Folha de S. Paulo
Militares não dão golpe sozinhos, e parece
certo que Bolsonaro não precisa do apoio majoritário
Bolsonaro
vai dar um golpe? Quando? Como será? Ninguém tem respostas exatas a essas
questões por uma razão muito simples: o fator militar. É difícil avaliar a
extensão do respaldo fardado a Bolsonaro porque pouco se sabe sobre o que
acontece nos quartéis. Nem ele sabe ao certo. Se estivesse seguro quanto a uma
eventual retaguarda, talvez já tivesse arriscado um lance mais ousado, que
desse concretude à sua obsessão golpista.
Quando os fardados falam, por meio da imprensa, é essencial distinguir informação de contrainformação ou, simplesmente, blefe. Quase sempre, protegidos pelo “off the record” produzem versões e teorias da conspiração à vontade. Contribuem mais para adensar o nevoeiro do que para dissipá-lo. A bem da verdade, são treinados para isso.
Que algum suporte existe, é fato. Mal qual
seria o grau de participação e/ou de adesão de comandantes e comandados a uma
ruptura da legalidade? O bolsonarismo contaminou bolsões radicalizados ou já
tornou-se metástase fora de controle?
Dúvidas semelhantes se aplicam ao conjunto
das forças de segurança do país: polícias militares e civis dos estados, Polícia
Federal, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal. Para turvar ainda mais o
cenário, há as milícias, cevadas pela facilidade de acesso às armas, e que, no
Rio de Janeiro, travam sangrenta disputa por territórios.
Mesmo sem um quadro nítido do apoio armado
a Bolsonaro, o que parece certo é que ele não precisa do apoio majoritário, mas
apenas de setores dessas forças dispostos a fomentar ambiente de turbulência e
desordem pública que justifique medidas de força e exceção. Daí para a quebra
institucional, é uma canetada.
Militares não dão golpe sozinhos. O
presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), contribuiu com a marcha da insensatez, ao prolongar a
discussão sobre o voto impresso, levando-a para o plenário. Deu de presente a
Bolsonaro mais uma oportunidade de esticar a corda, desta vez, ameaçando com
desfile de tanques de guerra em Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário