terça-feira, 3 de março de 2009

Dificuldades à frente

Janio de Freitas
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


A Frente Contra a Corrupção, a que deputados pretendem dar início, depende vitalmente do apoio da classe média

A FRENTE Contra a Corrupção, a que 30 deputados pretendem dar início logo mais, surge em ocasião muito oportuna, mas é uma dessas boas iniciativas que tendem a esfumar-se pouco além dos primeiros degraus. Sua sobrevida depende de um fator cada vez mais rarefeito.

Em seguida à promissora mobilização de cidadania nos sucessivos episódios das Diretas-Já, da morte de Tancredo, do Plano Cruzado e do afastamento de PC Farias-Collor, a reversão se impôs e a despolitização faz dos brasileiros, hoje, um oceano de indiferença e omissão. E, no entanto, uma iniciativa como a Frente Contra a Corrupção depende vitalmente do apoio que receba de fora da Câmara (e do Senado, se nele interessar alguém).

Esse apoio só pode ser da classe média, mais ciente do tema, e até porque o movimento sindical foi extinto pelo governo Lula, depois de oito anos de estado de coma no governo Fernando Henrique. A classe média, por sua vez, só pode despertar um pouco, em alguns dos seus segmentos, se muito sacudida pela imprensa. O que depende de fatores variados segundo a área na imprensa/TV, e também da capacidade dos integrantes da Frente de espicaçar o interesse jornalístico.

Material não falta. Que o diga o senador Jarbas Vasconcelos. Diga mesmo, espera-se, no discurso prometido também para logo mais, com a resposta às críticas à sua aplaudida acusação de que ao PMDB, seu partido, o que interessa são oportunidades de corrupção. PMDB que já oferece, na pessoa de Edison Lobão, um ponto de partida interessante para a Frente.

Se, como ministro (sic) de Minas e Energia, Lobão denunciou a ocorrência de "bandidagem, safadeza" na diretoria do fundo de pensão Real Grandeza, dos funcionários e pensionistas de Furnas Centrais Elétricas, tem o dever (não se diga que dever moral) de expor os fundamentos da acusação. E explicar por que, a despeito da acusação, agora comunica que os "bandidos e safados" não mais serão incomodados até o fim do seu mandato, em outubro.Se não tem como sustentar a acusação, justifica o interesse da Frente e de um processo criminal por usar governo e falsidade como armas no golpe que pretendeu derrubar dois diretores do fundo, para entregar o movimento desse caixa de R$ 6,5 bilhões a testas-de-ferro do PMDB de Lobão e outros.

Material não falta. Para a Frente e para o senador Jarbas Vasconcelos. Será ótimo se não lhes faltarem também outras coisas necessárias.

Silêncio

Hugo Chávez está condenado a calar-se por três dias. Condenado pelo médico, que diagnosticou uma infecção de garganta. É claro que quem falou sobre o silêncio exigido foi o próprio Chávez.

O que lembra episódio recente, no Fórum Social Mundial realizado em Belém.

Na apresentação dos presidentes convidados, cada um recebeu 20 minutos para sua intervenção. Chávez quis falar depois de Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo. Nenhuma objeção, e os três usaram seus respectivos 20 minutos. Chávez, feita a referência a "mis veinte minutos", foi-se às falas. De repente, recebe um bilhete. Chávez titubeia, faz um arremate e encerra.

O bilhete era de João Pedro Stédile. Dizia: "Chega". Chávez já falava por 50 minutos.

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