DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
A pesquisa divulgada pelo Datafolha domingo, constatando perda de cinco pontos porcentuais pelo candidato da oposição, o favorito governador José Serra (PSDB), e alta idêntica dos índices de preferência eleitoral da chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff (PT), candidata governista, não surpreende ninguém. O jargão mais repetido sobre eleições reza que consultas à opinião pública são só retratos de um momento. Este é o flagrante de um verão no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passeou ao lado da candidata pelo País afora, ao arrepio da Justiça Eleitoral, gerida por um punhado de Pôncios Pilatos contemporâneos. E a oposição resistiu a apresentar ao eleitorado quem em seu nome se habilitaria à disputa. E não o fez por apreço à lei e à ordem, mas por solene desprezo pela realidade dos fatos. Dilma ganhou terreno por estar na disputa. Sem poder sair do governo nem ter um vice para chamar de seu, pois o partido não o definiu, Serra não entrou na liça.
Que culpa têm Lula e Dilma se a legislação eleitoral é casuística e vaga e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não toma as atitudes que tinha de tomar? As leis foram feitas por parlamentares a favor do governo e contra e o páreo está sendo corrido há um tempão. O glorioso PSDB não entrou ainda na arena só porque não quis. Ou porque não pode. O presidente nacional do maior partido de oposição do País, o atrapalhado senador Sérgio Guerra, diagnosticou que Dilma cresceu porque corre sozinha. Bidu! Entre as inúmeras tolices que andou dizendo pelo País afora, em prejuízo apenas de seu candidato, o insigne varão pernambucano proferiu esse acerto. Só que omitiu que Dilma só é candidata única porque o tucanato emplumado tem candidato, mas não consegue sair do armário. Culpa de Dilma, culpa de Lula?
Até os gansos do lago do Itamaraty sabem que Lula é um gênio nas manhas e artimanhas políticas e goza de um momento de popularidade espetacular. Se não perceberam isso, os oposicionistas incautos já deveriam ter consultado otorrinolaringologista e oftalmologista há muito tempo. Pensar que esse prestígio não será transferido para a candidata que ele indicar é esperar que o sol do sertão derreta a trilha do trenó de Papai Noel no próximo Natal.
A candidata do governo e do PT é inábil, bruta e jejuna em disputas eleitorais, além de padecer de uma doença grave. Na aparência, é um poste pesado demais para a musculatura do filho de dona Lindu. Na prática, sua consistente subida nas pesquisas desmente tais ilações. Mas talvez seja exagerado atribuir o sorriso que ela exibe no retrato das pesquisas apenas às virtudes do patrono. Convém prestar atenção nas lambanças dos adversários.
O cego Tirésias, que avisou a Júlio César sobre as desgraças que o atingiriam nos idos de março, não deve frequentar os sonhos dourados de Aécio Neves. Os nobres conceitos que ouviu do avô, Tancredo, cujo centenário é agora celebrado, não convenceram o governador de Minas de que há momentos na política em que até por esperteza os homens públicos devem recuar de suas ambições para lutar pelos interesses de seus eleitores. Ao recusar a vice-presidência na chapa do governador paulista, depois de preterido pelo partido, o moço mineiro dá até a impressão de que prefere perder para Dilma, apostando num mau governo dela para ele próprio aparecer como solução em 2014, a ficar preso à mera expectativa de oito anos à sombra do correligionário turrão. Do ponto de vista pragmático, a opção parece esperta. Mas, se se faz suspeito de um comportamento desse jaez, não entendeu o alerta do avô raposão segundo o qual a esperteza é um bicho perigoso, pois, se crescer demais, termina por devorar o dono.
Todos sabem que uma chapa Serra-Aécio sairia com uma diferença dos dois maiores colégios eleitorais do País - São Paulo e Minas Gerais - difícil de ser superada até por um matreiro do agreste como Lula. Mas essa hipótese hoje não parece plausível. Que culpa Lula e Dilma têm se os adversários não cedem sequer um milímetro em seus projetos pessoais?
