quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Hélio Schwartsman – Conselho cooptado

Folha de S. Paulo

CFM ficou tão bolsonarista que bane maconha, mas legitima a cloroquina

Em janeiro de 2021, quando as principais associações médicas do planeta já haviam concluído que a cloroquina era ineficaz no tratamento da Covid-19, o então presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) escreveu um artigo na Folha em que dizia que a entidade, por "respeito absoluto à autonomia do médico" para tratar seu paciente, mantinha a possibilidade de os profissionais fazerem o uso "off label" da droga.

Em outubro de 2022, o mesmo CFM (a diretoria mudou, mas os conselheiros são os mesmos) baixou uma resolução que tira dos médicos a possibilidade de prescrever "off label" o canabidiol (CBD), um dos princípios ativos da maconha. A partir de agora, o CBD só pode ser receitado em duas situações muito específicas de epilepsia refratária a outros tratamentos, apesar de a molécula receber cada vez mais atenção da comunidade científica por seus efeitos benéficos em um amplo rol de doenças.

O leitor sagaz poderia se perguntar o que aconteceu com o "respeito absoluto à autonomia do médico" nesses quase dois anos, mas eu vou me restringir a algumas observações sobre desenhos institucionais. O do CFM é feito para não funcionar. O problema de base é que ele tem dupla natureza. É ao mesmo tempo uma entidade que zela pelos interesses da classe médica e uma autarquia com poderes normativos, inclusive o de arbitrar o que é ou não "científico".

Obviamente, o lado político-corporativista prevalece sobre o técnico. É com uma pauta quase sindical, não com a da excelência na pesquisa, que os conselheiros fazem campanha e são eleitos. O resultado é que se tornou temerário pôr os termos "ciência" e "CFM" na mesma frase. Basta ver que o conselho reconhece a homeopatia como especialidade médica. Pior, nos últimos anos, o CFM se tornou linha auxiliar do bolsonarismo, o que explica o fervor quase religioso com que ele bane uma molécula associada à maconha e legitima a cloroquina.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Repito o comentário que fiz ontem sobre o artigo de Ligia Bahia:
Este atual CFM é cúmplice de Bolsonaro na pandemia, é um pequeno grupo de médicos politiqueiros que não aceitaram as posições dos médicos especialistas e preferiram apoiar as posições bolsonaristas de minimizar os riscos causados pelo novo coronavírus, apoiando a prescrição de remédios ineficazes sob a argumentação da autonomia médica. Aceitaram seu usados pelo GENOCIDA e se beneficiam da proximidade com os poderosos do governo federal. Médico também pode ser canalha, e estes do CFM exageraram na sua dose de canalhice! Bando de incompetentes!