terça-feira, 29 de abril de 2025

União Alcolumbre - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O União Brasil não é partido político. Tampouco agremiação rachada – o que pressuporia haver estado unida. Nunca esteve. Fragmentação que os seus operam, tanto para vender terrenos na lua quanto para tirar o corpo fora quando ante a impossibilidade de entregar os lotes.

Trata-se de uma confederação de oportunismos-patrimonialismos, cujos grupos se articulam e cooperam – disputam e se afastam – em função de interesses específicos eventuais. Dinâmica que constitui a própria negação do minimamente necessário à composição de base de apoio parlamentar.

Abrigo formal a projetos os mais díspares, o pulverizado União Brasil não tem corpo para garantir suporte a governo. Estando no governo, porém, não abrirá mão do espaço. Na hora de deliberação importante, tenha um ou dez ministérios, negociará caso a caso e votará conforme a oferta de emendas na ocasião.

Quando se dá ministério ao União Brasil, não se lhe dá – e sim a uma de suas federações. Quando o União Brasil não vota com o governo e é cobrado, a razão será porque a pasta fora dada a um de seus grupos. Apelase à natureza fracionada da cousa. Quando o Planalto especula sobre tirar o ministério da federação aquinhoada, aí vem a ordem para reunir – e a cadeira será do União Brasil, de súbito se reivindicando como conjunto.

A de Alcolumbre é a maior dessas federações. Grande a ponto de ser maior que o União Brasil e usá-lo como escada. A sucessão no Ministério das Comunicações explica. A questão sempre fora apenas escolher qual seria o juscelino substituto. Escolha de Alcolumbre, que tentaria se alargar à custa do Planalto.

Em sociedade com Antonio Rueda, presidente da confederação, o primeiro nome lançado foi o de Pedro Lucas Fernandes, líder do União Brasil na Câmara. Lula comprou. O projeto do presidente do Senado era manter o controle sobre as Comunicações por meio do novo juscelino e colocar o denunciado filho, o juscelino demitido, na liderança do bicho – com o que ampliaria presença na Câmara.

Federações menores, algumas de oposição, sacaram a jogada e reagiram, ameaçando tomar o lugar, donde haver Fernandes decidido ficar. Ele e Rueda sairiam da troca com menos força. O posto que era de Elmar Nascimento controla muito mais dinheiro em orçamento secreto do que o Ministério das Comunicações tem para investir, depois do arranjo informal que criou, parasitando as emendas de comissão, a emenda de líder partidário.

Vexame para o governo e, ainda assim, bola com Alcolumbre. Que então concebeu um juscelino ao mesmo tempo não filiado ao União Brasil e avalizado pelo União Brasil; como Waldez Góes, ministro da Codevasf, que, representante da federação alcolúmbrica, será do União Brasil a depender da circunstância. O União Brasil como fachada ao exercício de um dos maiores poderes da República pós-ditadura.

O governo Lula não precisa do União Brasil. Depende de Alcolumbre. •

 

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