Tirésias também teria dificuldades para convencer o prefeito Gilberto Kassab a parar de prejudicar seu padroeiro com aumento escorchante de IPTU, suspensão de merenda para crianças pobres e fechamento de albergues para os 13 mil sem teto que dormem nas calçadas da capital. Figura de proa do DEM, maior mico eleitoral do País desde que o ex-filiado José Roberto Arruda se mudou do palácio do governo do Distrito Federal para a prisão, o prefeito paulistano age como se estivesse disposto a salvar do afogamento as próprias fichas à custa do cacife do governador. Se São Pedro não tem sido amigo de São Paulo, afundando os idos de março nas águas do verão, Sua Excelência não lhes favorece o escoamento.
Vão tem sido ainda o esforço dos Tirésias de plantão para retirarem com açúcar e com afeto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do embate direto contra seu sucessor petista, que só sonha com isso, pois é o melhor meio de facilitar a transferência de seu prestígio em votos para a candidata. Como se dispusesse, em início de ano eleitoral, a provar que a vaidade pessoal supera seus méritos acadêmicos, o príncipe dos sociólogos adotou o papel de Brancaleone da descriminação das drogas, como se levar à prática uma conjectura do mexicano Octavio Paz fosse hoje mais importante para o Brasil que a escolha de quem subirá a rampa do poder.
Vítima das dificuldades de Serra de exigir cartas no jogo em que Dilma as tem dado faz tempo, a candidatura tucana é esquartejada pela malícia oportunista de Aécio; triturada no lugar do lixo que divide as calçadas com os mendigos na cidade de Kassab; e pisoteada pela súbita vocação de psiquiatra, policial e assistente social de FHC, cuja visão fatigada não o deixa perceber com clareza o mal que as drogas fazem à sociedade e à candidatura de seu partido.
José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde
A pesquisa divulgada pelo Datafolha domingo, constatando perda de cinco pontos porcentuais pelo candidato da oposição, o favorito governador José Serra (PSDB), e alta idêntica dos índices de preferência eleitoral da chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff (PT), candidata governista, não surpreende ninguém. O jargão mais repetido sobre eleições reza que consultas à opinião pública são só retratos de um momento. Este é o flagrante de um verão no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passeou ao lado da candidata pelo País afora, ao arrepio da Justiça Eleitoral, gerida por um punhado de Pôncios Pilatos contemporâneos. E a oposição resistiu a apresentar ao eleitorado quem em seu nome se habilitaria à disputa. E não o fez por apreço à lei e à ordem, mas por solene desprezo pela realidade dos fatos. Dilma ganhou terreno por estar na disputa. Sem poder sair do governo nem ter um vice para chamar de seu, pois o partido não o definiu, Serra não entrou na liça.
Que culpa têm Lula e Dilma se a legislação eleitoral é casuística e vaga e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não toma as atitudes que tinha de tomar? As leis foram feitas por parlamentares a favor do governo e contra e o páreo está sendo corrido há um tempão. O glorioso PSDB não entrou ainda na arena só porque não quis. Ou porque não pode. O presidente nacional do maior partido de oposição do País, o atrapalhado senador Sérgio Guerra, diagnosticou que Dilma cresceu porque corre sozinha. Bidu! Entre as inúmeras tolices que andou dizendo pelo País afora, em prejuízo apenas de seu candidato, o insigne varão pernambucano proferiu esse acerto. Só que omitiu que Dilma só é candidata única porque o tucanato emplumado tem candidato, mas não consegue sair do armário. Culpa de Dilma, culpa de Lula?
