O ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski trabalha para concluir até meados de junho seu voto sobre o mensalão. Nesse caso, o julgamento do processo, o maior da história do Supremo, deverá começar em agosto. "Este ano ainda julgaremos. A expectativa é não só dos ministros, mas da sociedade e também minha", afirmou Lewandowski. O STF tem recesso marcado para julho, e o julgamento deverá durar pelo menos um mês. São 38 réus e mais de 50 mil páginas de autos. A ministra do STF Cármen Lúcia, que também é presidente do TSE, disse que está pronta para votar sobre o mensalão assim que entrar em pauta
Julgamento do mensalão em agosto
Revisor, Lewandowski quer concluir voto até junho e lembra expectativa da sociedade
Carolina Brígido
BRASÍLIA E CURITIBA - O ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, está tentando concluir seu voto até meados de junho. No gabinete dele, a maior parte dos assessores foi deslocada para trabalhar no processo. Se a expectativa for confirmada, o julgamento do processo poderia ocorrer em agosto, e não neste semestre. Isso porque o Supremo Tribunal Federal (STF) tem recesso marcado para julho, e o julgamento tem previsão de durar pelo menos um mês.
Uma solução para realizar o julgamento logo seria iniciá-lo na sequência da apresentação do voto de Lewandowski e estender as sessões pelo mês de julho. No entanto, muitos ministros se opõem a essa fórmula - inclusive o relator, Joaquim Barbosa, que planeja viagem de férias. Portanto, o mais provável seria o julgamento começar em agosto. Essa hipótese traz um detalhe: Cezar Peluso vai se aposentar e não deverá participar da votação.
Ritmo acelerado para ler processo
Ontem, no 3º Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral, em Curitiba, Lewandowski comentou o andamento do processo e disse que tem trabalhado em ritmo acelerado para garantir o julgamento do processo ainda este ano.
- Este ano, ainda julgaremos. A expectativa é não só dos ministros, mas da sociedade e também minha - assinalou.
No entanto, ele mencionou que o processo é extenso, com mais de 60 mil páginas:
- É um trabalho complexo, que tem que ser feito com muita seriedade - disse.
Do outro lado, a ministra Cármen Lúcia disse estar de prontidão para o julgamento.
- Da minha parte, estarei habilitada a votar na hora em que ele for colocado em pauta - informou.
Para tentar concluir o trabalho, Lewandowski tem andado com um HD externo para todo lado. Também costuma levar consigo um pen drive com informações criptografadas do mensalão. Recentemente, o ministro foi à Suíça a trabalho e levou os apetrechos para adiantar o voto.
O presidente do tribunal, ministro Carlos Ayres Britto, disse na última quinta-feira que vai marcar para a próxima terça-feira uma sessão administrativa para discutir como será o julgamento do mensalão. Embora não tenha data marcada, o julgamento demandará uma logística fora do comum para os padrões da Corte, considerando-se o tamanho do processo, com mais de 50 mil páginas, e a quantidade de réus, 38.
- Avançaríamos alguma coisa em termos de cronograma, de logística, de formatação. Independentemente do dia que se marcar para o julgamento, já teríamos algumas coisas encaminhadas - disse o ministro.
Na semana passada, no julgamento de uma questão de ordem, os ministros definiram dois pontos sobre o julgamento. O primeiro deles foi o tempo de sustentação oral ao qual teria direito o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O prazo foi fixado em cinco horas. Também se decidiu que o relator, ministro Joaquim Barbosa, leria só resumo de três páginas do relatório - que tem, ao todo, 122 páginas.
Ainda há alguns pontos para serem debatidos. Por exemplo, os dias do julgamento. Normalmente, as sessões plenárias ocorrem nas quartas e quintas-feiras. Há possibilidade de haver sessões diárias no julgamento do mensalão. A primeira semana seria totalmente dedicada às sustentações orais dos advogados - que, ao todo, têm direito a 38 horas de defesa em plenário.
Outra possibilidade é estender o horário das sessões para o período da manhã e da tarde. Normalmente, o plenário funciona apenas à tarde. Os ministros estão preocupados também com a segurança no plenário. Devem discutir, por exemplo, medidas de segurança eficazes contra eventuais manifestações da plateia ao longo do julgamento. Embora proibida, a prática tem sido cada vez mais frequente em sessões do STF.
Também ontem, no congresso de Curitiba, Lewandowski falou da Lei da Ficha Limpa e disse que a legislação vai ser aplicada nas eleições municipais de 2012.
- A Lei da Ficha Limpa introduz um componente importante, que é a moralização da vida pública - disse o ministro, que voltou a defender a constitucionalidade da lei.
- Num primeiro momento, (a Ficha Limpa) foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal inconstitucional no que diz respeito à entrada em vigor no mesmo ano de sua edição. Quando foi examinado o mérito, o Supremo confirmou que a Lei da Ficha Limpa é inteiramente constitucional e se aplica às eleições municipais de 2012 - disse.
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, crê que a dificuldade da Ficha Limpa deve recair sobre os juízes.
- A lei terá plena aplicação nas eleições deste ano e compete ao juiz fazer com que seja plenamente eficaz jurídica e socialmente - afirmou.
Ela também garantiu que a Justiça Eleitoral está preparada para o eventual aumento de julgamentos de inelegibilidade.
- A Justiça Eleitoral brasileira é considerada uma das mais eficientes do mundo, porque consegue dar solução ao que lhe é demandado, e desta vez não será diferente. O TSE e todos os TREs do país estão altamente qualificados para que a lei seja cumprida no próximo pleito, deixando evidente que todos os políticos devem cumpri-la exatamente como qualquer cidadão brasileiro - prometeu.
Colaborou Ana Paula de Carvalho
FONTE: O GLOBO
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