O governo exonerou ontem Idaílson Vilas Boas, assessor da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ele é acusado pela PF de envolvimento com o grupo suspeito de pagar propina a prefeitos para direcionar investimentos de fundos de pensão municipais, informam Fábio Fabrini, Andreza Matais e Fausto Macedo.
Planalto demite assessor de ministra suspeito de participar de quadrilha
Fábio Fabrini, Andreza Matais e Fausto Macedo
BRASÍLIA - O governo federal exonerou ontem um assessor da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT-SC), acusado pela Polícia Federal de envolvimento com o grupo suspeito de pagar propina a prefeitos para direcionar investimentos de fundos de pensão municipais. Ideli comunicou a demissão de Idaílson Vilas Boas no início da noite após o estadão.com.br revelar que o relatório de inteligência da Operação Miquéias afirma que o assessor atuava como lobista do esquema, tendo feito negociações dentro do Planalto.
Em nota, a Secretaria de Relações Institucionais informou que a ministra determinou a abertura de uma sindicância para aparar as acusações contra Idaílson Vilas Boas.
Ele é filiado desde 1999 ao PT de Goiás e foi nomeado em 25 de março do ano passado assessor especial na Secretaria das Relações Institucionais, com salário de R$ 9,6 mil. A nomeação foi assinada pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT-PR) - o preenchimento dos cargos de confiança mais altos precisam do aval dela.
Segundo as investigações da Operação Miquéias, deflagrada anteontem, Idaílson ajudava um "pastinha" - como são chamados os aliciadores do esquema a fechar negócio com os prefeitos. A PF pediu a prisão do assessor de Ideli, além do bloqueio de suas contas bancárias e de buscas em sua casa, mas a Justiça negou a solicitação. O assessor é acusado de tráfico de influência e formação de quadrilha. Ele teria prestado depoimento ontem, em Brasília.
Grampos. Para a PF, que flagrou transações de Idaílson em grampos, há uma "intrínseca" relação entre ele e a organização criminosa. O assessor teria atuado para facilitar o acesso do "pastinha" Almir Bento a prefeitos de Goiás. Numa das ligações, interceptada em 27 de junho deste ano, Bento marca encontro entre Idaílson e o então prefeito de Pires do Rio (GO), Luiz Eduardo Pitaluga (PSD), o Gudi, dentro do Planalto, orientando o prefeito a falar apenas de "assuntos técnicos". "Fala de projetos, essas coisas", afirmou.
Uma hora depois, Idaílson fala sobre o encontro com o "pastinha" e pergunta sobre tratativa com o prefeito. "Avançou?", questiona. "Avançou 100%. Precisamos sentar para conversar", responde Bento.
A PF também flagrou negociações de Idaílson com Roberto Silva (PRTB), prefeito de Itaberaí, também em Goiás.
Conforme o inquérito, as duas prefeituras goianas estão entre as que fizeram negócios com a quadrilha. A PF pediu a prisão e o bloqueio das contas dos dois prefeitos, o que foi negado pela Justiça.
O esquema investigado consistia em aliciar agentes públicos para que as prefeituras investissem o dinheiro dos fundos de pensão municipais em títulos indicados pela quadrilha. Em troca, os administradores receberiam vantagens. Os investimentos eram em títulos com baixa remuneração, o que causava prejuízo à previdência dos municípios. Ao menos dez fundos tiveram perdas de R$ 50 milhões. Operado pelo mesmo grupo, um outro esquema teria lavado R$ 300 milhões.
"Os diálogos interceptados não deixam dúvidas de que Idaílson atuava em favor da organização criminosa em comento, intermediando encontros entre prefeitos", sustenta a PF.
Com trânsito no Planalto, Idaílson integrou comitiva da presidente Dilma Rousseff em viagem a Salvador, neste ano, segundo o inquérito.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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