Nova onda de desvalorização rápida neste ano vai causar novos estragos na economia machucada
Desde maio, a história da desvalorização do real pode ser contada quase tim-tim por tim-tim pelo aumento dos juros no mercado dos Estados Unidos.
Em suma, se o povo dos mercados pede juros mais altos para ficar com títulos da dívida americana, o dólar sobe aqui, quase na mesma toada. A tendência é a mesma no restante do mundo "emergente" e em países cujas exportações dependem bastante de recursos naturais, como nós.
A diferença é que temos apanhado mais. Se alguém chuta a bola dos juros nos EUA, ela entra no gol da nossa taxa de câmbio. A defesa está furada.
Defesa contra o quê? Não chorávamos e rangíamos dentes quando o real ficara forte demais (ou o dólar ficara baratinho), avariando a indústria, dando-nos de resto uma sensação falsa, pois excessiva, de riqueza, de maior poder de compra, de "Brasil, quinta maior economia do mundo" etc.?
Bem, o real desvalorizado vai resolver problemas. Na verdade, em parte é uma espécie de solução forçada de problemas, como consumo excessivo. Mas virá também o reconhecimento algo doloroso da nossa realidade mais pobrinha do que imaginávamos (na prática, os salários vão ficar menores).
Mais importante, de imediato, haverá os estragos de uma desvalorização rápida, ainda mais em uma economia mal administrada. O pulo do dólar em junho já fizera estragos. Não vai ser diferente agora.
Não se sabe bem quanto e por quanto tempo vão subir os juros na praça americana, mas a história básica é a sabida. A economia dos Estados Unidos anda melhorzinha. Qualquer notícia pontual de melhora tem jogado as taxas de juros para cima (tal como a notícia de ontem, de baixa boa nos pedidos de seguro-desemprego).
As melhoras levaram o BC deles, o Fed, a levantar a hipótese de que a política monetária será menos relaxada (vão despejar menos dinheiro na praça) e, um dia (2015?), os juros básicos voltam a subir. O Fed levantou essa bola em maio.
O povo do mercado antecipou a coisa toda; os juros sobem lá em razão disso. Fica menos interessante fazer negócio em país esquisito, como o Brasil, ou especular com commodities, Bolsas e outros ativos de risco. O dólar "se vai".
Até a metade do ano, muita gente esperta dizia que a reação do mercado ao Fed seria um exagero provavelmente breve. Não foi. Logo, está ainda mais difícil de saber se, quando e como isso vai parar: juro subindo lá, dólar subindo cá.
Dólar mais caro dá em inflação maior. Piora a situação de empresas com dívida externa. Dólar e juros mais altos e em alta dificultam o crédito externo para empresas do país.
Dólar mais caro encarece investimentos "produtivos". Cria insegurança entre empresários, que ficam desorientados sobre preços, dívidas e crescimento.
Dólar mais caro piora problemas circunstanciais, mas difíceis, como o da Petrobras, que importa gasolina cara para vender barato aqui, com prejuízo; piora também o balanço da petroleira, a maior investidora do Brasil.
Inflação maior, entre outros desarranjos do dólar subitamente mais caro, piora pois as perspectivas de crescimento do Brasil, que já andavam bem ruinzinhas.
O caldo engrossou.
Fonte: Folha de S. Paulo
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