quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Míriam Leitão:: Lado B do dólar

DEU EM O GLOBO

Quando o real sobe, aumenta o choro dos exportadores. Mas inúmeras empresas ganham com a queda do dólar. Há um outro lado dessa moeda. Um empréstimo da Petrobras no BNDES ficou R$1,9 bilhão mais barato. Estudo da Economática em 78 empresas de capital aberto mostra uma queda forte de custos financeiros em empresas endividadas. Quando o dólar cai, aumenta o investimento.

O economista Affonso Celso Pastore explica que no Brasil existe uma forte correlação entre dólar fraco, importação de máquinas, e investimentos. O real se valoriza; o preço dos importados cai; as empresas aproveitam para investir (vejam nos gráficos abaixo).

- No Brasil, a formação bruta de capital fixo é muito dependente das importações. As importações se elevam com a valorização do câmbio real, e isto significa que esta valorização reduz o preço relativo das máquinas importadas, que são fundamentais para a realização dos investimentos - disse.

Com a recessão do final do ano passado, os investimentos no país despencaram. E o dólar fraco está ajudando a reverter esse quadro. Pelos dados do IBGE, depois de nove trimestres seguidos de crescimento, a formação bruta de capital fixo encolheu 9,1% no 4º trimestre de 2008 e 12,3% no 1º trimestre deste ano. No 2º trimestre, houve estagnação. E os próximos dados que o IBGE vai divulgar, no mês que vem, mostrarão que o PIB cresceu com forte aumento do investimento. O economista Luiz Roberto Cunha, da Puc-Rio, lembra que para o país crescer a taxas de 5%, 6%, é fundamental recuperar o ritmo de investimentos.

- Sem dúvida, há correlação entre queda do dólar e aumento de investimentos. E reduzir o custo dos investimentos é muito importante para um país que pretende crescer forte. Isso ajuda todos os setores da economia, inclusive os próprios exportadores - explicou.

Há outros ganhos. A Economática pesquisou o balanço de 78 companhias de capital aberto do país e constatou que os gastos para cobrir despesas financeiras caíram de 40% no 4º trimestre de 2008 para 5,2% no 3º trimestre de 2009. Isso porque uma grande parte da dívida das empresas era em dólar.

- Isso quer dizer que menos dinheiro está indo para o ralo - diz Fernando Exel, presidente da Economática.

O balanço da Petrobras mostrou que o efeito câmbio sobre um empréstimo de R$25 bilhões que a estatal pegou junto ao BNDES - corrigido pela moeda americana - fez com que ele ficasse R$1,9 bilhão mais barato. O impacto da variação cambial no balanço da empresa foi positivo em R$707 milhões.

O especialista em energia Adriano Pires disse que a Petrobras economizou R$4 bilhões na importação de petróleo e derivados de janeiro a setembro deste ano por causa da desvalorização do dólar. A Petrobras importa principalmente óleo leve e diesel.

A Cesp (Companhia Energética de São Paulo) teve lucro no 3º trimestre deste ano porque sua dívida em dólar diminuiu. A dívida total caiu 6,9% no 3º trimestre, na comparação com o anterior, enquanto a dívida em moeda estrangeira despencou 9,6%.

A queda do dólar também segura a inflação porque reduz o custo de produtos com componentes importados. No atacado, o efeito é mais nítido. Os preços das matérias-primas agrícolas e minerais diminuem porque são cotados em dólar. O IGP-M, da FGV, está com deflação em 12 meses terminados em outubro: -1,31%. Os preços agrícolas ficaram em um ano 4,21% negativos.

Por outro lado, dólar fraco reduz a competitividade da exportação brasileira. Luiz Roberto Cunha lembra, no entanto, que a valorização do real faz parte do movimento geral de alta das moedas em relação ao dólar. É difícil lutar contra isso.

- É importante lembrar que os concorrentes do Brasil também estão passando pelo mesmo processo porque o dólar está se desvalorizando perante quase todas as moedas - disse.

Há outras formas de tornar o produto brasileiro mais competitivo, diz Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, como melhorar a infraestrutura, diminuir o custo de impostos e encargos sociais. Mas para isso é preciso fazer um longo dever de casa.

Nenhum comentário: