terça-feira, 29 de abril de 2025

Escandalosa imprevidência – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Carlos Lupi está mais enrolado do que linha em carretel e, no rolo, leva o governo junto

Muito antes da criação do PT, no início dos anos 1970, Luiz Inácio da Silva cuidava da diretoria de Previdência Social e FGTS no sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em São Paulo. Era responsável pelos benefícios.

Não só, mas também por isso, o agora presidente da República tem perfeita noção do potencial de estrago que fraudes naquela área podem causar a um governo.

É escândalo de fácil compreensão e de difícil explicação por parte de quem tem o poder de estancar esse tipo de sangria ao bolso de aposentados e pensionistas. Além disso, tem-se a volta à cena do crime o tema da corrupção.

Daí a razão de Lula ter dado urgência ao caso dos desvios bilionários no INSS, mandando demitir o presidente do órgão, a despeito da relutância do ministro da Previdência, Carlos Lupi, e pondo em marcha uma ofensiva para tirar o corpo fora da reta do prejuízo. Por essa versão, o governo atual seria denunciante e não denunciado.

Soa fictícia, no entanto, essa descrição dos fatos. Não combina com eles a constatação de que o roubo era de milhões na gestão de Jair Bolsonaro (PL) e foi à casa dos bilhões a partir de 2023. Isso sob o olhar complacente de Lupi, cuja difícil situação não melhorou com as entrevistas que foi instado (pelo presidente) a dar no fim de semana.

Para começo de conversa, disse desconhecer a razão da demissão de Alessandro Stefanutto, em desarmonia com a ordem de Lula. Afirmou não ter sido omisso, mesmo admitindo saber "de tudo o que estava acontecendo". Ainda assim não lhe ocorreu suspender os pagamentos para proteger os lesados.

Sobre isso, ensaiou as seguintes explicações: os alertas não tinham provas, o Dataprev falhou na biometria, a Previdência é um sistema gigantesco, tudo é muito demorado e complexo na administração pública e, enfim, é preciso dar o benefício da dúvida aos envolvidos porque não se pode "generalizar".

Carlos Lupi está mais enrolado do que linha em carretel. E no rolo leva o governo junto.

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