quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Hélio Schwartsman - Capitólio tupiniquim

Folha de S. Paulo

Silêncio vem servindo de senha para que apoiadores radicais promovam bloqueios em estradas

Jair Bolsonaro tenta emular os passos de Donald Trump. Ele esperou quase 48 horas para se pronunciar sobre o pleito e, quando finalmente falou, agradeceu os votos recebidos e reclamou de uma suposta injustiça do sistema eleitoral. Não parabenizou Lula nem reconheceu explicitamente a derrota. Fê-lo apenas indiretamente, indicando que jogaria nas quatro linhas da Constituição. Também autorizou seu ministro da Casa Civil a dizer que daria início ao processo de transição.

Se fosse só isso, poderíamos classificar a atitude como uma infantilidade sem maiores consequências. Denotaria uma tremenda falta de educação e de compromisso com os ritos da democracia, mas Bolsonaro já fez coisas piores. Se ele não quiser entregar a faixa a Lula, sua ausência não será lamentada. João Figueiredo, o último ditador militar, também saiu pela porta dos fundos.

Há motivos, porém, para recear que o comportamento de Bolsonaro tenha configurado um ensaio de sublevação, uma tentativa brancaleônica de reverter o resultado da eleição. As longas horas de silêncio do presidente serviram de senha para que uma ala radical de seus apoiadores promovesse bloqueios em estradas.

O que ele precisaria ter feito agora seria condenar com veemência esse movimento e exigir sua imediata cessação. O que vimos, porém, foi uma leve admoestação, que alguns fanáticos podrão ler até como estímulo, já que ele justificou a motivação dos baderneiros.

É a versão tupiniquim da invasão ao Capitólio, em que o mandatário, por omissão ou estímulo direto, cria uma situação de desordem, na esperança de que ela sirva de pretexto para algum tipo de intervenção com desfecho desconhecido.

Bolsonaro, porém, se viu isolado e teve de recuar, exatamente como ocorrera com Trump em 2021. Bolsonaro não recebeu apoio nem dos militares nem de seus principais aliados políticos. Aparentemente, só a milícia rodoviária federal estava com ele.

 

3 comentários:

Fernando Carvalho disse...

(...) Como estamos falando em golpe. A própria eleição de Bolsonaro já foi um golpe de Estado. Ou alguém concebe Joe Biden no dia em que tomou posse agradecer a um general o fato de ter sido eleito? A primeira coisa que Bolsonaro fez ao sentar o traseiro na cadeira presidencial foi despachar os médicos cubanos de volta para casa com isso prejudicando os brasileiros pobres que usam o SUS. Com isso reforçou o espantalho do comunismo, tão caro ao projeto de seu golpe.
Todos sabem que o modelo de Bolsonaro é Donald Trump. Que ao perder as eleições tentou o assalto ao Capitólio. Provavelmente Tico e Teco os dois neurônios de Bolsonaro conhecem a célebre frase de Karl Marx "A história quando se repete é como tragédia ou como farsa". Mas Bolsonaro prepara a Operação Capitólio Caipira.(...)
A tentativa de golpe de Donald Trump fracassou. Mas Bolsonaro tem assessores melhores que os de Trump. A principal razão para o fracasso de Trump foi a falta de apoio militar. Já li um analista daqui deste blog dizendo que Bolsonaro já conta com o apoio do Exército. Certamente a famosa farra dos marechais, evento que contemplou centenas de oficiais superiores do Exército, Marinha e Aeronáutica com pensões vitalícias transmissíveis a seus descendentes (até o coronel torturador Embaçado Ustra foi lembrado e deixou pensão para suas filhas. Cada uma recebe mensalmente R$15.307,90). Desse modo, a elite de nossas FFAA foram subornadas com um ano de antecedência. Imaginemos a cabeça de um desses oficiais: "Bolsonaro deu um golpe em nosso nome. Agora vou eu retirá-lo do poder, devolver a Lula... e minha pensão de marechal"? Acho que Lula e Alckmin deveriam avisar a esses marechais de araque que eles apenas deixarão de receber. Mas o que receberam não terá que ser devolvido. Tem mais, quantos militares Bolsonaro colocou em cargos civis no Governo? Só de cargos DAS Direção e Assessoria Superior e FCPE Função Comissionada do Poder Executivo foram 742 cargos ao todo. Cargos de natureza especial considerados de primeiro e segundo escalões, a presença de militares passou de seis para catorze.Trabalho do TCU Tribunal de Contas da União, indicou o crescimento significativo do número de militares em cargos civis no governo Bolsonaro. Segundo o TCU são mais de 6.000 em atuação no governo um movimento de militarização do serviço público. Segundo a Folha de S Paulo, Bolsonaro multiplicou por dez o número de militares no comando de empresas estatais. Ministros do STF já criticaram essa excessiva militarização do Governo Federal.
Importante papel para o projeto do golpe cabe aos caminhoneiros na logística da insurreição bolsonarista. Foram os caminhoneiros que ocuparam as vias de acesso à Esplanada dos Ministérios durante a presepada do 7 de setembro do ano passado. Desnecessário dizer que os mil reais da PEC Kamikaze destinados aos caminhoneiros é para subornar a categoria.
(...) Olavo foi o guru da famiglia Bolsonaro. No Rio de Janeiro a família Bolsonaro é o ponto alto de uma linha de evolução histórica que teve início com os Esquadrões da Morte e culminou com o Escritório do Crime. Isso está no livro: A República das Milícias de Bruno Paes Manso.
(...) Outro fato novo cogitado seria um apagão provocado na hora da contagem dos votos. E quando esse fato estiver sendo consumado as ruas serão tomadas pelos bolsonaristas das esquinas. Em linhas gerais essa será a Operação Capitólio Caipira.

Anônimo disse...

Bolsonaro talvez saia pela porta dos fundos do Palácio, mas vai entrar pela porta da frente da PENITENCIÁRIA!

ADEMAR AMANCIO disse...

Bolsonaro tinha medo de perder,justamente,por causa da cadeia.Que Deus lhe dê paciência e saúde,não desejo mal a ninguém,sofrer é ruim demais.