DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O que é necessário é discutir a relação do grupo com o narcoterrorismo em escala mundial
Se verdadeira, é risível a intenção do governo brasileiro de deslocar da OEA (Organização dos Estados Americanos) para a Unasul (União Sul-Americana de Nações) o debate sobre o conflito entre a Colômbia e a Venezuela.
Risível porque a Unasul está até mais paralisada do que a OEA, justamente pela absoluta incapacidade de interferir no conflito, todas as vezes que alguma de suas facetas foi levada à instituição sul-americana.
A única coisa realmente séria a fazer nesse caso é exigir do presidente Hugo Chávez que se defina claramente a respeito de suas relações com as Farc (que involuiu de guerrilha de camponeses para o narcoterrorismo).
Comecemos por mostrar a relação Farc/drogas, conforme relatado no livro "As Farc - Uma Guerrilha sem Fins?", de Daniel Pécaut, diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris). Trata-se de uma obra tão objetiva quanto é possível ser ao lidar com assunto tão explosivo.
Escreve Pécaut que as Farc admitem apenas cobrar dos plantadores da folha de coca o "gramaje", pedágio em troca da proteção que lhes davam.
"ECONOMIA DA DROGA"
Mas na realidade vão além: fazem a intermediação entre os plantadores e os traficantes, claro que em troca de comissão; vigiam as pistas de pouso e os laboratórios clandestinos, com participação nos lucros, como é óbvio.
A partir dos anos 1990, a inserção do grupo "na economia da droga foi além em certas localidades". Em Guaviare, gerem diretamente a produção de grandes áreas de plantio, que podem chegar a quase cem hectares, bem como a venda aos traficantes.
Mais: entraram diretamente no coração do negócio, que é o processamento da folha para transformá-la em cocaína. "Desse modo, inserem-se plenamente no tráfico", conclui Pécaut.
Muito bem. Agora, vejamos o que diz Chávez desse grupo: em discurso na Assembleia Nacional de janeiro de 2008, o presidente venezuelano definiu as Farc como "forças insurgentes que têm um projeto político", às quais "é preciso dar reconhecimento".
Se merecem reconhecimento, nada mais natural que dar-lhes ajuda financeira e abrigo. É bom lembrar que a Interpol reconheceu a autenticidade de mensagens encontradas nos computadores de Raúl Reyes, líder das Farc morto em ataque colombiano a acampamento no Equador, junto à fronteira. Nelas, Reyes mencionava ajuda financeira da Venezuela, bem como sua intermediação para obtenção de armas.
O PROBLEMA É OUTRO
Tudo somado, fica claro que o problema não é a Colômbia, mas as Farc. Por extensão, é também o tratamento que os governos da região querem dar a elas. Como o narcotráfico é uma empresa global, combatê-lo exige respostas globais ou, ao menos, regionais.
É impossível dar uma resposta regional se um governo as trata como "forças insurgentes que têm um projeto político", quando, na realidade, se trata de narcoterroristas.
Não adianta o Brasil se esconder na omissão. Narcotráfico é um problema de segurança nacional. Omitir-se é ser cúmplice.
O que é necessário é discutir a relação do grupo com o narcoterrorismo em escala mundial
Se verdadeira, é risível a intenção do governo brasileiro de deslocar da OEA (Organização dos Estados Americanos) para a Unasul (União Sul-Americana de Nações) o debate sobre o conflito entre a Colômbia e a Venezuela.
Risível porque a Unasul está até mais paralisada do que a OEA, justamente pela absoluta incapacidade de interferir no conflito, todas as vezes que alguma de suas facetas foi levada à instituição sul-americana.
A única coisa realmente séria a fazer nesse caso é exigir do presidente Hugo Chávez que se defina claramente a respeito de suas relações com as Farc (que involuiu de guerrilha de camponeses para o narcoterrorismo).
Comecemos por mostrar a relação Farc/drogas, conforme relatado no livro "As Farc - Uma Guerrilha sem Fins?", de Daniel Pécaut, diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris). Trata-se de uma obra tão objetiva quanto é possível ser ao lidar com assunto tão explosivo.
Escreve Pécaut que as Farc admitem apenas cobrar dos plantadores da folha de coca o "gramaje", pedágio em troca da proteção que lhes davam.
"ECONOMIA DA DROGA"
Mas na realidade vão além: fazem a intermediação entre os plantadores e os traficantes, claro que em troca de comissão; vigiam as pistas de pouso e os laboratórios clandestinos, com participação nos lucros, como é óbvio.
A partir dos anos 1990, a inserção do grupo "na economia da droga foi além em certas localidades". Em Guaviare, gerem diretamente a produção de grandes áreas de plantio, que podem chegar a quase cem hectares, bem como a venda aos traficantes.
Mais: entraram diretamente no coração do negócio, que é o processamento da folha para transformá-la em cocaína. "Desse modo, inserem-se plenamente no tráfico", conclui Pécaut.
Muito bem. Agora, vejamos o que diz Chávez desse grupo: em discurso na Assembleia Nacional de janeiro de 2008, o presidente venezuelano definiu as Farc como "forças insurgentes que têm um projeto político", às quais "é preciso dar reconhecimento".
Se merecem reconhecimento, nada mais natural que dar-lhes ajuda financeira e abrigo. É bom lembrar que a Interpol reconheceu a autenticidade de mensagens encontradas nos computadores de Raúl Reyes, líder das Farc morto em ataque colombiano a acampamento no Equador, junto à fronteira. Nelas, Reyes mencionava ajuda financeira da Venezuela, bem como sua intermediação para obtenção de armas.
O PROBLEMA É OUTRO
Tudo somado, fica claro que o problema não é a Colômbia, mas as Farc. Por extensão, é também o tratamento que os governos da região querem dar a elas. Como o narcotráfico é uma empresa global, combatê-lo exige respostas globais ou, ao menos, regionais.
É impossível dar uma resposta regional se um governo as trata como "forças insurgentes que têm um projeto político", quando, na realidade, se trata de narcoterroristas.
Não adianta o Brasil se esconder na omissão. Narcotráfico é um problema de segurança nacional. Omitir-se é ser cúmplice.
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