Após a prisão dos mensaleiros, o PT agora pretende se declarar "prisioneiro de um sistema eleitoral que favorece a corrupção". A frase está na versão inicial do texto-base do 5º Congresso do PT, em dezembro. Hoje, a junta médica indicada pelo STF avaliará José Genoino em hospital de Brasília
A culpa agora é do sistema
PT afirma que modelo político-eleitoral favorece corrupção; especialistas apontam diversionismo
Fernanda Krakovics
BRASÍLIA - Com o julgamento do mensalão chegando ao fim e as prisões dos principais personagens do escândalo já efetivadas, o PT pretende reforçar em seus debates internos e documentos a tese de que o partido é vítima do sistema político atual. A primeira versão do texto base do 5° Congresso do PT, que será aberto em dezembro com o objetivo de renovar o programa partidário, afirma que o partido é “prisioneiro de um sistema eleitoral que favorece a corrupção”.
Uma tese que petistas repetiram nos últimos dias diante das prisões de companheiros de partido, condenados por crimes como corrupção ativa e formação de quadrilha, e que é refutada como justificativa até mesmo por especialistas que consideram verdadeira a afirmativa de que o sistema político-partidário no Brasil é viciado. o texto foi escrito pelo assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, e ainda será emendado. Ele foi apresentado em reunião do Diretório Nacional do PT na ultima segunda-feira.
“Embora crítico da tendência à conciliação que marcou a evolução histórica do Brasil, o partido não avançou o suficiente no sentido de alterá-la e imprimir um novo rumo e ritmo à sua política, ficando prisioneiro de um sistema eleitoral que favorece à corrupção e de uma atividade parlamentar que dificulta a mudança, a despeito da vontade das forças de esquerdas”, diz um trecho do documento.
“Camisa de força” contra mudanças
Na mesma linha dos debates da eleição interna que reelegeu o presidente do PT, Rui Falcão, no início do mês, marcados por críticas à política de alianças do governo Dilma Rousseff, sobretudo com o PMDB, o texto afirma: “(...) houve enormes limitações em nossas tentativas de mudar o sistema político brasileiro, verdadeira camisa de força que impede transformações mais profundas e impõe um ‘presidencialismo de coalizão sem conteúdo programático”.
O PT se agarrou à defesa da reforma política como bandeira ética, em contraponto ao escândalo do mensalão, e como uma forma de dar suporte presidente Duma, que teve sua proposta de fazer um plebiscito sobre o assunto implodida pelo Congresso. Um dos pontos principais defendidos pela direção do partido é o financia- mento público exclusivo de campanha.
Petista histórico, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) disse anteontem que o PT foi induzido a práticas condenáveis por conta do financiamento privado de campanha e que, sem reforma política, não há condição de ter partidos “decentes” no Brasil. O cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), defende a adoção do voto distrital e do financiamento público como medidas moralizadoras, mas, na sua opinião, o PT investe na bandeira da reforma política, neste momento, para desviar o foco do escândalo do mensalão. — Isso é para desviar a atenção — diz o professor, que faz questão de estender a crítica: — Já os tucanos dizem que todas as acusações do caso Alstom são obra do PT.
Cada um tem sua ficção. Ricardo Caldas, também cientista político e professor da UnB, concorda com o diagnóstico feito pelo PT sobre o sistema político, mas ressalva que não foi apenas isso que levou os partidos a se envolverem no esquema do mensalão: — Não é exclusivamente, mas é principalmente.
O sistema político é o principal fator (que favorece a corrupção). — o atual modelo favorece a corrupção eleitoral e o mensalão é isso — afirma, por sua vez, o cientista político Fernando Abrucio, da Fundação Getulio Vargas (FGV). A convocação do 52° Congresso do PT surgiu da preocupação com a burocratização do partido e do afastamento de suas bases e dos princípios depois de dez anos no comando do governo federal. Integrantes da corrente majoritária do PT, no entanto, consideraram um erro realizar o evento no mês que vem.
A preocupação era que as discussões para a renovação partidárias soassem como um esboço de proposta de governo para um segundo mandato da presidente Dilma, e gerassem ruídos na pré-campanha. Diante disso, a abertura do 5° Congresso acontecerá de 12 a 14 de dezembro e ele só será retomado em 2015, quando os debates serão aprofundados e concluídos.
Na primeira versão do texto os petistas também resgatam o discurso da herança maldita do governo Fernando Henrique Cardoso, citando recessão, juros abusivos, fortes pressões inflacionárias, descontrole cambial e vulnerabilidade externa. O documento coloca como desafio para o PT na política econômica impulsionar o crescimento, preservando a estabilidade macroeconômica.
Fonte: O Globo
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