Em mais uma demonstração da falta de rumo da atual gestão, o governo de Dilma Rousseff anunciou, pela terceira vez, o adiamento do leilão para o Trem de Alta Velocidade (TAV), que ligaria São Paulo,Campinas e Rio de Janeiro.Embora se trate, desta vez, de um recuo bem-vindo, o mais correto seria que a presidente cancelasse este projeto faraônico elaborado ainda durante o governo Lula e utilizasse um montante estimado em mais de R$ 60 bilhões para construir metrô nas principais regiões metropolitanas do país.
A concorrência que definiria o fornecedor dos equipamentos e o operador da concessão havia sido marcada para esta sexta-feira (16) e acabou adiada diante da falta de interesse dos investidores estrangeiros pelo projeto. O dado estupefaciente é que a iniciativa privada arcaria com apenas 20% dos investimentos, restando nada menos que 80% ao Estado (10% do Tesouro Nacional e 70% do BNDES, por meio de empréstimos subsidiados). Mesmo assim, as empresas não compareceram. Uma das explicações para o novo fracasso está justamente na subestimação do custo total da obra.
Ao contrário do que anunciou o governo, que projeta um investimento de R$ 33 bilhões, uma reportagem publicada pela revista “Veja” em novembro de 2010 já estimava um gasto de R$ 63,4 bilhões, pois não teriam sido incluídos nas previsões orçamentárias itens como subsídios fiscais e obras complementares necessárias em algumas cidades onde não há infraestrutura adequada. A recente onda de manifestações pelo Brasil foi desencadeada a partir da mobilização ocorrida em São Paulo em torno do transporte coletivo.
A questão da mobilidade urbana foi alçada, enfim, a tema prioritário da pauta nacional, mas infelizmente o governo petista segue investindo pouco e mal no setor, alimentando delírios megalomaníacos e estipulando prioridades equivocadas. Com os mais de R$ 63 bilhões que serão gastos no trem-bala, a administração federal poderia resolver o problema do transporte ferroviário no país. Para isso, bastaria destinar R$ 25 bilhões em novos investimentos em metrô e trens urbanos, o que beneficiaria mais de três milhões de pessoas por dia em capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza e Goiânia.
Outros R$ 35 bilhões seriam aplicados na área de transporte ferroviário de carga, com obras que conectariamos principais portos brasileiros aos fluxos produtivos, facilitando o transporte de soja, milho, fertilizantes, combustíveis, álcool etc. E ainda sobraria dinheiro. São Paulo é hoje uma exceção entre os estados brasileiros, pois conseguiu expandir consideravelmente sua malha de transporte sobre trilhos mesmos em contar com um centavo sequer do governo do PT. Todos os recursos federais obtidos pelo estado são, na verdade, empréstimos que terão de ser pagos.
Atualmente, os paulistas usufruem de uma rede de 329 km, sendo 74,3 km de metrô e 254,7km da CPTM, que transporta 7,3 milhões de passageiros por dia. Ainda é pouco. Se houvesse ajuda federal, a realidade seria outra. A presidente Dilma agiria com responsabilidade caso sepultasse o projeto mirabolante do trem-bala e trabalhasse com afinco para melhorar este cenário, mas é difícil imaginar que tenha a grandeza necessária para tanto. Fora dos trilhos há dez anos, o Brasil precisa reencontrar seu caminho.
Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS
Fonte: Brasil Econômico
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