para Lula inviabilizar o fantasma Ciro, amarrando o PDT a seu governo e a uma candidatura a reeleição em 2026. Foi essa lógica que proporcionou a Lupi um ministério. A mesma lógica o mantém na Esplanada.

Ciro tem negado a intenção de disputar a Presidência ou qualquer outro cargo eletivo em 2026, mas no mês passado foi a estrela de um jantar em Brasília promovido pelo líder do PDT na Câmara, Mario Heringer (MG). Em entrevista na semana passada à Rádio Itatiaia, Heringer disse a quem se dispôs a ouvir que vê em Ciro “a esperança que nosso país precisa”.

O problema para uma chantagem do PDT funcionar neste momento é a gravidade dos fatos em si. O escândalo de descontos nas aposentadorias atinge o governo em várias camadas: reaviva o estigma de corrupção, atinge um segmento da população dependente de transferências diretas e sinaliza para a incúria administrativa, uma vez que as denúncias de fraudes em convênios com entidades assistenciais são antigas.

O desgaste de manter Lupi no ministério pode corroer a imagem do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que só agora começava a estancar a queda livre do último verão. Lula não só não poderia voltar a cair, mas precisava se recuperar para iniciar a corrida eleitoral de 2026 no modo competitivo.

 

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