Folha de S. Paulo
Próximos lances dirão se medidas adotadas por
novo chefe da comunicação do governo bastarão para conter danos à imagem da
gestão
Não há são Sidônio que faça milagre aqui. A
nova eminência parda do governo Lula fez o
que tinha de fazer diante do escândalo dos descontos indevidos em
aposentadorias e pensões do INSS.
Sidônio Palmeira instruiu a administração a suspender os repasses às entidades, a prometer ressarcir os prejudicados, cuidou para que uma alta autoridade, o presidente do INSS, fosse demitida e tentou emplacar uma narrativa favorável ao governo, destacando que o escândalo veio à tona em investigação da própria gestão e que os descontos suspeitos tiveram início bem antes de Lula tomar posse.
Não sei se bastará. Há detalhes que favorecem
leituras menos benignas para o governo, como o fato de que um dos sindicatos
que mais se beneficiou com o esquema tem um irmão
de Lula como dirigente. Interpretações à parte, há também uma questão
substantiva que me parece de fato irrespondível.
Reportagem da TV Globo mostrou que o problema
das fraudes em descontos foi levado pessoalmente, por fonte crível, ao ministro
da Previdência, Carlos
Lupi, em junho de 2023. A presteza com que o governo agiu agora,
suspendendo os repasses, indica que a pasta poderia ter adotado a mesma medida
tempos atrás, poupando velhinhos de quase dois anos de subtração de benefícios.
Lupi, aliás, já se movimenta como se seu
cargo estivesse na berlinda. Lula tem notória dificuldade para demitir
ministros, sobretudo aqueles com os quais tem ligação pessoal, mas sua
solidariedade só vai até certo ponto.
A pergunta que lanço é se faz sentido que o
Estado atue como agente coletor de dinheiro que vai para instituições não
públicas. Exceto pelos empréstimos
consignados (sem o desconto automático o aposentado não tem acesso ao
juro menor), eu acho que não. O presente escândalo é um ótimo argumento a favor
dessa tese.
Se queremos ter certeza de que o pagamento é
de fato voluntário, não há melhor instrumento do que o bom e velho boleto, que
exige a decisão concreta de enviar determinado valor a determinada entidade.
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