terça-feira, 25 de outubro de 2022

Merval Pereira - Tiro pela culatra

O Globo

Simone Tebet, Michele, Cármen Lucia, Marina Silva, Damares, as mulheres que mais têm influenciado a campanha no segundo turno

Entre as peculiaridades desta campanha eleitoral está o fato de as mulheres terem sido fundamentais para os candidatos que disputam o segundo turno. Bolsonaro levou à ribalta a primeira-dama Michelle e sua ex-ministra Damares. A primeira tem tido uma ação eficaz para a campanha do marido, em que pesem seus transes religiosos, mas Damares só tem trazido problemas quando se mete a denunciar aberrações sexuais com bebês, uma lenda urbana que não conseguiu provar, mostrando-se irresponsável.

Para Lula, entre as mulheres, destaca-se a ex-senadora e candidata derrotada à Presidência Simone Tebet. Ela tem dominado a campanha, influindo decisivamente e obscurecendo a presença do candidato a vice Geraldo Alckmin, considerado até então o grande trunfo de Lula para levar sua candidatura ao centro político. Pois Simone Tebet está lembrando aos eleitores desencantados que eles tinham uma boa candidata no primeiro turno.

Destemida, assertiva, com cabeça estratégica a ponto de ter sugerido (e ter sido acatada) que o PT desistisse da cor vermelha e usasse o branco para atrair eleitores de outras tendências. Outra mulher que tem se destacado na campanha petista é a ex-ministra do Meio Ambiente do PT Marina Silva, que levou propostas concretas num tema crucial para o futuro da humanidade, a preservação do meio ambiente, especialmente da Amazônia.

De maneira dramática e involuntária, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia, que se destaca pela defesa da liberdade de expressão, foi atingida por um dos mais grosseiros e impensáveis ataques verbais já ocorridos em campanhas eleitorais no país. O calão com que Roberto Jefferson a agrediu em vídeo na internet chocou a opinião pública e provocou reações indignadas dos mais diversos órgãos de representatividade da sociedade brasileira. Foi a reação acertada do ministro do STF Alexandre de Moraes, mandando prendê-lo em casa, que originou o caso mais grave até hoje nesta campanha presidencial, tão fora da curva e do tom.

Se a pesquisa do Ipec divulgada ontem não reflete o caso do fim de semana, envolvendo a tentativa de “suicídio pela polícia” de Jefferson, pior ainda para Bolsonaro, que aparentemente se livrou de diversos obstáculos graves, como o caso das meninas venezuelanas chamadas de prostitutas ou a restrição ao aumento do salário mínimo, mas ainda não das consequências do gesto tresloucado, insinuado mas não executado, de seu aliado que agora renega, diante da repercussão negativa.

O que aconteceu no domingo foi um absurdo total, uma demonstração de que o incentivo de Bolsonaro a que militantes armados reajam contra autoridades “em defesa da liberdade” leva a isso. O ato de Jefferson é um reflexo dessa política de estimular reações violentas contra as instituições e do armamento liberado sem restrições para quem quiser, a ponto de termos cerca de 1 milhão de armas nas mãos de colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), num país que não tem esses hábitos.

Como Bolsonaro tenta se desvincular da figura do ex-deputado, ligá-lo a Lula e defende os policiais atacados por Jefferson, a campanha deve ter alguma pesquisa indicando que o episódio não foi bom para o presidente. Bolsonaro tem a postura de defender policiais em qualquer circunstância, mesmo quando cometem alguma ilegalidade. Seria uma contradição não os defender agora.

Há especulação nos meios políticos de que Jefferson pode ter feito esse escarcéu todo justamente para prejudicar Bolsonaro, que se recusou a indultá-lo, como fez com o então deputado Daniel Silveira. Como este último estivesse condenado pelo STF a oito anos quando recebeu o indulto, e Jefferson, embora preso, ainda não, ele teria mandado emissários ao presidente pedindo o mesmo tratamento e não foi atendido. Nunca devemos esquecer que Jefferson era aliado de primeira hora do governo Lula, que foi até sua casa ouvi-lo cantar ópera, mas entregou o esquema do mensalão porque achou que o então ministro José Dirceu jogava a culpa da corrupção nos Correios no PTB.

Tudo é possível quando se lida com figuras como o antigo advogado de porta de cadeia que se transformou em líder político influente de diversos governos. Jefferson agora, comenta-se, promete contar tudo o que sabe, sentindo-se abandonado pelo governo Bolsonaro, que o classificou como “bandido”. O mais provável é que tenha tentado promover uma comoção nacional com seu “martírio” para ajudar Bolsonaro a virar o jogo. Foi um tiro que saiu pela culatra, para usar uma metáfora de agrado dos CACs.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

"obscurecendo a presença do candidato a vice Geraldo Alckmin"

"Bolsonaro levou à ribalta a primeira-dama Michelle e sua ex-ministra Damares.:

Suponhamos q alguém tenha obscurecido o Alckmin, Merval.

A quem as meninas micheque e doiDamares obscureceram na campanha do genocida?
Só pra saber.

Na verdade, ninguém obscureceu o Alckmin - é só a bílis do seu fígado.

ADEMAR AMANCIO disse...

A campanha na reta final.

Fernando Carvalho disse...

O fato da campanha da Frente Democrática não ter acionado mais o Alckmin foi simples burrice dos marketeiros. Tinham que ter colocado mais Alckmin e Marina falando, o que acertadamente Tebet está fazendo. O próprio Ciro estaria ajudando a democracia se aparecesse falando, mas nas próximas eleições Simone fará sombra sobre ele sem dúvida. Quanto as meninas venezuelanas. Dizem que quem refresca cu de pato é lagoa. Neste caso tanto Alexandre, quanto Merval e até Luciano Huck contribuíram para refrescar o cu do pato.