Até os gansos do lago do Itamaraty sabem que Lula é um gênio nas manhas e artimanhas políticas e goza de um momento de popularidade espetacular. Se não perceberam isso, os oposicionistas incautos já deveriam ter consultado otorrinolaringologista e oftalmologista há muito tempo. Pensar que esse prestígio não será transferido para a candidata que ele indicar é esperar que o sol do sertão derreta a trilha do trenó de Papai Noel no próximo Natal.
A candidata do governo e do PT é inábil, bruta e jejuna em disputas eleitorais, além de padecer de uma doença grave. Na aparência, é um poste pesado demais para a musculatura do filho de dona Lindu. Na prática, sua consistente subida nas pesquisas desmente tais ilações. Mas talvez seja exagerado atribuir o sorriso que ela exibe no retrato das pesquisas apenas às virtudes do patrono. Convém prestar atenção nas lambanças dos adversários.
O cego Tirésias, que avisou a Júlio César sobre as desgraças que o atingiriam nos idos de março, não deve frequentar os sonhos dourados de Aécio Neves. Os nobres conceitos que ouviu do avô, Tancredo, cujo centenário é agora celebrado, não convenceram o governador de Minas de que há momentos na política em que até por esperteza os homens públicos devem recuar de suas ambições para lutar pelos interesses de seus eleitores. Ao recusar a vice-presidência na chapa do governador paulista, depois de preterido pelo partido, o moço mineiro dá até a impressão de que prefere perder para Dilma, apostando num mau governo dela para ele próprio aparecer como solução em 2014, a ficar preso à mera expectativa de oito anos à sombra do correligionário turrão. Do ponto de vista pragmático, a opção parece esperta. Mas, se se faz suspeito de um comportamento desse jaez, não entendeu o alerta do avô raposão segundo o qual a esperteza é um bicho perigoso, pois, se crescer demais, termina por devorar o dono.
Todos sabem que uma chapa Serra-Aécio sairia com uma diferença dos dois maiores colégios eleitorais do País - São Paulo e Minas Gerais - difícil de ser superada até por um matreiro do agreste como Lula. Mas essa hipótese hoje não parece plausível. Que culpa Lula e Dilma têm se os adversários não cedem sequer um milímetro em seus projetos pessoais?
Tirésias também teria dificuldades para convencer o prefeito Gilberto Kassab a parar de prejudicar seu padroeiro com aumento escorchante de IPTU, suspensão de merenda para crianças pobres e fechamento de albergues para os 13 mil sem teto que dormem nas calçadas da capital. Figura de proa do DEM, maior mico eleitoral do País desde que o ex-filiado José Roberto Arruda se mudou do palácio do governo do Distrito Federal para a prisão, o prefeito paulistano age como se estivesse disposto a salvar do afogamento as próprias fichas à custa do cacife do governador. Se São Pedro não tem sido amigo de São Paulo, afundando os idos de março nas águas do verão, Sua Excelência não lhes favorece o escoamento.
Vão tem sido ainda o esforço dos Tirésias de plantão para retirarem com açúcar e com afeto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do embate direto contra seu sucessor petista, que só sonha com isso, pois é o melhor meio de facilitar a transferência de seu prestígio em votos para a candidata. Como se dispusesse, em início de ano eleitoral, a provar que a vaidade pessoal supera seus méritos acadêmicos, o príncipe dos sociólogos adotou o papel de Brancaleone da descriminação das drogas, como se levar à prática uma conjectura do mexicano Octavio Paz fosse hoje mais importante para o Brasil que a escolha de quem subirá a rampa do poder.
Vítima das dificuldades de Serra de exigir cartas no jogo em que Dilma as tem dado faz tempo, a candidatura tucana é esquartejada pela malícia oportunista de Aécio; triturada no lugar do lixo que divide as calçadas com os mendigos na cidade de Kassab; e pisoteada pela súbita vocação de psiquiatra, policial e assistente social de FHC, cuja visão fatigada não o deixa perceber com clareza o mal que as drogas fazem à sociedade e à candidatura de seu partido.
José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde
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