quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Coaf: Delta teve movimentação atípica de R$ 687,5 milhões

Construtora sustenta ter respostas, mas seu dono fica em silêncio na CPI

Vinicius Sassine, Ailton de Freitas

BRASÍLIA - O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), vinculado ao Ministério da Fazenda, recebeu comunicados de movimentações atípicas de R$ 687,5 milhões nas contas bancárias da Delta Construções. As transações se referem aos últimos dez anos, a partir de 2003, e envolvem contas em 11 bancos, com movimentações em pelo menos 20 agências, a maioria no Rio de Janeiro, sede da empresa. Os comunicados ao Coaf não apontam ilegalidades, mas transações bancárias atípicas que, pela lei de lavagem de dinheiro, precisam ser informadas ao conselho constituído para investigar suspeitas dessa prática criminosa. O relatório referente à Delta, assinado pelo presidente do Coaf, Antonio Gustavo Rodrigues, foi remetido à CPI no início da semana. Ontem, o dono da empreiteira, Fernando Cavendish, compareceu à comissão e optou pelo silêncio.

O relatório do Coaf lista mais de 350 pessoas relacionadas às contas da Delta no Banco do Brasil. O documento detalha depósitos de R$ 27,5 milhões à Alberto & Pantoja Construções e de R$ 4 milhões à Brava Construções - duas das maiores empresas fantasmas montadas pelo grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Diversos requerimentos de parlamentares de oposição e independentes pedem a quebra de sigilo de empresas fantasmas citadas no relatório. A Delta sustenta que responde a órgãos institucionais sobre questões levantadas pelo Coaf.

Fernando Cavendish chegou ao Congresso no início da sessão, às 10h30, e precisou esperar por seis horas e meia para depor. O presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), inverteu a ordem dos depoentes e começou por Paulo Vieira Souza, ex-diretor da Dersa. Às 17 horas, Cavendish entrou no plenário da CPI. Vital do Rêgo chegou a propor uma reunião secreta para que o empresário colaborasse com as investigações.

- Por orientação do meu advogado, permaneço em silêncio - disse Cavendish, acompanhado de seu defensor jurídico.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) o interpelou sobre uma gravação em que disse ser possível comprar um senador por R$ 6 milhões:

- Qual senador o senhor compraria com esse valor ou já comprou?

- Esse assunto, num momento oportuno, judicialmente, será respondido.

Dez minutos depois de iniciado o depoimento, Cavendish foi dispensado da sessão.

No relatório do Coaf encaminhado à CPI, são citados um saque e um depósito envolvendo a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). Em 13 de abril deste ano, houve um saque em espécie de R$ 546,7 mil numa agência bancária no Rio. No mesmo dia e no mesmo banco, mas em outra agência, o mesmo sacador depositou o valor na conta da Delta. De acordo com o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, não houve saque da conta bancária, mas pagamento à empreiteira, contratada por R$ 22 milhões para reconstruir barracões destruídos pelo fogo na Cidade do Samba em 2011.

- Um dos pagamentos foi por carta de transferência, por TED (transferência eletrônica). O valor foi exatamente o apontado pelo Coaf - disse Castanheira.

FONTE: O GLOBO

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