A imagem de Dilma ao lado de líderes tucanos no Palácio dos Bandeirantes, na quinta, provocou comentários entusiasmados sobre o significado dos afagos entre a presidente e a oposição. Seria bom ir devagar antes de tirar maiores consequências desse convescote que reuniu os Montecchio e os Capuleto da política nacional no lançamento do programa Brasil Sem Miséria na região Sudeste.
Não é muito difícil mapear as motivações de cada um. A Alckmin interessava associar seu governo e sua figura à área social, sobretudo ao Bolsa Família, marca do PT. Ele e Anastasia não têm, além disso, nenhum motivo para criar atritos com o governo federal, do qual dependem. Por isso, o anfitrião se derramou em mesuras para Dilma.
As pessoas se esquecem, mas Lula, presidente, e Serra, governador, também trocavam gentilezas em público. Elas cessaram na campanha, para o infortúnio do tucano.
FHC encontrou em Dilma uma aliada insuspeita para recompor a imagem histórica de seu legado, aviltado anos a fio por petistas e tucanos, a começar por Serra.
E Dilma, desde o início, percebeu que poderia se beneficiar de contrastes em relação ao estilo de Lula. Ao distensionar as relações com a oposição e com a imprensa e ser identificada como alguém que quer moralizar a política, a presidente caiu no gosto das classes médias.
Nem Aécio nem Serra têm razões para gostar do cortejo que FHC e Alckmin fazem à "presidenta". Nem Lula nem o PT aprovam a deferência de Dilma a certo tucanato. São os interesses conflitantes dentro de cada campo de poder.
Não se imagine, porém, que corremos o risco de ver uma aliança política entre o Planalto e os tucanos em torno da "faxina ética". Esse namorico é retórico e não vai além da troca de amabilidades. As eleições municipais logo nos lembrarão quem está com quem e qual é o jogo na vida real. O resto, como diria aquele dramaturgo, são sonhos de uma noite de verão.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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