terça-feira, 10 de agosto de 2021

Maria Cristina Fernandes - Alerta dos EUA joga água na fervura no delírio bolsonarista de intervenção militar

Valor Econômico

Assessor de segurança nacional reiteira preocupação americana com ameaças as eleições

Na véspera da votação da proposta de emenda constitucional do voto impresso e do desfile de blindados pela Esplanada dos Ministérios, o diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional do governo americano, Juan González, fez questão de expressar sua preocupação com o tema: "Fomos muito diretos em expressar nossa confiança na capacidade de as instituições brasileiras conduzirem uma eleição livre e limpa e enfatizamos a importância de não ser minada a confiança no processo, especialmente uma vez que não há indício de fraude nas eleições passadas".

Ele foi além: "Podemos nos engajar na cooperação para a segurança, na cooperação econômica e ainda assim sermos muito claros em relação ao apoio a que os brasileiros sejam aqueles que determinam o resultado de suas próprias eleições".

González falou durante entrevista, em Washington, sobre a visita feita a América Latina na semana passada pelo Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, que também teve sua participação. No Brasil, Sullivan encontrou o presidente Jair Bolsonaro. Foi a maior autoridade a visitar o país desde a posse do presidente americano Joe Biden.

A declaração de González tem dois efeitos. O primeiro é o de revelar o tamanho do estrago provocado pelo governo Bolsonaro nas relações internacionais: o país volta a ser tratado como uma república das bananas que precisa ser alertada pela maior democracia do mundo para não sair dos trilhos.

É bem verdade que González reconheceu que o bananal tupiniquim tinha inspiração americana: "Fomos sinceros sobre nossa posição, especialmente em visa dos paralelos em relação a tentativa de invalidar as eleição antes do tempo, algo que, é óbvio, tem um paralelo com o que aconteceu nos Estados Unidos”.

Tal reconhecimento, porém, não o impediu de assumir as gestões contra a Huawei e o apoio a entrada do Brasil na Organização do Tratado do Atlantico Norte (Otan). González, porém, repetiu reiteradas vezes que o governo americano não condiciona uma coisa a outra.

Se a declaração do burocrata americano mostrou o dano provocado por Bolsonaro sobre as relações externas do país, por outro, mostrou, indiretamente, o quão reduzidos são hoje os riscos de uma intervenção das Forças Armadas brasileiras na institucionalidade democrática, temor que ontem invadiu Brasilia com a iminencia do desfile de blindados. Este é o segundo efeito da declaração de Gonzalez, colocar água na fervura das inquietações sobre uma intervenção militar no Brasil.

González não poderia ter sido mais claro em relação a posição a ser tomada pelo governo Biden numa quebra de institucionalidade no Brasil. Daí porque nunca uma eleição nos Estados Unidos importou tanto para os brasileiros. O fato de Bolsonaro ter perdido o apoio do ex-presidente Donald Trump, visitado na tarde de ontem pelo deputado Eduardo Bolsonaro e sua família no escritório do ex-presidente americano em Nova York, foi condição necessária mas não suficiente para garantir a democracia no Brasil. O resto é com as instituições civis brasileiras.

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