sexta-feira, 23 de agosto de 2013

La donna è móbile - Míriam Leitão

A moeda brasileira é mais volátil. Em momentos de queda do dólar, ela sobe mais; em momentos de alta do dólar, ela cai mais. Até por isso é preciso evitar alguns dos erros que acontecem: gente demais falando pelo governo sobre câmbio só acirra os movimentos na direção que for. Outro erro é achar que tudo tem razões externas e não tem a ver com fundamentos aqui no Brasil.

Veja o gráfico abaixo em um momento de muita queda do real e de outras moedas causadas pelo estouro da crise da quebra do Lehman Brothers. Várias moedas perderam valor diante do dólar, mas no caso brasileiro, foi pior. No sentido contrário, também a intensidade é maior aqui. Os cálculos feitos pelos economistas Felipe Salto e Bruno Lavieri mostram três momentos.

Dos dois momentos exibidos no gráfico, o primeiro foi de agosto de 2008 a fevereiro de 2009. O pior período da crise. O real chegou a perder quase 40% do seu valor; o peso chileno, 14%; a coroa norueguesa e o rand da África do Sul perderam 25%; e o dólar canadense, 18,7%.

No primeiro, apesar de a crise ter estourado nos Estados Unidos, houve uma aversão ao risco generalizada que levou dinheiro para os títulos do Tesouro americano. O segundo período foi de forte apreciação das moedas diante do dólar. O Fed iniciava a política de relaxamento monetário e a China investia fortemente para manter a economia mundial em crescimento. Isso elevou as commodities. O Brasil viu de fevereiro de 2009 até junho de 2011 uma forte apreciação do real. Ele subiu 39%; o peso chileno, 21%; a coroa norueguesa, 22,7%; o rand sul-africano, 37%; e o dólar canadense, 24%.

No movimento mais recente também houve intensidade maior na moeda brasileira. De abril até julho de 2013, o real se desvalorizou 14%; o peso chileno, 9%; a coroa norueguesa, 2,9%; o rand, 9,9%; e o dólar canadense, 2,7%.

Mesmo quando são escolhidos outros períodos e outras moedas, o resultado é sempre o mesmo: o real sobe e desce mais fortemente. Na valorização, a moeda brasileira foi puxada pelas commodities, e o Brasil é grande exportador das matérias-primas que mais subiram.

No caso da queda atual, o Brasil está mais vulnerável agora por uma série de erros cometidos na política econômica. A política fiscal perdeu parte da sua credibilidade com os sucessivos truques fiscais e o uso abundante do recurso de o Tesouro se endividar para transferir para bancos públicos. Ontem, a ministra Gleisi Hoffmann, em avaliação sobre a política econômica, disse que a dívida líquida está estável. Está sim, só que ninguém mais olha para a dívida líquida tantos os truques e os malabarismos feitos. A dívida bruta está subindo.

- A economia brasileira depende de um modelo que não se sustenta ao longo do tempo, baseado em poupança externa. É preciso que o resto do mundo queira nos sustentar - disse Felipe Salto.

O economista Sidnei Nehme explica que os movimentos são mais fortes no Brasil porque o câmbio é flutuante, mas uma flutuação "suja", ou seja, o governo interfere para induzir uma cotação. Em épocas de crises, a ação do governo perde parte da eficácia.

Além disso, uma coisa é certa: gente demais falando sobre câmbio, quando as moedas estão instáveis no mundo inteiro, só aumenta a incerteza e alimenta a especulação. E esse governo é especialista em coro desafinado.

Fonte: O Globo

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