Quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014, o então presidente Lula, que não teve qualquer recato ao se apropriar politicamente da escolha feita pela Fifa, garantiu o estrondoso sucesso do evento que mudaria a história do país. A menos de um ano do início da competição, entretanto, o maior legado deixado ao povo brasileiro é o famigerado “padrão Fifa” nos estádios reformados ou construídos para o campeonato, além dos preços abusivos dos ingressos que transformaram uma paixão nacional em privilégio de parcelas abastadas da sociedade.
Se o torcedor comum quiser comprar um bilhete para a Copa, terá de desembolsar uma quantia que varia entre R$ 30 (preço da meia-entrada mais barata) e R$ 1.980 para tíquetes individuais, e de R$ 594 a R$ 6.700 para pacotes com até sete entradas válidas para jogos de diferentes rodadas do torneio. O jogo de abertura custa o dobro das outras partidas da primeira fase, ou R$ 990 no melhor setor do estádio. O ingresso mais barato para a final sai por R$ 330. A elitização do futebol brasileiro atingiu especialmente o Maracanã, violentado como fim da “geral”, cenário perfeito para o lazer dominical dos brasileiros e uma autêntica expressão cultural de nosso povo.
Além disso, a proporção entre o preço do bilhete mais barato e o salário mínimo vigente registrou uma vertiginosa aceleração nos últimos anos, segundo estudo de Erick Omena, doutorando da Oxford Brookes University, realizado no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). Em 2003, o torcedor pagava 0,5% da mínima remuneração oficial do país para assistir a um jogo no Maracanã. No tradicional clássico Fla- Flu disputado há algumas semanas, o ingresso mais acessível saiu por R$ 80, o que equivale a 11,79% do atual salário mínimo. No Flamengo x Botafogo, em julho, a entrada “popular” a R$ 100 correspondia a 14,74% do mínimo.
Ao contrário do que pregava Lula, a Copa do Mundo não fez o país avançar. As recentes manifestações populares, nas quais milhões de pessoas exigiram “padrão Fifa” para os serviços públicos, e não para estádios de futebol, tiveram como um dos motes principais a indignação pelos gastos excessivos nas obras para o torneio de 2014.
Em junho, durante a Copa das Confederações, as ruas gritaram contra o dinheiro torrado em arenas que segregam os mais pobres, enquanto não há verba suficiente para hospitais, escolas ou transporte público. O legado de Lula é o “padrão Fifa” em estádios assépticos e sem povo, e não em saúde e educação. O ex-presidente e os dirigentes da CBF haviam prometido que não seria gasto um centavo sequer de dinheiro público para a Copa, mas a competição deve ser a mais cara da história, chegando a R$ 33 bilhões só em despesas governamentais.
Apenas em estádios construídos ou reformados para o torneio, o montante alcança R$ 7 bilhões (ante o valor de R$ 1,1 bilhão projetado em 2007). Ao invés dedar conforto nos estádios também aos mais pobres e por um preço justo, o governo e a Fifa optaram pela elitização. Com os valores abusivos dos ingressos, a população está afastada de sua maior paixão, e os estádios ficaram sem alma, sem vida, sem graça. É preciso devolver o futebol brasileiro ao povo antes que seja tarde demais.
Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS
Fonte: Brasil Econômico
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